Frio e teletrabalho provocam falhas de electricidade nas zonas urbanas
EDP Distribuição diz que o trabalho remoto está a contribuir para alterar o padrão de consumo. Rede de baixa tensão está a ser mais sobrecarregada e tem falhado na Grande Lisboa.
As temperaturas baixas da última semana têm sido uma dor de cabeça para a generalidade do país, mas há quem tenha tido de somar ao desconforto do frio o transtorno de ficar às escuras, em particular na zona da Grande Lisboa.
Nestes últimos dias “têm existido algumas interrupções no fornecimento regular de energia relacionadas com a descida abrupta das temperaturas”, confirmou ao PÚBLICO a EDP Distribuição.
“As redes de baixa tensão de zonas urbanas” têm sido as mais afectadas, disse fonte oficial da concessionária das redes de distribuição eléctrica de alta tensão, de média tensão e de baixa tensão – sendo esta última a que leva a electricidade às casas portuguesas.
As situações de interrupção “também poderão estar a ser potenciadas por uma alteração do padrão de consumo da energia eléctrica, resultante do incremento do teletrabalho”, admitiu a empresa.
Os efeitos têm-se feito notar em diversos pontos da Área Metropolitana de Lisboa, havendo relatos de falhas de fornecimento ao longo da última semana nas zonas da Amadora, Sintra e Loures, por exemplo.
Mas as interrupções dos últimos dias não têm ocorrido apenas na zona da Grande Lisboa. Alguns habitantes da União de Freguesias de Trouxemil e Torre de Vilela (Coimbra) tiveram uma época festiva particularmente azarada, com quebras no fornecimento quer na noite de Natal, quer na noite de passagem de ano, entre as 19h00 e as 22h30, como relata o jornal O Despertar.
Com os alertas dos meteorologistas de que o frio deverá aumentar na próxima semana, e com o país na expectativa de que sejam ditadas medidas mais restritivas de combate à pandemia a partir de terça-feira, não é de descartar que uma ainda maior concentração de pessoas em trabalho remoto nas zonas urbanas possa continuar a afectar o normal fornecimento de electricidade.
Esta semana, a REN (a empresa que gere o sistema eléctrico) assinalou que, na terça-feira, dia 6 de Janeiro, tanto o consumo de electricidade quanto o de gás natural atingiram novos máximos históricos com os portugueses a tentarem amenizar os efeitos da massa de ar frio proveniente do Norte da Europa.
“Na sequência de um conjunto de dias particularmente frios, os consumos de gás natural e electricidade em Portugal atingiram máximos tanto a nível de pico como de consumo diário”, revelou a empresa.
O novo pico de consumo de electricidade foi atingido às 20h00 de dia 6 de Janeiro, com 9546 megawatts (MW), que ultrapassaram os 9403 MW registados a 11 de Janeiro de 2010, quando uma vaga de frio árctico que atingiu a Europa fez os termómetros descerem a pique e também levou à queda de neve em vários pontos do país.
A EDP Distribuição diz que “tem as suas equipas operacionais e de contact center [atendimento ao cliente] reforçadas, de modo a assegurar a resolução, da forma mais célere possível, de eventuais avarias relacionadas com o incremento dos consumos que possam ocorrer”.
Segundo a empresa presidida por João Torres (que até ao final deste mês estará em processo de mudança de nome para E-Redes, por imposição da entidade reguladora da energia), a rede nacional de distribuição, nos diferentes níveis de tensão, “foi concebida, projectada e construída para funcionar em qualquer regime de carga”.
Por isso, garante a EDP Distribuição, está “preparada para acomodar o aumento dos consumos previstos para esta altura do ano”.
O frio está para durar. As previsões apontam para que a segunda e a terça-feira da próxima semana sejam dias particularmente difíceis e que os valores mais baixos sejam sentidos nas regiões do interior, em especial do interior de Trás-os-Montes, Beira Alta, na região da Serra da Estrela e alguns locais do interior do Alentejo.
Nestes dias (11 e 12 de Janeiro) quase todo o território terá valores baixos de temperatura mínima, que podem ser negativos, chegando a -1 ou -2 graus nas regiões próximas do litoral e -6 ou -7 graus nas regiões do interior.
Apenas nalguns locais do litoral da região Sul, como o Algarve ou a Costa Vicentina, se esperam valores ligeiramente mais elevados.