Alemanha conta mais de 300 extremistas nas suas forças policiais

Ministro do Interior sublinha que se trata de uma pequena minoria. Outros políticos pedem que a questão seja estudada a fundo.

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Polícia numa manifestação de extrema-direita, em Berlim Reuters/CHRISTIAN MANG

Há centenas de casos suspeitos de extremismo de direita nas forças de segurança da Alemanha, mas são uma pequena minoria: foi assim que o ministro do Interior da Alemanha apresentou o resultado de um relatório quando se avolumam casos de suspeitas de envolvimento de polícia em actividades de extrema-direita - com moradas privadas de pessoas ameaçadas a serem retiradas de computadores da polícia, por exemplo.

Na polícia, serviços secretos e no aparelho de segurança em geral foram encontrados 319 casos de extremismo de direita, segundo o relatório, enquanto no exército houve 1064.

Para o ministro do Interior, que apresentou o que foi o primeiro relatório nacional deste género, “o resultado é claro: temos um pequeno número de casos”, declarou. “Isto quer dizer que a esmagadora maioria dos que trabalham nos serviços de segurança, mais de 99%, observam a Constituição. Isto também quer dizer que não temos um problema estrutural com extremismo entre as forças de segurança, quer a nível nacional quer a nível regional”.

Apesar disso, Seehofer disse que “cada caso é uma vergonha”, notando ainda que estas forças têm como função “dar o exemplo”.

O relatório foi pedido pelo ministro após o assassínio de um político pró-refugiados, Walter Lübcke, em Kassel, e de um ataque a uma sinagoga em Halle, no ano passado, e foi baseado numa análise de todos os casos, confirmados e suspeitos, em todas as forças uniformizadas nos 16 estados federados do país entre 2017 e Abril de 2020.

O também conservador Mathias Middleberg, responsável pela pasta do Interior do grupo parlamentar da CDU/CSU (União), comentou que apesar de os números serem baixos (num universo de 300 mil pessoas), “já não se trata de casos isolados”, disse à agência de notícias alemã DPA. Por isso, defendeu um estudo destes casos, incluindo “como e quando estas pessoas se radicalizaram, como deve a questão ser tratada na formação inicial e contínua, e se é preciso melhorar os mecanismos de detecção”.

Dos Verdes, Irene Mihalic voltou a criticar a resistência do ministro do Interior em fazer um estudo sobre o extremismo e racismo na polícia com uma profundidade que este relatório não tem. “Não consigo perceber de maneira nenhuma esta hostilidade em relação à ciência”, comentou, acrescentando que era melhor partir do princípio de que “estes números já estão desactualizados”.

O investigador de Criminologia Joachim Kersten classificou o relatório como um passo na direcção certa, mas sendo pouco mais do que um elencar de casos conhecidos, defendeu que é preciso ir mais fundo. Há, defendeu, “uma espécie de vergonha patológica” em relação à questão, mas “se a vergonha leva apenas a que as coisas sejam escamoteadas e que se negue e se olhe para o outro lado, então cria-se este tipo de problemas”, alertou, citado pelo Washington Post.

Os problemas com polícias com tendências nazis eram, nos anos 1960 e 70, nos cargos médios e de liderança, agora existem nas bases, acrescentou.

Alguns estados federados, diz o jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, estão a considerar levar a cabo estudos deste género nas suas próprias forças.

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