Supremo ordena detenção de Uribe, colombianos comemoram e protestam
Ex-presidente que teve uma política agressiva contra as FARC e outras guerrilhas marxistas ainda divide o país. Está a ser investigado num caso que pode valer pena de 12 anos de prisão.
O Supremo Tribunal da Colômbia ordenou que o ex-presidente Álvaro Uribe fosse posto em prisão domiciliária, enquanto prossegue um inquérito por fraude e manipulação de testemunhas. No Senado, os seus apoiantes, propuseram convocar uma Assembleia Constituinte, para fazer uma ampla reforma da justiça colombiana.
Uribe, que foi mentor do actual Presidente, Ivan Duque, e que agora é senador, tem defendido repetidamente a sua inocência, ao mesmo tempo que põe em causa a independência do Supremo. Mas é uma figura determinante na vida política colombiana, dividindo opiniões como um profundo desfiladeiro. Os juízes, no entanto, decidiram de forma unânime, concluindo que existia potencial para haver obstrução da justiça se permanecesse em liberdade enquanto decorre o inquérito judicial.
“O senador Uribe será confinado à sua residência, a partir da qual poderá continuar a montar a sua defesa”, diz uma declaração emitida pelo Supremo Tribunal. É a primeira vez que o Supremo ordena a detenção de um ex-presidente na Colômbia.
“É um facto político transcendental, porque Uribe foi muito popular quando governou, e manteve-se como uma força politicamente válida”, comentou ao jornal colombiano El Tiempo o politólogo Yann Basset, da Universidade del Rosario. Fundador do partido Centro Democrático, converteu-se em 2018 no senador mais votado da história colombiana. Esta decisão judicial fragiliza o partido de Governo e deixa-o como que órfão da sua figura tutelar.
Para a oposição, no entanto, foi motivo de festa. Celebrou-se nas ruas de Bogotá a detenção do ex-presidente, enquanto apoiantes de Uribe foram para as ruas de carro, para protestar contra a decisão do Supremo.
Os media locais dizem que Uribe está na sua casa de campo na província de Cordoba. “A privação da minha liberdade causa-me profunda tristeza, pela minha mulher, pela minha família, e pelos colombianos que ainda acreditam que fiz algo de bom pelo país”, escreveu Uribe no Twitter antes de o tribunal ter divulgado a sua decisão.
O caso pelo qual Uribe está a ser investigado resulta de uma longa disputa entre o ex-presidente de direita e o senador de esquerda Ivan Cepeda. Em 2012, Uribe acusou Cepeda de estar a organizar um golpe para o ligar aos grupos paramilitares de extrema-direita. Mas em 2018, o tribunal considerou que a informação recolhida por Cepeda junto de ex-membros destes grupos era parte do seu trabalho, e que não tinha pago ou pressionado ex-paramilitares.
Numa reviravolta completa, os juízes consideraram que era Uribe quem tinha agido mal, e que ele ou aliados seus tinham manipulado testemunhas. Uribe e o seu advogado, Alvaro Hernan Prada, enfrentam penas de prisão até 12 anos.
Uribe, que nunca se mostrou satisfeito com os termos do acordo de paz com as FARC assinado pelo Presidente Juan Manuel Santos em 2016, montou uma ofensiva agressiva contra as guerrilhas marxistas durante a sua presidência, de 2002 a 2010. Tanto ele como familiares seus foram acusados de terem ligações com os grupos paramilitares (de direita). O seu irmão Santiago enfrenta uma acusação por homicídio.
Os grupos paramilitares foram criados na década de 1980 para combater pelas armas as guerrilhas marxistas, e que foram financiados por traficantes de drogas, rancheiros e grandes proprietários rurais. Cometeram massacres, violaram e obrigaram populações a fazer deslocações em massa – usaram o terror como arma.
O Presidente Ivan Duque, no entanto, permanece leal ao seu mentor, defendendo a sua inocência.