Jovens foram os que mais começaram a tomar ansiolíticos e antidepressivos durante a pandemia
Das pessoas que estão a tomar ansiolíticos e antidepressivos, 14% começou a fazê-lo devido à situação gerada pela covid-19. São conclusões do Barómetro Covid-19 da Escola Nacional de Saúde Pública.
Das pessoas que estão actualmente a tomar ansiolíticos e antidepressivos, 14% começaram a fazê-lo durante este período da pandemia. E 9% aumentaram a dose em relação ao que já faziam. Esta é uma das conclusões do questionário Opinião Social, do Barómetro Covid-19 criado pela Escola Nacional de Saúde Pública, que mostra ainda que são as mulheres que mais tomam este tipo de medicação e foram os mais jovens os que mais iniciaram a toma destes medicamentos neste período.
Segundo os resultados do inquérito, publicados este sábado no site da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), 83% dos respondentes reporta não ter tomado nenhum destes medicamentos durante o período de covid-19. Mas das pessoas que dizem estar a tomar actualmente ansiolíticos e antidepressivos, “14% iniciou a toma durante o período de covid-19, 9% aumentou a dosagem e 77% não alterou a forma como o faz”.
“São as mulheres que mais tomam ansiolíticos e antidepressivos (19% comparativamente a 12% dos homens). Quando analisado o consumo por escalão etário, verifica-se que são os idosos quem mais consome (34% dos idosos, 23% – 46-65 anos; 14% – 26-45 anos; 9% – 16-25 anos). De referir ainda que são os mais jovens (16-25 anos) quem mais refere ter iniciado a toma durante este período e os idosos quem mais aumentou a dosagem”, conclui o inquérito.
O Barómetro Covid-19 da ENSP dedicado à opinião social já vai na quinta semana e conta com mais de 170 mil questionários preenchidos. Os dados apresentados dizem respeito, na sua maioria, às respostas reportadas entre os dias 10 e 24 de Abril.
Quase 60% sem consulta
De acordo com esta análise, e quando questionados sobre a necessidade de uma consulta médica durante o período de covid-19, 75,3% dos 4991 respondentes referiu não ter necessitado enquanto 24,7% responderam que sim. “Das 1234 pessoas que reportaram ter necessitado de consulta médica, mais de metade (57,6%) não a teve, ou porque os serviços a desmarcaram (35,2%), ou porque o próprio preferiu não ir (22,4%). Os restantes inquiridos tiveram a consulta, quer presencialmente (21,2%), quer à distância (21,2%)”.
O estudo refere que 73% dos idosos não tiveram consulta, dos quais 70% foi porque os serviços desmarcaram e 30% por decisão própria. “Esta é uma conclusão importante, uma vez que se trata de um grupo de risco para a covid-19 e é natural que tenham aderido mais às medidas de confinamento. Não nos podemos é esquecer que é precisamente este grupo quem mais precisa de cuidados de saúde”, diz Sónia Dias, coordenadora científica do Opinião Social, na nota da ENSP.
Numa análise em função do escalão de rendimento, “observa-se um gradiente social em que, tendencialmente, é nos escalões mais baixos que se verificam proporções maiores de pessoas que, tendo necessidade, não tiveram consulta”. Quanto à autopercepção de gravidade do motivo da consulta, 62% das pessoas que foram presencialmente às consultas disseram considerar o motivo grave, comparativamente a 13% dos que decidiram não ir e que consideravam igualmente o motivo grave.
Das 186 pessoas que disseram ter dois ou mais problemas de saúde e que precisaram de consulta, 62% não a tiveram, comparativamente a 53% das que têm apenas um problema de saúde. “Numa análise mais aprofundada sobre as pessoas com morbilidade múltipla, 71% das que não tiveram consulta foi por desmarcação por parte dos serviços e 29% foi por iniciativa própria”, refere o inquérito.
As especialidades de psiquiatria, reumatologia e endocrinologia foram “as que realizaram mais frequentemente consultas à distância” e pediatria, ortopedia e ginecologia/obstetrícia as que realizaram mais consultas presenciais. Oftalmologia, dermatologia e otorrinolaringologia foram as especialidades que apresentaram mais desmarcações, quer tenha sido por iniciativa do próprio ou do serviço de saúde. Nos centros de saúde, realizaram-se 56% das consultas com os médicos de família, enquanto 21% foram desmarcadas pelo próprio e 23% pelo serviço.
Sobre a necessidade de ir à urgência, 94,9% refere não ter necessitado e 5,1% ter necessitado. “Das 254 pessoas que reportaram ter sentido esta necessidade, mais de um terço decidiu não ir (34%). São os idosos (45,5%) quem mais reporta não ter ido às urgências, em comparação com as pessoas de idades inferiores (29,8% dos 26-45 anos e 28,9% dos 46-65 anos).”
“Os dados revelam também que 80% das 166 pessoas que reportaram ter ido às urgências consideravam o motivo grave. No entanto, dos 82 respondentes que decidiram não ir, 31 percepcionaram que o motivo era grave. Ainda entre as pessoas que reportaram não ter ido às urgências, os problemas de saúde mais referidos foram doença cardíaca, diabetes e doença respiratória”, salienta o estudo, que destaca “um crescimento do nível de confiança das pessoas no que diz respeito à capacidade de resposta dos serviços de saúde à covid-19”.