OMS pede 600 milhões de euros para combater novo coronavírus
O nome do novo coronavírus é temporariamente 2019-nCoV, mas uma nova designação será anunciada em breve.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que são necessários 675 milhões de dólares (cerca de 613 milhões de euros) para aplicar um plano global que combata vírus nos próximos três meses, anunciou-se esta quarta-feira em conferência de imprensa. A OMS também revelou que especialistas se reunirão em Genebra (na Suíça) a 11 e 12 de Fevereiro para definir prioridades na investigação e desenvolvimento de medicamentos, diagnósticos e vacinas. Até agora, há quase 25 mil pessoas infectadas e quase 500 mortes causadas por este vírus.
Por agora, a OMS pediu um fundo de 675 milhões de dólares para combater o vírus no mundo e na China entre Fevereiro e Abril. Desses, 60 milhões de dólares (cerca de 54 milhões de euros) serão para as operações da OMS e o restante para os países que estão especialmente em risco. Este é o orçamento do Plano Estratégico de Preparação e Resposta, que inclui actividades e recursos para organizações internacionais combaterem o novo coronavírus. O objectivo é limitar a transmissão entre pessoas, sobretudo nos países mais vulneráveis, assim como identificar, isolar e cuidar precocemente dos doentes ou ainda minimizar o impacto económico e social.
“A minha maior preocupação é nos países que hoje não têm sistemas a funcionar para detectar pessoas contagiadas pelo vírus”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus. “É necessário apoio urgente para reforçar sistemas de saúde que detectem, diagnostiquem e protejam mais transmissão entre humanos e profissionais de saúde.” Tedros Adhanom Ghebreyesus, director-geral da OMS, também disse que “muito em breve” uma equipa da OMS irá à China.
“A eficácia da resposta ao surto depende das medidas de preparação”, disse por sua vez Mike Ryan, director do programa de emergência da OMS. “Esta é a razão por estarmos a procurar recursos para salvaguardar os países mais vulneráveis.”
Uma das grandes questões é também o avanço nos tratamentos para o novo coronavírus. Até agora, não há qualquer fármaco específico ou vacina contra o vírus. Devido a algumas especulações sobre o desenvolvimento de novos tratamentos, a OMS fez questão de reforçar esta semana que “ainda não há terapias eficazes contra este 2019-nCoV” e que vários especialistas vão reunir-se este mês para estabelecer as prioridades desses avanços.
Mesmo não havendo um tratamento específico, o Governo chinês tem sugerido fármacos antivirais usados para tratar o VIH, nomeadamente o lopinavir e o ritonavir, e a inalação de uma dose de interferão-alfa nebulizado duas vezes por dia. A empresa Gilead Sciences também está a testar uma terapia antiviral para o vírus do ébola com doentes infectados pelo novo coronavírus.
Quanto à vacina, cientistas na Austrália desenvolveram uma versão do vírus cultivada em laboratório, o que pode ser um passo importante no desenvolvimento de uma vacina. Também a Aliança para Inovações de Prontidão para Epidemias (CEPI, na sigla em inglês) já anunciou que três diferentes equipas de investigação estão a desenvolver vacinas e que o objectivo é que comecem em Junho os ensaios clínicos.
O ministro da saúde russo, Mikhail Murashko, também disse esta quarta-feira que os cientistas na Rússia esperam levar, pelo menos, entre oito e dez meses a desenvolver uma vacina para o vírus. “Hoje o processo de desenvolver uma vacina não se faz num curto período de tempo. Uma vacina está a ser desenvolvida em pelo menos de oito a dez meses”, disse, citado pela agência noticiosa russa Interfax. Na semana passada, a Rússia tinha anunciado que estava a trabalhar numa vacina com a China.
Um novo nome
A escolha de um novo nome para este vírus – temporariamente designado 2019-nCoV pela OMS – pode parecer algo menor. “O nome [oficial] do novo vírus está com muito atraso porque o foco até agora tem sido na resposta à saúde pública”, diz Crystal Watson, professora do Centro Johns Hopkins para a Segurança da Saúde (EUA), citada no site da BBC. Contudo, há algumas razões que fazem com que a escolha do nome se torne mais prioritária. “Quando não temos um nome oficial, há o perigo de as pessoas comecem a usar termos como ‘vírus chinês’ e que possam criar uma reacção negativa contra certas populações.”
A escolha do nome está a cargo do Comité Internacional de Taxonomia de Vírus (ICTV, na sigla em inglês). De acordo com as orientações do comité, o nome não deve incluir localizações geográficas, nomes de pessoas, o nome de um animal ou tipo de comida, nem referências a uma cultura ou indústria. Esse nome deve ser curto e descritivo, como SARS (síndrome respiratória aguda grave). Um grupo do ICTV já está a deliberar sobre o novo nome.
Os nomes oficiais podem tornar-se também um problema. Aliás, em 2015, OMS criticou o nome MERS (síndrome respiratória do Médio Oriente), uma vez que podia provocar, por exemplo, uma reacção negativa contra membros de comunidades religiosas e étnicas.
Ainda há muito a desvendar sobre o vírus, mas um dos dados que se pensam estar já adquiridos é o que a transmissão pode ocorrer no período antes da manifestação dos sintomas. Inicialmente, uma das provas mais fortes a favor dessa hipótese vinha de uma mulher chinesa que tinha tido uma reunião em Munique: teria contagiado outras pessoas e que só teria tido sintomas dias depois. Esta situação foi publicada na revista científica The New England Journal of Medicine. Contudo, os investigadores apenas se tinham baseado nos relatos dos doentes alemães. O Instituto Robert Koch, a agência de saúde pública alemã, e a Autoridade de Saúde e Segurança Alimentar do estado da Baviera falaram com a doente chinesa e foram agora informados que ela ainda teve sintomas durante a sua estadia na Alemanha. Apesar destas novas informações, outros dados fundamentam a hipótese que a transmissão assintomática ocorre.
A história de um médico
Esta quarta-feira foi ainda anunciado o caso da pessoa mais nova infectada com o novo coronavírus. Os órgãos de comunicação social chineses noticiaram que um bebé foi diagnosticado com o vírus apenas 30 horas depois de ter nascido, refere-se no jornal inglês The Guardian. De acordo com a televisão estatal chinesa CCTV, o vírus tinha sido detectado na mãe do bebé antes do parto. Esta quarta-feira também se confirmou mais quatro casos em Singapura, incluindo num bebé com seis meses.
Ainda sobre a transmissão do vírus, veio a confirmar-se na última semana que um médico que lançou um alerta sobre o coronavírus também está infectado. A história deste médico oftalmologista, Li Wenliang, começou a 30 de Dezembro quando escreveu uma mensagem no seu grupo de amigos da faculdade. Nessa mensagem, referia que no seu hospital estavam sete doentes com sintomas semelhantes aos da SARS. Pedia ainda que os seus amigos e as suas famílias tivessem cuidado.
Como a mensagem acabou por se tornar viral, a polícia acusou-o de espalhar rumores, o que podia levá-lo à prisão durante sete anos. De acordo com o jornal espanhol El País, outros sete médicos receberam a mesma advertência. O médico acabou por ter de assinar uma declaração em que assumia a sua falha e prometia não voltar a fazer o mesmo. Poucos dias depois, acabou por ficar contagiado pelo novo coronavírus, depois de ter tratado de um doente.
O novo coronavírus ainda não chegou a África, mas os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças de África já activaram o seu centro de operações de emergência para enfrentar o vírus e estão organizar um workshop no Senegal para 15 países africanos.
Uma ala de isolamento já está pronta no hospital de Cartum, no Sudão. Laboratórios no Senegal, Nigéria, Gana, África do Sul, Madagáscar ou na Serra Leoa já têm os equipamentos necessários para detectar o vírus. Os passageiros que chegam aos aeroportos dos Camarões ou da Gâmbia estão a ser monitorizados para a febre e outros sintomas virais. Já a República Democrática do Congo tem impedido os seus cidadãos de viajar para a China. O Burkina Faso pediu aos cidadãos chineses para adiarem as suas viagens. Já o Quénia, o Ruanda e a Tanzânia suspenderam os voos para a China.