Barnier com novo mandato para negociar com Boris Johnson

Líderes europeus confirmaram a nomeação do negociador do “Brexit” para conduzir as discussões com vista ao estabelecimento de uma parceria económica e política com Londres. O calendário é um de muitos desafios.

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Michel Barnier mantém-se como negociador da UE FRANCOIS LENOIR/Reuters

Horas depois de o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, ter conseguido nas urnas uma carta-branca para retirar o Reino Unido da União Europeia, os outros 27 chefes de Estado e de governo confirmavam, no papel, a nomeação do seu negociador para o “Brexit”, Michel Barnier, para conduzir as discussões com vista à assinatura de um acordo de cooperação económica e política “o mais ambicioso possível”.

“O Conselho Europeu congratula-se com a decisão da Comissão de voltar a nomear Michel Barnier para as negociações sobre as futuras relações” com o Reino Unido, escreveram os líderes nas conclusões da reunião do Conselho Europeu. Os governantes da UE convidaram a Comissão a apresentar “um projecto de mandato abrangente” para a negociação da parceria, “logo após a saída” do Reino Unido, que previsivelmente acontecerá no próximo dia 31 de Janeiro.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, adiantou a fórmula que pretende aplicar no acordo de comércio com Londres: “Zero tarifas, zero quotas e zero dumping”, num triângulo que Bruxelas espera que venha a ser equilátero. Mas a negociação extravasa as questões meramente comerciais, tornando a geometria variável e elevando a dificuldade do desafio com que se deparam os dois lados. “O calendário que temos pela frente é muito, muito curto. Corremos o risco de nos confrontar com um novo precipício se não chegarmos a acordo”, lembrou.

Segundo o primeiro-ministro, António Costa, com o processo de divórcio já concluído, chegou o momento para “estabelecer a relação futura, ou se quiser a relação de poder paternal”, comparou. Fundamental para o sucesso da nova fase negocial, que Costa e os outros líderes reputaram como “verdadeiramente importante”, será o quadro de estabilidade que a retumbante vitória eleitoral de Boris Johnson veio garantir. “Acabou-se a desculpa de que não há maioria em Londres para fazer nada. Agora só é preciso que se cumpra o que foi prometido na campanha”, comentou o primeiro-ministro do Luxemburgo, Xavier Bettel.

Apontando a nova maioria confortável do Partido Conservador em Westminster, o presidente do Conselho Europeu manifestou a sua esperança de que “a votação no Parlamento britânico para ratificar o acordo de saída ocorra o mais brevemente possível”, e garantiu que do lado de Bruxelas estão reunidas todas as condições para “iniciar com serenidade e tranquilamente, mas com grande determinação, as negociações sobre a relação futura”. 

Como lembrou Charles Michel, a União Europeia identificou há muito as suas linhas vermelhas. “A integridade do mercado único é uma matéria muito importante para nós”, disse. Para o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, há que assegurar “critérios mínimos” e garantir a igualdade concorrencial (level playing field).

O Presidente francês concorda. “Se queremos ter um acordo comercial ambicioso, precisamos de ser ambiciosos na convergência de regras”, defendeu Emmanuel Macron. A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, mencionou como uma prioridade negocial o acesso dos navios europeus às águas de pesca do Reino Unido. “Sem dúvida que esta é uma matéria que tem que ser rapidamente resolvida após o ‘Brexit’”, considerou.

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