Portugal, uma ode ao interior adormecido

A leitora Teresa Mineiro defende que é tempo de redescobrir o interior de Portugal. “Pergunto-me quanto tempo faltará para que esta zona do país ganhe o seu devido reconhecimento”.

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Uma das minhas maiores paixões é mergulhar no desconhecido, viajar pelo mundo. Adoro tirar fotos em locais invulgares e encontrar novos caminhos, rotas alternativas, novas culturas e pessoas.

Entre uma viagem de dois meses (que me levou do Médio Oriente ao Sudoeste asiático, com uma passagem pela índia), e uma semana no Sul de Itália, senti que devia dar ao meu país um bocadinho de atenção. Por isso escolhi a zona da Guarda e o norte de Castelo Branco, as suas aldeias e vilas com castelos quase milenares, que remontam a tempos de reis e fronteiras belicosas, para passar três dias.

O que encontrei foi absolutamente encantador, castelos bem conservados, vistas maravilhosas, aldeias charmosas, com uma harmonia excepcional. As antigas fachadas são extremamente bem cuidadas. A preocupação estética chega mesmo a pequenos detalhes, como os números das casas e a sinalética com os nomes das ruas, pintadas à mão sobre pedra. Pormenores que criam um todo e que deveriam servir de modelo para muitas outras cidades e localidades por Portugal fora. Pequenos reinos encantados. 

Durante toda a viagem cruzei-me apenas com uma família norte-americana, um pequeno grupo de espanhóis e um casal asiático. Onde estavam os outros turistas, portugueses e estrangeiros? Visitando sozinha estes locais, senti-me uma verdadeira exploradora. E note-se que a lista de sítios para visitar é bem extensa: de Sortelha, com as suas casinhas em pedra, protegidas por muralhas, no topo duma colina, ao castelo do Sabugal, com escadarias que levam a alturas vertiginosas, passando pela vila de Almeida, com a sua fortaleza de planta estrelada.

A lista continua, e a cada paragem, um novo castelo, uma nova vila, um novo tesouro, deserto, só para mim. Figueira de Castelo Rodrigo, Almendra, Castelo Melhor, Trancoso, com as suas ruas inundadas por hortênsias, Belmonte, terra natal de Pedro Álvares Cabral e Monsanto, “a aldeia mais portuguesa de Portugal”, um pouco a sul.

Então, porque será que todas estas gemas polidas e intensamente reluzentes estavam vazias em época alta? Um dos motivos poderá ser a oferta de alojamento, por ser verdadeiramente escassa e bastante obsoleta, o que fez com que acabasse por pernoitar junto à fronteira, em Espanha. Pergunto-me quanto tempo faltará para que esta zona do país ganhe o seu devido reconhecimento. É que não só estes locais são fascinantes, como também são um exemplo perfeito do respeito pela história do nosso antiquíssimo país.

Apesar de ter sido uma oportunidade maravilhosa, poder deambular tranquilamente sem avistar vivalma, espero que mais gente queira e possa apreciar esta parte de Portugal, esquecida, tão serena quanto um vulcão que dorme

Teresa Mineiro – site

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