Vitória da oposição em Budapeste é modelo para lutar contra Orbán em 2022

Gergely Karacsony ganhou as eleições municipais na capital húngara e o Fidesz perdeu o controlo de dez das maiores cidades do país. “É a primeira racha no sistema de Orbán”, diz um analista.

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Gergely Karacsony , o novo presidente da câmara de Budapeste Bernadett Szabo/REUTERS

As eleições para a câmara municipal e Budapeste foram o maior revés eleitoral de Viktor Orbán em uma década, com a vitória de Gergely Karacsony, o candidato apoiado por todos os partidos da oposição, derrotando o candidato do Fidesz, o partido do primeiro-ministro húngaro.

No cômputo geral, a oposição teve resultados melhores que o esperado nas eleições municipais de domingo em várias outras cidades. Haverá presidentes da câmara da oposição em dez das 23 maiores cidades húngaras, diz a Reuters. Até agora, o Fidesz controlava 20 dessas 23 cidades. Mas as zonas rurais continuam solidamente nas mãos do partido do poder e o primeiro-ministro Orbán reivindicou ter a maioria dos votos a nível nacional.

“Os cidadãos de Budapeste decidiram ter chegado a altura de escolher algo diferente. Aceitamos esta decisão”, disse Orbán, anunciando que fará alguns ajustes na política do seu governo, sem anunciar quais.

A perda de Budapeste, com 1, 8 milhões de habitantes, é um golpe forte ao Fidesz, num país com dez milhões de habitantes. A capital sempre foi mais moderada que o resto do país. Sinal da importância destas eleições, a campanha eleitoral foi especialmente violenta, com vários momentos em que surgiram gravações que acusavam candidatos de corrupção e sexo com prostitutas, difundidas pelos media próximos do poder – que são basicamente todos os que têm grande difusão.

Os Fidelitas, a juventude do Fidesz, difundia música de circo bem alta quando Karacsony fazia comícios, relata o Le Monde.

Naz Masraff, um analista do think tank Teneo Intelligence, comentou que os resultados da oposição podem servir para solidificar a cooperação entre os partidos, que têm tido muita dificuldade em encontrar uma plataforma comum de diálogo. Isto antecipando já uma cooperação nas eleições legislativas de 2022.

Mas não é de começar já a contar com o fim da “democracia iliberal” idealizada e posta em marcha por Viktor Orbán neste Estado-membro da União Europeia. “Construir um projecto amplo de oposição para as legislativas continuará a ser muito difícil. Os partidos terão de alinhar prioridades muito diferentes, que vão desde o centro-direita Jobbik [inicialmente, um partido de extrema-direita, que nos últimos anos sofreu uma evolução] até ao Momentum, uma formação liberal”, disse Masraff, num comentário divulgado antes das eleições de domingo.

“É a primeira racha no sistema de Orbán, e espera-se que continue para 2022”, disse por sua vez Andras Biro-Nagy, analista do grupo Policy Solutions, citado pelo Guardian. “Mostra que esta é a melhor estratégia.”

Gergely Karacsony, presidente de um pequeno partido chamado Diálogo para a Hungria, um liberal ecologista (afiliado aos Verdes no Parlamento Europeu), foi escolhido como candidato da oposição numas primárias nas quais votaram 67 mil cidadãos de Budapeste, explica o jornal Le Monde.

Com esta eleição de Karacsony, Budapeste junta-se às tendências de várias capitais de países da Europa Central governados por partidos ultraconservadores, onde foram eleitos presidentes de câmara progressistas: Rafal Trzaskowski em Varsóvia (Polónia), Matús Vallo em Bratislava (Eslováquia) e o pirata Zdenek Hrib em Praga (República Checa). E, claro, há o caso de Istambul, a maior cidade da Turquia, que elegeu Ekrem İmamoglu, o candidato do maior partido da oposição.

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