De “pode não ter havido furto nenhum” a “socialmente destruidor”, a evolução do pensamento de Azeredo Lopes
Azeredo Lopes fez várias intervenções políticas sobre Tancos ao longo dos últimos dois anos.
Há pouco mais de 24 meses, exactamente 737 dias, aconteceu o assalto aos paióis de Tancos que viria a ter como consequência política a demissão do ministro da Defesa Nacional. Agora, Azeredo Lopes foi constituído arguido. O que disse o ex-governante ao longo de todo o processo, incluindo nas várias passagens pela Assembleia da República.
2017
29 de Junho
Evidentemente é um facto grave, não vale a pena estar a desvalorizar esse facto. É sempre grave quando instalações militares são objecto de acção criminosa tendente ao furto justamente de material militar. Não foi roubada uma pistola, não foram roubadas duas, foram roubadas granadas
Não vamos deixar nada por levantar. Ou seja, não há nenhuma questão que aqui possa ser deixada de lado
Em Bruxelas
30 de Junho
Não é a [maior quebra de segurança deste século em toda a União Europeia]. Há quebras e falhas de segurança muito superiores. (...) Nem é preciso evocar os trágicos acontecimentos que têm varrido o continente
Entrevista à SIC
1 de Julho
Há um facto indiscutível: que esse material estará agora a tentar entrar no mercado ilícito de tráfico de armas que podem depois servir para os mais diferentes fins, como o que referiu [o terrorismo]
Castelo Branco
10 de Setembro
No limite, pode não ter havido furto nenhum. Como não temos prova visual nem testemunhal, nem confissão, por absurdo podemos admitir que o material já não existisse e que tivesse sido anunciado... e isto não pode acontecer
Entrevista TSF/DN
Eu não sou investigador criminal. Não quero saber se foi A ou B, se foi de dentro ou de fora, o que sei é que material que estava à guarda do exército desapareceu. (…) Se se verificar que houve cumplicidades internas isso é muito preocupante
Entrevista TSF/DN
26 de Outubro
O Governo regista — e acho que todos registamos como extremamente positivo — o facto de o conjunto de material de guerra que não tinha sido recuperado ser recuperado e o facto de ser a primeira vez, que eu me recorde, em democracia, num furto desta natureza, de o material roubado ou furtado ter sido recuperado
Parlamento
2018
23 de Julho
Fui informado? Não fui. Mas não fui provavelmente porque quem conduz a investigação entendeu que este assunto estaria em segredo de Justiça
Parlamento
12 Setembro
Continuo sem ter a certeza sobre se falta ou se não falta aquele material ou se é uma falha de inventário
Parlamento
4 de Outubro
Neste caso, já tenho um bocadinho a pele dura, porque o CDS pede a minha demissão desde 3 de Julho de 2017. Ao fim de um ano, três meses e dois dias, já criei alguma resistência. Sem querer fazer ironia, acho que não faz sentido nenhum. Se tivesse sentido, obviamente já teria apresentado a minha demissão, não tenho apego a cargos que não me leve a ter a lucidez de analisar o que faço
Bruxelas
Não tive conhecimento de qualquer facto que me permitisse acreditar ter havido um qualquer encobrimento no processo dito da descoberta do material militar de Tancos
Bruxelas
12 de Outubro
Não podia, e digo-o de forma sentida, deixar que, no que de mim dependesse, as mesmas Forças Armadas fossem desgastadas pelo ataque político ao ministro que as tutela
Carta de demissão
Não tive conhecimento directo ou indirecto, sobre uma operação em que o encobrimento se terá destinado a proteger o, ou um dos, autores do furto
Carta de demissão
2019
7 de Maio
Não tenho memória de alguma vez ter visto fisicamente esse documento. Li-o em momento posterior ou em momento simultâneo à minha demissão. Fiquei confortado, porque considero que o meu chefe de gabinete, no contexto em que recebe a informação, me transmite o essencial
Comissão de inquérito
5 de Julho
Esta condição, se é verdade que me garante mais direitos processuais, é absolutamente inexplicável tendo em conta os factos relativos ao meu envolvimento do processo, que foi apenas de tutela política (…). Mas não escondo que esta situação me desgosta e constrange, pois a condição de arguido, sendo juridicamente garantística dos meus direitos, é socialmente destruidora
Comunicado