Braga: Cidadãos querem transformar Confiança em centro cívico e cultural
A plataforma Salvar a Fábrica Confiança quer criar uma entidade jurídica capaz de se candidatar a fundos comunitários para reabilitar o imóvel e torná-lo num espaço de usufruto cívico e cultural, a começar pelos Encontros da Imagem, em Setembro.
A plataforma Salvar a Fábrica Confiança quer criar uma entidade jurídica capaz de se candidatar a fundos comunitários para reabilitar o imóvel e torná-lo num espaço de usufruto cívico e cultural, a começar pelos Encontros da Imagem, em Setembro.
A alienação do quase centenário edifício da Fábrica Confiança está em curso, mas a plataforma cívica que defende a sua preservação patrimonial, composta por 20 associações do concelho, tem outro plano. O movimento promete contrariar o argumento municipal de que não existe dinheiro para a requalificação, com a criação de uma entidade jurídica independente, capaz de procurar financiamento para devolver o uso ao imóvel, inaugurado em 1921. “Esta entidade nova quer reabilitar o edifício da Confiança e candidatar-se a vários fundos nacionais e internacionais, até 2030”, esclareceu Maria Manuel Oliveira, acompanhada por cinco elementos da Salvar a Fábrica Confiança na apresentação da proposta, que decorreu nesta terça-feira na Junta de Freguesia de São Vítor, onde se localiza a antiga indústria de perfumes e sabonetes.
A Salvar a Fábrica Confiança espera contar com fundos comunitários do actual quadro (Portugal 2020) e do próximo (Portugal 2030) para poder transformar o edifício num centro cívico e cultural – o espaço é, aliás, designado como Confiança CCC na proposta. O objectivo é seguir exemplos de outros edifícios industriais no país, como o Silos Contentor Criativo, nas Caldas da Rainha. “Queremos que a Confiança seja um espaço público, de encontro entre os moradores e entre as pessoas da Universidade do Minho”, vincou a arquitecta. “A nível cultural, queremos ter iniciativas em permanência e outras extraordinárias”.
Prestes a finalizar o documento a ser entregue à Câmara de Braga e ao Ministério da Cultura, que está a analisar o processo de classificação do edifício, o movimento quer chegar a um entendimento com as duas entidades, antes de avançar com a iniciativa. “Estamos convencidos de que o presidente da Câmara nos vai ouvir. Representamos muita gente. E este projecto não está fechado à plataforma”, esclareceu ainda Maria Manuel Oliveira.
O grupo de cidadãos crê, porém, que a Confiança pode abrir ao público antes da sua requalificação estar concluída, com algumas “acções de limpeza e de protecção”, quer no interior, quer no exterior do imóvel. O objectivo, disse a arquitecta, é ter o edifício pronto a ser visitável já em Setembro, quando se realizar a 29.ª edição dos Encontros da Imagem. A fábrica acolheu essa iniciativa por três vezes, quando ainda laborava, e pode servir novamente de anfitriã, frisou Carlos Fontes, director dos Encontros. “Neste ano, vamos ter algumas exposições que requerem instalações”, disse. “Este espaço seria ouro sobre azul”.
O cidadão realçou, aliás, que a cidade precisa de um “espaço cultural alternativo”, a menor custo, capaz de acolher teatro, cinema, concertos e exposições, mas com menor formalismo do que os existentes. Outro dos cidadãos presentes, Henrique Barreto Nunes, da ASPA, realçou que a Confiança poderia transformar-se num espaço de leitura, como polo da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, e tornar-se um oásis no “deserto cultural” que é a zona leste da cidade.
Já o presidente da associação Velha-a-Branca, Luís Tarroso Gomes, defendeu que o edifício pode catalisar a criação de vários grupos culturais sem espaço próprio na cidade. “Quando a Velha-a-Branca surgiu, ninguém disse que era precisa. A necessidade surge com o desenvolvimento dos projectos”. Outro dos membros presentes, Cláudia Sil, lembrou que a cidade tem de pensar a “longo prazo”, ainda para mais quando almeja ser Capital Europeia da Cultura, em 2027, e tem, a seu ver, “défice de equipamentos culturais”. O grupo pretende ainda comemorar os 125 anos da fábrica no edifício,
Recurso para o Supremo é “hipótese”
Além desta proposta para requalificar a Confiança, a plataforma cívica está a tentar impedir a venda da Confiança a privados nos tribunais. Interposta em Novembro de 2018, a primeira providência cautelar para suspender a hasta pública do edifício foi considerada improcedente pelo Tribunal Adminstrativo e Fiscal de Braga, em Março.
Os cidadãos apresentaram recurso junto do Tribunal Central Administrativo do Norte, mas o órgão recusou a acção, na segunda-feira. Questionado sobre um eventual recurso para Supremo Tribunal Administrativo, Luís Tarroso Gomes admitiu que a decisão é uma “hipótese” e tem de ser tomada nos próximos 15 dias.