Porto
De gabinete de arquitectos a casa, sem perder o traço de Arménio Losa e Cassiano Barbosa
O edifício remonta a 1965 e foi desenhado por Arménio Losa e Cassiano Barbosa, dois nomes incontornáveis do movimento modernista português — e é precisamente a assinatura da obra “um dos aspectos mais importantes deste projecto”. No segundo andar deste prédio em Fernão de Magalhães, no Porto, Paulo Seco encontrou um apartamento em “razoável estado de conservação”, mas “bastante desactualizado”. Reabilitou-o, “respeitando o espírito que os autores” imprimiram no piso, mas “adaptando-o às novas exigências” de habitabilidade e transformando aquilo que sempre funcionou como um escritório de arquitectos numa casa.
Foram preservadas as “carpintarias, madeiras e pavimento” da obra inicial: elementos que estavam “quase intactos” e foram recuperados, conta o arquitecto da Impare Arquitectura, ao telefone com o P3. As portas “de desenho muito particular”, com vidros na parte inferior e superior, os rodapés “de desenho expressivo” e os revestimentos na cozinha foram mantidos, sendo que a cozinha se transformou num dos locais “onde mais se nota a questão da manutenção e o espírito do apartamento”. A imagem 14, captada por Ivo Tavares, mostra o armário superior da cozinha, "integralmente replicado”, adaptando as dimensões e proporções antigas “às actuais relações ergonómicas”. O pavimento e tipo de azulejo foram igualmente replicados, tendo sido acrescentada uma nova bancada.
As grandes alterações feitas ao apartamento residiram na “renovação integral das infraestruturas eléctricas, de aquecimento e abastecimento de água”. Mas também foram feitas alterações espaciais e de organização: “O esquema do apartamento previa [anteriormente] uma zona de serviço que hoje em dia não é consentânea com as novas formas de habitar”, explica Paulo Seco. Se, anteriormente, a organização definida “separava a sala, os quartos e um quarto de banho das áreas de serviço”, foi agora proposta a ligação “entre o vestíbulo e uma pequena antecâmara da área de serviço, criando um espaço mais amplo na entrada”. Mais ainda, foi suprimido um dos três quartos “razoavelmente pequenos”, o que permitiu inserir roupeiros nos quartos e alargar o espaço da sala.
Nos trabalhos de Arménio Losa e Cassiano Barbosa constam obras como o Bloco da Carvalhosa, na Rua da Boavista, no Porto, classificado como monumento de interesse público. Os dois arquitectos assinaram conjuntamente mais de 150 projectos, deixando um vasto legado de edifícios na arquitectura portuguesa — entre os quais este, agora transformado em casa.