Corbyn anuncia fim das conversas com May sobre o “Brexit”

Líder trabalhista assume que a liderança a prazo da primeira-ministra britânica impede que o que quer que seja acordado sobre a saída da UE venha ser assegurado no futuro.

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Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista JESSICA TAYLOR/EPA

Um dia depois de Theresa May ter acordado renunciar à liderança do Governo e do Partido Conservador depois da próxima votação do acordo do “Brexit” no Parlamento britânico, no início de Junho, Jeremy Corbyn anunciou o fim das negociações com os tories, que tinham como objectivo encontrar uma solução para acabar com o impasse sobre o processo de saída do Reino Unido da União Europeia.

Numa carta enviada esta sexta-feira à primeira-ministra, o líder do Partido Trabalhista assumiu que as discussões foram “detalhadas e construtivas”, mas que “foram o mais longe possível”, uma vez que ambas as partes se mostraram “incapazes de ultrapassar importantes divergências políticas entre si”.

Em resposta, May responsabilizou os trabalhistas pelo fim das conversas, nomeadamente as facções do partido que querem convocar um segundo referendo à Europa. “Nunca conseguimos ultrapassar o facto de não haver uma posição comum no Labour sobre cumprir o ‘Brexit’ ou realizar um segundo referendo, que o pode reverter”, reagiu a primeira-ministra, à margem de uma acção de campanha para as eleições europeias.

Umas das principais reivindicações do Labour era a manutenção do Reino Unido numa união aduaneira com a UE, cenário que Theresa May e o seu executivo nunca quiserem colocar em cima da mesa – muito por culpa das pressões da ala eurocéptica do Partido Conservador. A possibilidade de se levar o acordo final a referendo popular também foi sugerido pelos trabalhistas, mas visto com pouco entusiasmo pelos conservadores.

Ainda antes da reacção de May, Downing Street afirmou que as principais divergências entre as partes se prenderam com as questões em volta da união aduaneira e do segundo referendo. 

“Fizemos muitos progressos em algumas questões, como os direitos dos trabalhadores e protecções ambientais, mas tornou-se claro que não conseguiríamos chegar a um acordo total, particularmente por causa das discussões muito difíceis das posições das duas partes sobre a união aduaneira e a realização de um referendo”, disse um porta-voz do Governo. “E a primeira-ministra continua a acreditar que é dever dos políticos eleitos encontrarem uma forma de cumprir os resultados do referendo”.

Na sua carta, Corbyn sublinha que os desenvolvimentos recentes, no que ao futuro da primeira-ministra dizem respeito, vieram aumentar ainda mais a “fraqueza” e a “instabilidade” do Governo e sugerem “que não pode haver confiança em se assegurar o que quer que seja acordado” entre os dois partidos. Isto porque May se comprometeu a marcar um calendário para a sua saída, independentemente da aprovação ou rejeição do documento sobre os termos do “Brexit”.

“Tem havido uma cada vez maior preocupação, tanto no ‘governo-sombra’, como junto dos deputados trabalhistas, sobre a capacidade do Governo de cumprir com qualquer compromisso”, defendeu o líder trabalhista, justificando essa preocupação com as diferentes mensagens que, ao longo das últimas semanas, foram enviadas a partir de Downing Street: “As propostas da nossa equipa de negociações foram constantemente e publicamente contrariadas por declarações de diferentes membros do Governo”.

May prometeu aos deputados do seu partido que irá levar o seu acordo do “Brexit” à Câmara dos Comuns, na semana que começa a 3 de Junho, para que possa ser votado pela quarta vez. Na carta enviada à líder do executivo, Corbyn reforçou que os trabalhistas “se vão opor ao acordo do Governo”, se o mesmo não sofrer “mudanças significativas”.

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