Lisboetas vão ter monumentos a Aristides de Sousa Mendes e ao feminismo
Na décima primeira edição do Orçamento Participativo, os lisboetas escolheram 19 projectos que querem ver implementados na cidade. Na próxima edição, em vez dos habituais 2,5 milhões de euros, a câmara quer investir cinco milhões em projectos “verdes” dos cidadãos.
Sempre que os lisboetas propõem a criação de estátuas no âmbito do Orçamento Participativo de Lisboa, costumam sagrar-se vencedores. E este ano não foi excepção. Entre as 19 ideias vencedoras, a mais votada quer que a câmara erga uma estátua de homenagem ao Pupilo do Exército, na freguesia de São Domingos de Benfica, com 5591 votos conseguidos — que não chegam para bater a proposta recordista de todas as edições, que continua a ser o Jardim do Caracol da Penha, para onde se prevê a criação de um novo jardim público, nas freguesias de Arroios e Penha de França e que, em 2016, angariou 9477 votos.
Mas o lote de monumentos não se esgota por aqui. Os lisboetas votaram também pela construção de um monumento ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes (com 1953 votos), que deu vistos a milhares de judeus que tentavam escapar, desobedecendo assim às ordens do Governo liderado por António de Oliveira Salazar. Entre as ideias vencedoras está também a construção de um monumento aos movimentos feministas de Lisboa (886 votos) no topo do Parque Eduardo VII, onde a 13 de Janeiro de 1975 se organizou a primeira manifestação feminista na cidade no pós-revolução de Abril.
Os vencedores da décima primeira edição do Orçamento Participativo foram anunciados esta quinta-feira pela câmara de Lisboa. Entre 11 de Março e 28 de Abril, estiveram em votação 122 projectos (62 de âmbito local e 60 transversais), contando-se “mais de 34 mil votos”, diz a autarquia, menos três mil do que na última edição. Este ano, a câmara de Lisboa entendeu que o OP estava a passar ao lado dos mais jovens, dos mais velhos e das comunidades migrantes e por isso baixou a idade mínima para a apresentação e votação de ideias dos 18 para os 16 anos. E foi ter com estas populações às universidades seniores, às escolas secundárias e aos centros de apoio a migrantes.
Entre as ideias vencedoras está ainda a criação de um Espaço de Galerias de Artes no Parque Urbano do Tejo e do Trancão, feito de contentores. Seria, assim, criado um “pólo de criatividade” onde artistas de street art — nacionais e estrangeiros — e mentores pudessem trabalhar em conjunto “fazendo crescer nos jovens uma maior consciência artística, cultural e ambiental”. Seriam reaproveitados contentores marítimos, “transformando-os em ateliers e oficinas” e “contribuindo para a economia circular”, escrevem os proponentes, numa altura em que o projecto de instalação de contentores na Praça do Martim Moniz está longe de reunir consensos. Reuniu 2308 votos e implicará um investimento de 300 mil euros.
5 milhões de euros para ideias “verdes"
Outra das ideias vencedoras é a criação de Recreios de Inverno no Alto da Faia. Segundo diz a Associação de Pais do Alto da Faia, da Escola Básica do Lumiar, os cerca de 400 alunos do jardim-de-infância e do primeiro ciclo não têm onde brincar na hora de recreio em dias de chuva. Por isso, a proposta da associação de pais é que se criem áreas cobertas nos espaços exteriores. A obra deverá custar cerca de 300 mil euros e angariou 1816 votos. A construção de um parque infantil inclusivo/adaptado reuniu 1096 votos, sendo uma das ideias vencedoras. Custará 300 mil euros, mas não há local ainda definido.
Também o Largo das Belas-Artes se quer ver de cara lavada e com menos carros. Com 810 votos angariados, a praça deverá tornar-se uma “extensão da maior escola de artes e design do país mas também o centro da vida pública do Chiado”, dizem os proponentes, que sugerem ainda a desactivação da normal circulação automóvel e do estacionamento à entrada da faculdade.
Quanto aos projectos locais, foram vencedoras a requalificação dos espaços de recreio da EB1/JI Gaivotas, na freguesia da Misericórdia, e criação de um espaço de incubação e dinamização na Penha de França, e ainda a reabilitação do parque infantil e pintura de mural na empena do nº 45 da Avenida Mouzinho de Albuquerque, também nesta freguesia.
Os lisboetas acreditam ainda que a requalificação da Azinhaga das Teresinhas, terreno baldio na Av. Gago Coutinho junto ao templo Hindu BAPS Shri Swaminarayan Mandir, é uma boa ideia. Os proponentes sugerem que a autarquia ali construa um jardim temático. Entre os projectos que serão incluídos no próximo orçamento municipal, está a criação de cursos de Empreendedorismo e Capacitação para pessoas portadoras de deficiência.
Para a zona Norte da cidade, a requalificação do campo de jogos para os alunos dos Agrupamentos Escolares de Benfica, a criação do “Barracão” - uma ludoteca para crianças e jovens no Bairro da Horta e de um parque para cães no bairro das Pedralvas foram as ideias preferidas dos cidadãos. Já na zona oriental da cidade, venceram as propostas de requalificação do parque infantil do passeio Neptuno, no Parque nas Nações, e da envolvente da Rua Adelino Nunes, em Marvila. Os lisboetas escolheram ainda a criação da Caixa de Artes do Parque, um espaço para a prática artística também nesta freguesia.
À semelhança de edições anteriores, foi alocada uma verba global de 2,5 milhões de euros a estas ideias, divididas por dois grupos: os projectos transversais e de projectos locais, divididos pelas cinco unidades de intervenção territorial de Lisboa (Norte, Centro Histórico, Centro, Oriental e Ocidental). Serão distribuídos 1 milhão de euros para os transversais a toda a cidade, até ao valor máximo de 300 mil euros, e 1,5 milhões de euros para o conjunto de projectos locais, que recebem entre 50 mil e 100 mil euros.
No final da cerimónia que distinguiu os vencedores, o presidente da câmara, Fernando Medina, anunciou que para a próxima edição do OP serão alocados cinco milhões de euros, em vez dos habituais 2,5 milhões. E desafiou os lisboetas a apresentarem propostas “verdes”, “que façam a cidade avançar em matéria ambiental”, já que Lisboa será a Capital Verde Europeia 2020.