Nancy Pelosi vence primeira batalha para a liderança da Câmara dos Representantes

A experiente congressista é alvo de alguma contestação no Partido Democrata, mas a falta de opositores internos e a reconquista da maioria nas eleições do início do mês deverá garantir-lhe a vitória final.

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Nancy Pelosi Reuters/JOSHUA ROBERTS

Há muito que se fala da possível passagem à reforma da mulher mais poderosa de sempre da política norte-americana, mas esse cenário parece ter sido adiado por, pelo menos, mais dois anos. Aos 78 anos, Nancy Pelosi viu confirmada, esta quarta-feira, a sua indicação para speaker da Câmara dos Representantes a partir de Janeiro, depois de o seu Partido Democrata ter reconquistado a maioria nas eleições do início do mês.

Só no dia 3 de Janeiro se vai saber se Pelosi será mesmo a próxima líder da câmara baixa do Congresso, substituindo o republicano Paul Ryan. O que aconteceu esta quarta-feira foi uma votação realizada apenas pelos congressistas do Partido Democrata, que tinham a tarefa de indicar um nome, entre eles, para liderar os trabalhos da Câmara dos Representantes nos próximos dois anos, até às eleições de 2020.

Depois desta primeira fase do processo, Pelosi terá de ser submetida a uma votação pelos representantes do Partido Democrata e do Partido Republicano, marcada para o arranque da Câmara dos Representantes em 2019, a 3 de Janeiro.

Nessa votação, a experiente política terá de receber pelo menos 218 votos entre os 435 congressistas dos dois partidos – uma tarefa aparentemente simples numa Câmara dos Representantes que terá, em 2019 e 2020, pelo menos 234 democratas e 199 republicanos (falta ainda saber o resultado de duas eleições).

Só que as contas de Nancy Pelosi complicaram-se nos últimos meses, à medida que a facção mais jovem e progressista do Partido Democrata ia conquistando poder, contribuindo de forma decisiva, nas eleições do início do mês, para a reconquista da maioria na Câmara dos Representantes.

Muitos destes novos congressistas do Partido Democrata, mulheres jovens e mais à esquerda, como Alexandria Ocasio-Cortez, venceram as suas eleições com a promessa de não votarem em Nancy Pelosi para sua líder, ou pelo menos de não lhe darem um apoio incondicional. Segundo esta nova geração, o Partido Democrata precisa de uma liderança que reflicta a energia da sua base anti-Trump – e uma atitude de maior confronto em relação ao Presidente pela liderança do Partido Democrata na Câmara dos Representantes, num cenário em que o Senado continua nas mãos do Partido Republicano.

Para comprometer ainda mais a sua possibilidade de vitória, Nancy Pelosi viu-se também no centro de um ataque de outra ala do Partido Democrata na Câmara dos Representantes. Um grupo de congressistas mais moderados, interessados em dialogar com o Partido Republicano, apresenta-se agora como o principal motor da vitória democrata nas eleições do início do mês, tendo contribuído de forma decisiva para roubar lugares aos republicanos em estados e distritos onde o eleitorado é tradicionalmente conservador.

Para não correr o risco de ser derrotada na eleição de 3 de Janeiro – o que seria uma humilhação –, Pelosi tem a dupla tarefa de acalmar progressistas e centristas no seu partido.

Com o resultado da votação desta quarta-feira, Pelosi mostra que está no bom caminho: depois de semanas de ameaças, um grupo de nove democratas moderados acabou por anunciar o apoio à congressista da Florida esta quarta-feira, pouco antes da votação, e outros congressistas mais à esquerda foram deixando cair as suas promessas de luta por uma mudança à medida que os dias iam passando, e ninguém aparecia para fazer frente à experiente líder do Partido Democrata.

Se for eleita em Janeiro, Pelosi dará início à sua segunda vida como speaker da Câmara dos Representantes, que é o segundo cargo na linha de sucessão do Presidente dos EUA, a seguir ao vice-presidente.

Pelosi foi speaker da Câmara entre 2007 e 2011, durante o primeiro mandato de Barack Obama, antes de o Partido Democrata ter sofrido uma pesada derrota nas eleições de Novembro de 2010. A partir daí, e até este ano, manteve-se à frente do Partido Democrata, mas no papel de líder da minoria.

Como speaker, foi fundamental para a aprovação do Obamacare, em 2010, quando a proposta de reforma da saúde promovida pelo Presidente Obama era extremamente impopular no Partido Republicano e difícil de digerir no Partido Democrata. A lei acabou por ser aprovada na Câmara dos Representantes por apenas sete votos, graças à persistência de Pelosi – o que lhe valeu, até hoje, a ira dos republicanos, em particular do movimento Tea Party e da base de apoio a Donald Trump.

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