Costa ofereceu sala do Palácio da Ajuda para jantar da Web Summit
Governo reservou uma das salas do Palácio da Ajuda para o jantar de abertura oferecido à Web Summit. Já o jantar de encerramento aconteceu no antigo Museu dos Coches. A Presidência pagou mais de 3000 euros por pastéis e sumos noutro evento.
O Governo ofereceu uma sala do Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, para a realização do jantar de abertura da Web Summit 2018, no dia 5 de Novembro. Se fosse paga, a utilização desta sala custaria 10 mil euros. Já o repasto de encerramento, que no ano passado deu polémica por acontecer no Panteão Nacional, teve lugar no antigo Museu dos Coches, sendo pago pela organização da cimeira tecnológica.
Em 2017, a escolha do Panteão para a realização de um jantar da organização da Web Summit e de um grupo restrito de convidados causou uma chuva de críticas e fez com que o Governo alterasse o regulamento de utilização dos espaços sob tutela da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC), excluindo a possibilidade de serem realizados jantares no monumento nacional, por respeito “à história, à memória colectiva e aos símbolos nacionais".
Este ano, a organização não quis revelar onde se realizaria o jantar dos "fundadores" da Web Summit, garantindo apenas que seria num local “não polémico”. Ao PÚBLICO, a DGPC confirmou que o jantar de encerramento se realizou no salão nobre das antigas instalações do Museu dos Coches, no último dia da conferência, a 9 de Novembro.
Três eventos
Não foi o único jantar da Web Summit: na agenda de Paddy Cosgrave houve ainda um jantar na Sala D. Luís do Palácio Nacional da Ajuda, oferecido pelo primeiro-ministro, disse o gabinete de comunicação da DGPC.
No total, os espaços da Direcção-Geral do Património Cultural receberam três eventos relacionados com a última edição da Web Summit.
O primeiro evento aconteceu no Palácio da Ajuda, a 5 de Novembro, no arranque da Web Summit.
Na rede social Instagram, alguns dos convidados partilharam fotografias do momento, algumas das quais junto ao primeiro-ministro. Entre o grupo de convidados de António Costa está o surfista Garrett McNamara, "estrela" da Surf Summit, que antecedeu a Web Summit, Rish Mitra, CEO da empresa de inteligência artificial e realidade aumentada Blippar, Ana Barjasic, directora-geral da Global Entrepreneurship Network em Portugal, e Ana Lehmann, ex- secretária de Estado da Indústria, que durante o seu mandato defendeu a extensão da realização do evento em Lisboa “durante mais anos”.
A realização de jantares no Palácio Nacional da Ajuda está prevista no Regulamento de Utilização dos Espaços sob tutela da Direcção-Geral do Património Cultural. O regulamento — revisto pelo Governo no final de 2017 após a polémica em torno do jantar do Web Summit no Panteão Nacional — inclui uma tabela de preços que determina o valor pago por cada evento. Mas a Presidência, o Governo e a Assembleia da República podem lá realizar "cerimónias protocolares, eventos socioculturais e outros intrínsecos ao funcionamento ou competências" suas, ficando "isentos da cobrança de qualquer montante".
Esta não é a primeira vez que o Governo oferece um jantar à Web Summit. Também em 2016, ano em que o evento co-fundado por Paddy Cosgrave se estreou em Portugal, António Costa convidou cerca de 200 participantes da Web Summit para um jantar no Palácio da Ajuda, ao qual compareceram empreendedores, oradores e responsáveis políticos. O convite repetiu-se no último ano.
O segundo evento pago corresponde ao jantar Founders Summit, que no último ano juntou um grupo de personalidades escolhidas entre grandes investidores, fundadores de grandes startups e multimilionários no Panteão Nacional. Nesta edição, Paddy Cosgrave escolheu o Salão Nobre das antigas instalações no Museu Nacional de Coches, o Picadeiro Real.
De acordo com a DGPC, o evento ocorreu a 9 de Novembro e foi exclusivamente pago pela Web Summit, a única entidade envolvida no evento. Para este jantar, o valor cobrado foi de “10 mil euros mais IVA, ao qual acresce um Seguro de Responsabilidade Civil no valor de 250 mil euros”, bem como “o pagamento de horas extraordinárias das 18h às 2h a oito funcionários do Museu Nacional dos Coches, que prestam apoio até à saída das empresas de catering e encerramento do espaço”.
Também a Presidência da República organizou no Picadeiro Real uma cerimónia descrita pela DGPC como “recepção e Porto de Honra” oferecida "a cerca de 200 startups portuguesas participantes na Web Summit". Esclarece a mesma entidade que a Presidência não teve qualquer despesa com a utilização deste espaço. Ao PÚBLICO, fonte do gabinete da Presidência acrescenta ainda que a única despesa foi de 3163,21 euros em “pastéis de nata e sumos de laranja”. Nesta recepção estiveram presentes o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, e o co-fundador da Web Summit Paddy Cosgrave.
A Web Summit acordou com o Governo e com a Câmara de Lisboa a permanência da conferência na capital durante os próximos dez anos. Um investimento de 110 milhões de euros, compensado por um impacto económico superior a 300 milhões, garantiu, em Outubro, o então ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral.
Notícia e título corrigido às 23h26: Num esclarecimento após a publicação da notícia, o gabinete de comunicação da DGPC afirmou que a isenção de cobrança também se aplicou ao uso do sala D. Luís do Palácio Nacional da Ajuda, informação que não tinha sido clarificada inicialmente. A resposta inicial da DGPC indicara que o jantar tinha sido oferecido pelo gabinete do primeiro-ministro, remetendo a isenção apenas para o evento de dia 29 de Outubro. Assim, o primeiro-ministro ofereceu o jantar no Palácio Nacional da Ajuda, mas não pagou pela sala. Aos leitores, as nossas desculpas.