Técnica de edição genética CRISPR pode causar danos perigosos no ADN
Equipa britânica publicou resultados das suas experiências de “corte e cola” de pedaços de ADN em células de ratinhos e humanas.
Ao estudar os efeitos da técnica de edição genética CRISPR/Cas9, que pode vir a mudar totalmente a capacidade de manipular a molécula de ADN, uma equipa de cientistas britânicos descobriu que esta tecnologia é capaz de provocar danos genéticos inesperados que podem levar a alterações perigosas em algumas células.
Publicada esta segunda-feira na revista Nature Biotechnology, esta descoberta tem implicações sobre a segurança das terapias genéticas que estão a ser desenvolvidas usando a CRISPR/Cas9, um tipo de tesoura molecular que pode ser utilizada para editar o ADN. E vem juntar-se a resultados publicados no mês passado que sugeriam que a técnica de edição de genes CRISPR podia inadvertidamente aumentar o risco de cancro em certas células.
“Descobrimos que até agora modificações no ADN tinham sido bastante subvalorizadas”, disse Allan Bradley, investigador do Instituto Wellcome Sanger e co-autor do trabalho publicado na Nature Biotechnology.
Na segunda-feira, as acções das empresas CRISPR Therapeutics, Editas Medicine, Sangamo Therapeutics e Intellia Therapeutics, que têm tecnologias de edição genética, caíram a pique. “Nós não usamos os métodos descritos neste artigo da Nature Biotechnology. Ainda assim, no nosso trabalho não temos tido resultados similares”, disse a CRISPR Therapeutics. “A Intellia não acredita que estes resultados tenham um impacto significativo na trajectória em direcção a terapias baseadas na CRISPR”, referiu por sua vez esta empresa em comunicado. E a Editas acrescentou que “não estava especialmente preocupada” com estes últimos resultados. Já a Sangamo não respondeu ao pedido de comentário deste artigo científico.
A CRISPR/Cas9, uma das mais novas ferramentas de edição genética, consegue alterar porções de sequências genéticas nas células através do corte em pontos específicos da molécula de ADN e da introdução de alterações nesses locais. É vista por muitos como uma forma inovadora de desenvolver tratamentos para doenças como a sida, o cancro ou a hemofilia.
Os especialistas afirmam que tratamentos como esses poderão inactivar um gene que cause uma doença ou corrigir uma mutação genética, mas é necessário fazer ainda muita investigação para garantir que estas técnicas são seguras.
A equipa de Allan Bradley levou a cabo um estudo sistemático em células de ratinhos e humanas, descobrindo então que a CRISPR/Cas9 causava frequentemente mutações genéticas extensas, incluindo grandes rearranjos como deleções (perdas) ou inserções de pedações de ADN. Tais mutações podem conduzir a que genes importantes sejam ligados ou desligados – como é pretendido pelas terapias –, mas também pode ter implicações inesperadas importantes, sublinha a equipa.
Por isso, os investigadores alertam que algumas alterações genéticas observadas neste estudo se encontravam muito longe do sítio escolhido como alvo para serem interceptadas pelos métodos e testes padronizados.
Robin Lovell-Badge, especialista em células estaminais do Instituto Francis Crick (no Reino Unido), comentou este trabalho dizendo que estes resultados sublinham a necessidade de sermos muito cuidadosos no uso das técnicas de edição genética, “ao verificarmos que as alterações nas sequências de ADN que ocorreram são aquelas, e apenas aquelas, que estavam previstas”. “Mas os resultados não são razão para pânico ou perda de crença nos métodos quando estão a ser aplicados por aqueles que sabem o que estão a fazer.”