A "March for Our Lives" vai mudar alguma coisa? “Olhem à volta. Nós somos a mudança”

Marcha começou ao meio-dia de Washington. Foi organizada pelos sobreviventes do tiroteio em Parkland e centenas de locais em todo o mundo juntaram-se à iniciativa.

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Parkland, Flórida LUSA/CRISTOBAL HERRERA

“Eu sobrevivi. A minha filha não”, lia-se num dos cartazes levantados entre a multidão de mais de meio milhão de pessoas que se concentrou à frente do edifício do Capitólio, em Washington. Esta frase foi escrita por uma mulher adulta. Mas a "March for Our Lives" (Marcha pelas Nossas Vidas) foi organizada pelos sobreviventes do tiroteio numa escola em Parkland, na Florida, em Fevereiro, que resultou na morte de 17 pessoas. Por isso, o palco principal da iniciativa de luta pelo controlo ao acesso de armas nos Estados foi dos mais jovens.

O Guardian convidou dois estudantes da escola de Parkland para serem correspondentes do jornal britânico durante a marcha. Ambos convidaram George Clooney para uma entrevista. O actor recusou o convite e justificou a decisão através de uma carta: “Esta é a vossa marcha. O vosso momento (…) O facto de nenhum adulto ir discursar ao palco em Washington é uma mensagem poderosa para o mundo. Se nós não conseguimos fazer alguma coisa acerca da violência com armas, então vocês vão conseguir”, escreveu o actor. “Vocês fazem-me sentir orgulhoso no meu país outra vez. Obrigado”.

No palco montado em frente ao Capitólio, o centro da iniciativa que se tornou global, Cameron Kasky, estudante da escola de Parkland atingida pelo tiroteio no mês passado, leu o nome de todos os 17 mortos. Terminou com Nicholas Dworet: “Guardei o Nicholas para o fim porque é o aniversário dele”. “Nicholas, estamos aqui todos por ti. Parabéns”.

“Desde que o movimento começou, as pessoas perguntam-me: ‘Pensas que isto vai provocar alguma mudança?”, referiu Kasky. “Olhem à vossa volta. Nós somos a mudança”.

Milhares de pessoas juntaram-se à iniciativa e marcharam em centenas de cidades por todos os EUA. Mas a marcha ultrapassou as fronteiras norte-americanas. Reino Unido, Espanha, Austrália, Índia ou Israel são apenas alguns países onde se organizaram manifestações semelhantes.

Em Tóquio, falaram os pais de Yoshi Hattori, estudante de 16 anos que, em 1992, foi morta a tiro no Louisiana a caminho de uma festa de Halloween. “Sinto que alguma coisa está a mudar. Espero que os adultos que têm senso comum tomem medidas com os jovens para que os EUA sejam um país mais seguro. O futuro é dos mais jovens”, disseram ao Guardian.

Em Los Angeles, um dos jovens a subir ao palco foi Edna Chavez, estudante de 17 anos. “Sou uma sobrevivente. Vivi no centro de Los Angeles a minha vida toda e perdi muitos dos meus entes queridos por causa da violência. Isto é o normal”. Referindo-se à morte do irmão durante um tiroteio na cidade californiana, afirmou: “Eu perdi mais do que o meu irmão naquele dia, perdi o meu herói. Também perdi a minha mãe, a minha irmã e a mim mesma para o trauma e ansiedade”.

A marcha contou com o apoio de várias celebridades , que também marcaram presença em vários pontos do país. Jennifer Hudson, Ariana Grande, Miley Cyrus, Demi Lovato ou Lin-Manuel Miranda são exemplos. Outros, como Oprah Winfrey, George Clooney ou Steven Spielberg, doaram 500 mil dólares (mais de 400 mil euros) cada para a organização da iniciativa.

Christopher Underwood, de apenas 11 anos, também subiu ao palco na capital norte-americana, perante um mar de gente a perder de vista, para falar no irmão que morreu em 2012, baleado com 14 anos. “Na altura, tinha apenas cinco anos. Transformei a minha dor e raiva em acção”, disse. “As nossas vidas começam a terminar no dia em que permanecermos em silêncio sobre as coisas que importam”, afirmou ainda, citando Martin Luther King.

Donald Trump não assistiu à marcha. Deixou Washington na noite de sexta-feira para o seu resort de Mar-a-Lago, na Flórida. Durante o dia, o Presidente não fez declarações sobre a iniciativa mas a Casa Branca emitiu um comunicado a elogiar a “coragem de muitos jovens americanos” e a afirmar que “garantir a segurança das nossas crianças é uma prioridade do Presidente”. O comunicado acrescenta que será aprovada legislação para enfrentar o problema da violência das armas, incluindo a proibição de venda dos chamados bump stocks (um mecanismo que aumenta o poder das armas semiautomáticas, que são legalmente comercializadas nos EUA).

“Estou aqui a representar as centenas de milhares de estudantes que vivem diariamente com a paranóia e medo no seu caminho de e para a escola”, disse a estudante Zion Kelly no palco em Washington, cujo irmão foi morto em Setembro durante um assalto. “O meu nome é Zion Kelly e tal como muitos de vocês, estou farta”.

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