Durante 17 minutos não houve aulas nos EUA
Milhares de estudantes e funcionários de escolas, liceus e universidades norte-americanas saíram à rua para exigir mais restrições à venda de armas de fogo e prestar homenagem aos 17 mortos do tiroteio na Florida.
Os Estados Unidos foram varridos por uma massiva onda de protesto contra a violência relacionada com armas de fogo, mas também de solidariedade para com os amigos e familiares das vítimas do mais recente tiroteio numa escola, ocorrido na Florida, nos Estados Unidos. Milhares de alunos, professores e funcionários de escolas, liceus e universidades de três mil escolas de todo o país aderiram esta quarta-feira ao National School Walkout, abandonando as salas de aulas durante 17 minutos, em desacordo com a falta de compromisso das instituições políticas em legislar a favor da limitação da compra, venda e utilização de armas.
O número de minutos de protesto sugerido pelos seus organizadores – os mesmos que coordenaram a Marcha das Mulheres em Washington, em Janeiro de 2017 –, foi simbólico e teve como o objectivo homenagear os 17 mortos do massacre de há um mês, na Escola Secundária Marjory Stoneman Douglas, em Parkland, no estado da Florida (Nikolas Cruz foi o atacante e a Justiça pediu a pena de morte pelos crimes).
As greves estavam agendadas para as 10 horas da manhã (14h em Portugal Continental, de acordo com o fuso horário de Washington) e foram cumpridas nos diferentes fusos existentes nos EUA pelos milhares de pessoas que aderiram ao apelo lançado a “estudantes, professores, administradores escolares e pais” de todo o país, que encheram escolas, recreios e ruas entoando cânticos, rezando pelas vítimas e empunhando cartazes.
Porém, em várias instituições escolares do Texas, Georgia, Ohio e de outros estados, foram decretadas punições graves para os alunos e funcionários que aderissem ao walkout (sair e marchar).
Para além das manifestações nas escolas – que segundo os media norte-americanos também foram replicadas fora dos EUA, nomeadamente em estabelecimentos de ensino em Israel e na Tanzânia – registaram-se ajuntamentos junto a edifícios públicos, com especial destaque para a multidão que se apinhou em frente à Casa Branca e ao Capitólio, na capital norte-americana.
A Viacom também aderiu ao protesto. A empresa detentora dos canais MTV, Nickelodeon, BET e Comedy Central, suspendeu a sua programação várias vezes ao longo do dia, durante 17 minutos.
Os protestos desta quarta-feira foram em grande medida inspirados pela postura incansável dos próprios alunos de Marjory Stoneman Douglas, que nas últimas semanas foram protagonistas de manifestações e acções de consciencialização política, a favor de uma maior regulação do acesso às armas de fogo nos EUA.
“Estou absolutamente maravilhada com o que eles [alunos de Marjory Stoneman Douglas] já conseguiram, ao juntarem as suas vozes, ao conseguirem falar tão pouco tempo depois do tiroteio, e ao utilizarem o seu estatuto para promoverem mudanças”, diz à CNN Abigail Orton, uma estudante do ensino secundário, para quem “é uma honra” pertencer a esta geração e “fazer parte deste movimento”. “Há um mar de gente em todo o lado. Nem conseguimos ver o chão. É uma grande demonstração de que não estamos sozinho”, congratula-se Sam Zeif, um outro estudante, da escola de Parkland onde teve lugar o massacre.
A organização do protesto aponta o dedo à presidência de Donald Trump e ao Congresso, a quem acusa de “inacção”, pede “mais do que tweets, reflexões e orações em resposta à praga de violência com armas” e exige uma “reforma legislativa federal” que responda à crise para a saúde pública existente. “Não estamos seguros na escola e não estamos seguros nas nossas cidades e vilas. O Congresso tem de tomar acções significativas para nos proteger”, lia-se no seu website.
As exigências dos manifestantes são basicamente três: a proibição das armas de assalto; a imposição da verificação de antecedentes criminais na venda de armas em feiras e eventos semelhantes; e a possibilidade de os tribunais poderem ordenar o desarmamento de indivíduos que exibam um comportamento violento.
A resposta da Administração Trump a mais um tiroteio mortífero em solo americano – que fez recordar outros incidentes trágicos como Columbine (1999), Virginia Tech (2007) ou Sandy Hook (2012) – começou pela defesa do aumento da idade para compra de armas semiautomáticas, de 18 para 21 anos – entretanto descartada –, e assenta por agora na possibilidade de armar os próprios professores e funcionários das escolas.