O desnorte

O prestígio social e político da Ordem dos Advogados não se compadece com estes comportamentos persecutórios na praça pública.

Nas páginas dos jornais ou nos murais das redes sociais e do site oficial da Ordem dos Advogados, tem sido destilada suposta informação crítica sobre a administração financeira da antiga bastonária Dr.ª Elina Fraga.

De igual modo, numa tentativa de reconstruir a história da Ordem dos Advogados, a obra escrita sobre os bastonários portugueses da origem até à atualidade foi revista e parou no mandato do Dr. José Miguel Júdice, à porta da eleição do Dr. Rogério Alves, a primeira vitória de abertura à advocacia fora do sistema habitualmente dominante.

Num trabalho laborioso procura-se apagar as pessoas de um passado recente, destacando-se agora um louvor público identificando advogados que colaboram de forma voluntária com a sua Ordem, omitindo-se profissionais cujo único pecado será, eventualmente, divergirem da atual linha de liderança.

Mas, mais grave e que resvala para a difamação da honorabilidade passa pela divulgação pública de um relatório de auditoria à gestão da Ordem dos Advogados, onde se apontam gastos exacerbados, honorários chorudos, membros do anterior Conselho Geral a ganharem quantias pecuniárias, com um pequeno pormenor, os nomes dos visados estão em branco! Ou seja, todo e qualquer membro da antiga direção da Ordem dos Advogados é suspeito de recebimentos, alegadamente, indevidos.

Estamos perante um ultraje amplamente divulgado na imprensa que atinge a integridade de todos aqueles que, durante anos, deram o melhor do seu saber e valor profissional em defesa dos interesses de milhares de advogados e dos valores de cidadania que norteiam a profissão.

Quando se discute no poder político o futuro das ordens profissionais e a eventual criação de uma única estrutura representativa de todos os profissionais liberais, a atual direção da Ordem dos Advogados perde o seu tempo a arrastar para a lama todos os dirigentes máximos do último mandato, fazendo-se saber pela comunicação social, em autênticos fascículos novelescos, que agora o assunto teria seguido para o Tribunal de Contas e para a Procuradoria-Geral da República, com o suposto voto contra do bastonário Dr. Guilherme Figueiredo derrotado pelo seu Conselho Geral. Que triste espetáculo!

O prestígio social e político da Ordem dos Advogados, símbolo de 90 anos de História na defesa dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, não se compadece com estes comportamentos persecutórios na praça pública, onde se investiga, acusa, julga e condena numa só penada, passando-se por cima da regulação autónoma da instituição e dos órgãos públicos competentes liminarmente substituídos pelos tabloides.

A Ordem dos Advogados é um garante da independência e da determinação do futuro dos seus membros em prol e benefício dos cidadãos a quem servem com o seu conhecimento técnico especializado.

A compreensão da realidade que nos rodeia e a identificação dos desafios de uma vida coletiva nos mais diversos campos ao nível económico, social e político são a constante do agir de um advogado, portador natural dos anseios e expectativas dos seus representados.

Uma advocacia que se pretende moderna, contemporânea e inserida num mundo global não espera que os seus dirigentes se percam em questiúnculas que devem ser averiguadas e resolvidas de forma expedita em absoluto respeito de todos os direitos dos visados, pois é isso que sempre exigimos ao poder público quando este atua contra um cidadão. 

Quem não entende isto, está em absoluto desnorte!

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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