Depois dos golos, a luta pelos votos

O fim da carreira de futebolista não é o fim da vida pública: há muitos que se dedicam à política, mas nem todos têm sucesso

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Romário foi deputado federal pelo Rio de Janeiro e em 2014 foi eleito para o senado Ueslei Marcelino/Reuters

Gerard Piqué ouviu assobios e insultos dos adeptos da selecção espanhola por ter defendido o direito dos catalães a votar em referendo sobre a possível independência da Catalunha. Mas não foi a primeira vez que um futebolista tomou posição pública sobre assuntos políticos, nem será certamente a última. Tal como os exemplos de dirigentes políticos que procuraram ficar associados a êxitos desportivos, também são numerosos os casos de futebolistas que abraçaram a política. De forma mais séria ou nem tanto.

Conhecido do futebol português pelos dotes de goleador, Mário Jardel foi campeão pelo FC Porto e pelo Sporting (e ainda teve uma passagem pouco produtiva pelo Beira-Mar). Quando deixou os relvados, dedicou-se à política: “Faltava-me ocupação. Isto está a fazer-me muito bem e a abrir-me portas para trabalhar”, dizia em 2014, antes de ser eleito deputado à assembleia legislativa estadual do Rio Grande do Sul. Jardel definia-se politicamente como de direita por ser “um ‘cara’ direito demais”, mas não durou muito em funções. Passado um ano foi suspenso do cargo por suspeitas de corrupção e apropriação indevida de dinheiro.

Um dos ex-futebolistas brasileiros com mais longa carreira política é Romário. Em 2010 foi eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro e em 2014 deu um passo em frente, com a eleição para o senado com mais de 4,6 milhões de votos. “Entra para a história um ex-favelado que virou senador da República”, sublinhou então o “Baixinho”, que se tem empenhado no combate à corrupção. Pelé e Zico foram outros nomes célebres do futebol brasileiro a passarem pela política: o primeiro alterou em 1998 um projecto legislativo aprovado pelo segundo – que deixou de ser conhecido como Lei Zico para passar a ser a Lei Pelé.

Único futebolista africano a ser distinguido com a Bola de Ouro e o prémio da FIFA para melhor jogador do mundo (em 1995), George Weah terminou a carreira em 2003 e dois anos depois estava a candidatar-se à presidência da Libéria. Perdeu, e voltou a perder em 2011, quando concorria como vice-presidente ao lado de Winston Tubman. Mas isso não fez o ex-goleador baixar os braços: Weah foi completar a sua formação académica e em 2014 foi eleito para o senado com 78% dos votos, de olhos postos nas presidenciais de 2017.

Distinguido com a Bola de Ouro em 1969, campeão italiano e europeu pelo Milan (e campeão europeu também pela Itália), Gianni Rivera teve uma carreira preenchida. E quando deixou de jogar continuou a ocupar-se: cumpriu vários mandatos como deputado, foi subsecretário da Defesa e chegou a ser deputado ao Parlamento Europeu. Ainda que a carreira de futebolista não seja comparável à de Gianni Rivera, o primeiro presidente da Argélia independente também tinha um passado no futebol. Ahmed Ben Bella fez um jogo pelo Marselha em 1940 (marcou um golo no triunfo por 9-1 sobre o Antibes) e também chegou a integrar a selecção militar francesa durante a II Guerra Mundial.

Não há só histórias de sucesso entre os futebolistas que abraçam a política. Shevchenko, o melhor marcador da história da selecção ucraniana, terminou a carreira em 2012 e imediatamente embarcou numa candidatura às eleições parlamentares. Mas o partido pelo qual concorria teve apenas 1,58% dos votos e não elegeu deputados (na mesma eleição seria eleito o pugilista Vitali Klitschko, actualmente autarca de Kiev). E também há exemplos em Portugal: em 2009, quando ainda jogava no Sporting, Marco Caneira candidatou-se à presidência da Junta de Freguesia de Almargem do Bispo. Mas perdeu por 32 votos.

* Planisférico é uma rubrica semanal sobre histórias de futebol e campeonatos periféricos. Ouça também o podcast

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