Facebook envia às autoridades email da BBC com pornografia infantil encontrada na rede social
Facebook aceitou um pedido de entrevista, mas pediu envio de imagens. Acabou por cancelar a conversa e remeter as fotografias para a polícia.
A BBC queixa-se que o Facebook a denunciou às autoridades britânicas pelo envio de imagens de pornografia infantil à equipa da rede social, no âmbito de uma investigação sobre a partilha de fotografias de abuso sexual de menores naquela plataforma. O envio das imagens – como prova de difusão deste conteúdo nos grupos privados da rede – era condição para uma entrevista da BBC a um dos directores do Facebook no Reino Unido.
Os jornalistas terão violado a lei ao partilhar imagens de abusos sexuais de crianças, e ignorado as recomendações nas regras da comunidade do Facebook, que pedem que fotografias do género sejam enviadas directamente às autoridades. A informação surge numa investigação publicada no site da BBC na quinta-feira.
Desde finais de 2015 que o canal britânico está a investigar os problemas do Facebook em remover imagens de crianças que são partilhadas em grupos privados da rede social. Segundo os jornalistas, as definições destes grupos do Facebook – que permitem que se criem comunidades secretas que requerem um convite de um dos membros para se aceder ao conteúdo – são utilizadas abusivamente.
A BBC diz já ter utilizado a funcionalidade de “denunciar” para alertar os moderadores do Facebook para mais de uma centena de imagens em páginas do género. Apenas dezoito foram removidas. De acordo com respostas automáticas do site, as outras 82 não violavam as regras da comunidade, o que levou a BBC a suspeitar da qualidade da moderação automatizada do site.
“Eu questionaria sequer se humanos estão a moderar estas questões, e a olhar para estas imagens, e acho que [o sistema] falha em ter em consideração o contexto das imagens,” disse Anne Longfield, a comissária das crianças em Inglaterra, quando contactada pela BBC.
Para perceber o sistema, a BBC terá pedido uma entrevista a Simon Milner, que gere as políticas do site no Reino Unido. Este terá concordado com a conversa caso os jornalistas dessem exemplos do conteúdo em questão, mas, após receber as imagens, cancelou a entrevista e alertou as autoridades.
“É contra a lei que qualquer pessoa distribua imagens de exploração infantil. Quando a BBC nos enviou tais imagens, seguimos o código de conduta da nossa indústria e denunciámos as imagens ao CEOP [a equipa que trata de assuntos de exploração e protecção infantil online no Reino Unido],” diz Milner, em declarações ao Business Insider.
“Não partilhes, descarregues ou comentes o conteúdo: a partilha ou o envio de mensagens com fotos e vídeos de exploração e abuso sexual infantil pode ser considerado crime,” lê-se na página do centro de ajuda do Facebook. Milner – que antes de trabalhar para a rede social era funcionário da BBC – acrescenta que o assunto está agora nas mãos das autoridades.
“Analisamos cuidadosamente o conteúdo que nos foi referido e removemos todas as publicações que eram ilegais ou contra os nossos padrões", lê-se numa declaração do Facebook enviada à BBC.
O PÚBLICO contactou Milner para perceber os motivos que o levaram a pedir exemplos das imagens à BBC, mas não teve resposta até à hora de publicação deste artigo. Nas regras da comunidade, o Facebook escreve que “não te será pedido que forneças uma cópia do conteúdo [denunciado] em qualquer relatório”.
O director de política editorial da BBC, David Jordan, descreve como “surpreendente” a atitude da rede social: “Só se pode assumir que os executivos do Facebook não estavam dispostos, ou estariam certamente relutantes, em envolverem-se numa entrevista ou debate sobre os motivos de estas imagens estarem disponíveis no site do Facebook.”
No centro de ajuda do site, o Facebook explica que imagens de conteúdo abusivo não são sempre removidas imediatamente porque podem “ajudar na possível identificação e salvamento de vítimas de abusos físicos a crianças”. Além de denunciar imagens deste tipo ao Facebook (através da funcionalidade “denunciar publicação”), os utilizadores devem preencher uma denúncia juntos das autoridades locais porque “estas podem ser capazes de identificar e salvar a criança.”
A Agência Nacional de Crime do Reino Unido ainda não se pronunciou sobre o assunto.
Texto editado por João Pedro Pereira