O fascínio das plantas
Celebra-se pela segunda vez no próximo dia 18 de Maio, um pouco por todo o mundo, e também em Portugal, uma iniciativa internacional designada “dia do Fascínio das plantas”. Aderi imediatamente a esta ideia, e fiquei especialmente agradada com a escolha do nome.
Ao contrário do que se passa com os animais, em especial os mamíferos, e de forma mais notória as suas crias, que exercem sobre nós a sedução de uma intuitiva proximidade biológica, e despertam facilmente os afectos, com as plantas não é bem assim. É verdade que algumas plantas nos seduzem pela sua beleza, sendo de singularizar a perfeição cativante das orquídeas, mas são muitas as plantas que se impõem pela exuberância das suas cores, pela intensidade de uma fragrância, ou por alguma característica invulgar que as diferencia. Neste último conjunto, estão por exemplo as plantas carnívoras, que encantam desde há séculos muitos admiradores pela especificidade do seu comportamento alimentar. Se formos observadores atentos, por exemplo em visita a ambientes tropicais, é provável que nos deixemos conquistar pela pujança das trepadeiras, pelo colorido das flores, e pela profusa densidade do verde que esmaga qualquer outra forma de vida. Mas seja como for, julgo que a relação que estabelecemos com as plantas passa sobretudo pelo fascínio, e não tanto pelos afectos.
É talvez por essa razão que a escolha deste dia para celebrar o mundo vegetal, realçando a diversidade, e sobretudo a sua contribuição para a vida e para o bem estar humano, passou por esta expressão feliz: o dia do fascínio das plantas. Mas é muitas vezes necessário advogar este fascínio, e nem sempre é tarefa fácil. De tal modo que, no início de uma disciplina que leccionei muitos anos, tinha o hábito de dizer aos alunos que o meu maior objectivo nas aulas era proporcionar-lhes todos os argumentos para que aprendessem a gostar das plantas. Nunca tive dúvidas de que o cumprimento desse objectivo era a melhor demonstração de que tinham assimilado o essencial da matéria.
Tenho visitado diferentes biomas do mundo, mas um dos que mais me fascina é o deserto. As experiências mais extraordinárias que vivi do mundo das plantas passaram-se em ecossistemas áridos e semi-áridos. Recordo hoje a visita à região do interior da Austrália, em Uluru, junto à cidade de Alice Springs. Os desertos são sempre fascinantes e, por estranho que pareça, também o são pelas plantas que aí habitam. Neste caso, trata-se de uma região semi-desértica muito especial e variada, onde não falta a diversidade vegetal. Aqui vivem ainda hoje aborígenes, cuja presença se regista na região pelo menos há dez mil anos.
Neste deserto, as populações aborígenes residentes não desperdiçavam qualquer recurso alimentar, e alimentavam-se de mais de 200 espécies de plantas, entre sementes, bagas, figos, rizomas, tubérculos, raízes, folhas, caules. Um dos momentos mais notáveis que recordo foi a explicação que me deram sobre umas pequenas bolinhas, quase transparentes, que eu via sobre as folhas de uma das árvores mais comuns: eram afinal doces muito apreciados pelas crianças aborígenes; simples dejectos de um insecto que mastigava as folhas daquela planta, deixando-os na árvore, prontos a consumir, tal qual uma goma ou um chupa-chupa.
Verdadeiramente fascinante, no fundo, é perceber como a humanidade soube viver em contextos muito difíceis, tantas vezes nos limites da sobrevivência, ajustando de forma magistral as suas necessidades às soluções oferecidas pela própria natureza.