“Nesse exacto momento, em alguma parte do mundo, tem alguém fazendo a batida da bossa nova. E isso acontece o dia todo, o ano todo, em toda parte, desde 1958”, afirma o jornalista e escritor Ruy Castro, autor dos dois livros mais importante sobre o tema.
A data mencionada por Castro indica o ano de lançamento do disco “Canção do Amor Demais”, de Elizeth Cardoso, que continha algumas faixas gravadas por Gilberto, e foi considerado o ano de nascimento da bossa nova.
No mesmo ano, João lançaria um compacto com as canções “Chega de Saudade”, dos parceiros Tom Jobim e Vinícius de Morais, e “Bim Bom”, de sua própria autoria, a confirmar o surgimento de um novo ritmo, desta vez já com maior reconhecimento por parte do público.
O casamento do samba com o samba
A nova melodia foi desde sempre tida como uma música tipicamente brasileira, mas a nítida influência do jazz chegou a gerar crítica de intelectuais mais conservadores como José Ramos Tinhorão, autor do estudo “História da Música Social Brasileira”, no qual rejeita que a criação de João Gilberto seja verdadeiramente nacional.
Para Castro, no entanto, essa discussão já foi encerrada há muito tempo e a bossa nova “é o casamento do samba com o samba” e não do samba com o jazz, como alguns pregam.
“Quanto ao jazz, qual música popular do mundo não foi influenciada por ele no século XX? Mas a prova de que a bossa nova influenciou muito mais o jazz, do que o contrário, é que os músicos e cantores americanos continuam loucos por ela ainda hoje. Se ela fosse uma cópia, quem se interessaria?”, rebate Castro.
Além de ter contribuído muito para a imagem do Brasil no exterior, a música tocada por João Gilberto ajudou também a promover a língua portuguesa por todos os cantos do planeta.
Castro relembra que grandes cantoras americanas, como a falecida Susannah McCorkle e as actuais Stacey Kent e Joyce Breach aprenderam português por causa de João Gilberto, enquanto outras como Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan e Shirley Horn fizeram questão de cantar em português - com sotaque e tudo -, porque se apaixonaram pela sonoridade da língua.
Concertos agendados para Setembro
Natural do estado da Bahia, João Gilberto veio para o Rio em 1951 para substituir um músico numa das muitas bandas que tentava conseguir um espaço no mercado fonográfico da época.
As coisas não correram bem logo ao princípio e após ter sido despedido do emprego na Assembleia Legislativa, por falta de assiduidade, e não conseguir reconhecimento nos primeiros trabalhos como músico, acabou por não ficar.
Seis anos mais tarde, em 1957, regressaria ao Rio de Janeiro para se tornar no mito que é hoje.
O dia 10 será sem festa, como ele prefere, mas para os fãs a grande celebração foi apenas adiada já que o cantor abrirá mão de sua reclusão por dois dias em Setembro, 3 e 10, quando realizará um espectáculo em São Paulo e outro no Rio de Janeiro.
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