Philip Stölzl, autor de vídeos de Madonna, Garbage, Rammstein e outros artistas e bandas pop, não parecia ser exactamente o homem certo para filmar a vida do poeta nacional alemão, Johann Wolfgang Goethe (1749-1832). Mas a verdade é que os que porventura o seriam tiveram mais ou menos um século de cinema para o fazer e não se lembraram disso. O resultado é "Goethe!", que chegou aos cinemas alemães na semana passada e está a dividir os críticos.
Nas mãos de Stölzl, cujo currículo, além de dois filmes anteriores ("Baby", 2002, e "Nordwand", 2008), inclui um vídeo dos Rammstein - "Stripped" - cuja divulgação foi proibida por ter sido considerada propaganda nazi -, Goethe transformou-se, claro, numa estrela pop. Mas, valha a verdade, e admitindo que o conceito é transponível para o século XVIII alemão, é provável que Goethe tenha sido isso mesmo.
Possivelmente inspirado em "A Paixão de Shakespeare", de John Madden, Stölzl segue uma estratégia semelhante. Não se propõe contar a vida de Goethe, o grande clássico que hoje associamos sobretudo aos seus anos de Weimar, mas mostrar a gestação de um génio. E, tal como o filme de Madden é também a história da criação de uma peça de teatro, "Romeu e Julieta", "Goethe!" é a história do romance que transformou o escritor alemão numa celebridade europeia: "Die Leiden des Jungen Werther" (1774), que tem sido editado em Portugal com o título abreviado para "Werther".
Stölzl centra-se num brevíssimo período da juventude de Goethe, os cinco meses que este passa, entre Maio e Setembro de 1772, numa cidadezinha de província, Wetzlar, trabalhando para o Estado como jurista. É aí que conhece Charlotte Buff, a Lotte de "Werther", por quem se apaixona. Infelizmente, Lotte estava já comprometida com o seu colega Johann Christian Kestner, de modo que as tentativas de Goethe resultam num escândalo que o levará a antecipar o regresso a Frankfurt. Um ano e meio depois, Goetha publica o relato dessa paixão frustrada, "Werther", cujo protagonista acaba por se suicidar.
Se a recepção a "Goethe!" na imprensa alemã têm sido desigual - critícos mais picuinhas têm assinalado algumas incongruências históricas e repontado com detalhes de somenos, como o facto de Stölzl ter decidido que, no Verão de 1772, Wetzlar estava coberta de neve -, já têm sido unânimes os elogios aos dois actores principais: Alexander Fehling, enquanto jovem Goethe, e Miriam Stein, no papel de Lotte