Salazar colocou a censura nas mãos de uma elite político-militar

A investigação Os Militares e a Censura.
é hoje apresentada
em Lisboa

Os militares estiveram sempre em maioria nos Serviços de Censura do Estado Novo, conclui o investigador Joaquim Cardoso Gomes no livro Os Militares e a Censura. A censura à imprensa na Ditadura Militar e Estado Novo (1926-1945), que será lançado hoje em Lisboa pela editora Livros Horizonte. De extracção quase sempre urbana e familiares, muitas vezes, de outros militares, os censores do núcleo dirigente constituíam, durante os primeiros 20 anos do regime de Salazar, uma elite "político-militar", uma vez que se encontravam muito próximos do poder político e continuavam operacionais, tendo tido um papel activo quer no 28 de Maio de 1926, quer no "esmagamento posterior das revoltas do "reviralho"", explicou o investigador ao PÚBLICO, numa entrevista de que apresentamos excertos nesta página. A entrada de civis nos quadros dos Serviços de Censura ocorreu apenas em finais da década de 50. Apesar de o tema não fazer parte da pesquisa, dados entretanto recolhidos pelo autor indiciam que o perfil político e sócio-profissional dos homens a quem Salazar colocou nas mãos o poder de vigiarem a informação em Portugal se manteve nas décadas seguintes.
O livro - "a primeira obra de natureza historiográfica sobre a censura à imprensa na Ditadura Militar e Estado Novo" - recupera o essencial de uma investigação para tese de mestrado em História Social e Contemporânea, defendida em 1997, no ISCTE, e que teve como orientador António Costa Pinto. Este historiador apresentará a obra, juntamente com Fernando Rosas, na sessão de lançamento, marcada para as 19 horas, na Associação 25 de Abril.
Antigo exilado na Suécia, Joaquim Cardoso Gomes é professor do ensino secundário, em Almada, e integra o Centro de Investigação Media e Jornalismo, em cuja revista incluirá proximamente um extenso trabalho sobre a figura de Álvaro Salvação Barreto, que montou a máquina censória de Salazar nos anos trinta.
Entre outras curiosidades, o livro reproduz a resposta de Gomes da Costa ao jornal Diário da Tarde que no dia seguinte ao golpe de Estado de 28 de Maio de 1926 interrogou o general Gomes da Costa sobre rumores de que os militares preparavam a instauração da censura à imprensa. "Não senhor", respondeu o general. "Não estou disposto a estabelecê-la. Pelo menos...pelo menos enquanto os jornais não me incomodarem"...

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