Norberto Barroca celebra 40 anos de carreira teatral
Norberto Barroca fez do teatro a sua vida e foi para esta arte que este actor-encenador-figurinista-autor canalizou todas as suas capacidades e sensibilidade ao longo de um percurso que cumpre agora 40 anos. Director artístico do Teatro Experimental do Porto (TEP) desde 1998, Barroca vê agora essa sua já longa carreira no teatro profissional homenageada numa exposição retrospectiva que hoje é inaugurada no Auditório Municipal de Gaia, e que se prolonga até ao próximo dia 27 de Maio. Intitulada "Norberto Barroca: 40 Anos no Teatro Profissional", a mostra destaca o seu contributo para o teatro português através de um vasto espólio constituído por cartazes, programas e fotografias. Ao longo da sua carreira, Norberto Barroca tem feito espectáculos para públicos diversificados, mas privilegiando sobretudo o auditório mais popular. "Tenho pensado nos outros e ponho-me sempre ao lado daqueles que têm menos possibilidade de ver teatro, porque já existem pessoas suficientes a trabalhar para as elites", diz o encenador nascido na Marinha Grande e que desde muito novo se deixou cativar pela arte de representar."Gaia d'Ouro" é a mais recente produção do TEP, que Norberto Barroca encena. O cariz histórico de "Um Cálice do Porto" - um espectáculo da Seiva Trupe (1982) sobre a história do vinho do Porto e as suas ligações com a cidade, que foi um dos maiores sucessos da sua carreira e esteve em cena durante dois anos - repete-se neste novo espectáculo que relata a História de Gaia. O encenador aponta, contudo, algumas diferenças entre as duas produções. Enquanto o "Um Cálice do Porto" foi concebido para café-concerto, num registo explicitamente marcado pela crítica social e política, "Gaia d'Ouro" é "verdadeiramente um espectáculo para palco; as críticas são mais subtis e cabe ao público encontrá-las", nota Barroca.Quando ingressou como director artístico no TEP, a histórica companhia atravessava um momento difícil, devido à falta de apoios, que obrigou mesmo à sua saída do Porto e instalação em Gaia. Mas Barroca aceitou o desafio, e refere que o TEP lhe abriu "novas formas de ver o teatro". E foi de novo sem qualquer apoio por parte do Ministério da Cultura que, este ano, se lançou na preparação da nova peça. O encenador considera, aliás, que existe uma orientação na atribuição de subsídios "claramente discriminatória" relativamente ao teatro mais popular. "O teatro não pode ser só para as elites, existe um público que não pode usufruir dos bens culturais que merece e que o Estado deveria pôr à sua disposição", reitera Barroca. Por isso, defende a criação de uma lei para o teatro que estabeleça regras e que seja abrangente de todas as estéticas e contemple todos os locais e públicos.O currículo artístico de Norberto Barroca inclui a passagem por inúmeras e marcantes companhias de teatro, como o D. Maria II, o Novo Grupo, a Comuna... Depois de completar o liceu na Marinha Grande, Barroca rumou para Lisboa para estudar Arquitectura, e foi por essa altura, finais da década de 50, que ingressou no teatro universitário. Viria, mais tarde, a integrar o grupo que fundou a Casa da Comédia, onde também se estreou como encenador. A profissinalização veio em 1960, no Grupo Fernando Pessoa, um colectivo de jovens actores que quis homenagear sobre os palcos o poeta de "A Mensagem". Com esse grupo, Barroca fez espectáculos por todo o país e também uma "tournée" pelo Brasil, onde contactou com grandes nomes da poesia local, como Manuel Bandeira e Vinícius de Moraes. Em Portugal, privou com Almada Negreiros, de quem fez a adaptação da peça "Deseja-se Mulher" - um espectáculo que lançou alguns jovens actores de então, hoje nomes consagrados do teatro nacional, como Maria do Céu Guerra, João d'Ávila e Glória de Matos. Depois de Lisboa, um convite da Seiva Trupe fê-lo sediar-se no Porto, onde acabaria por realizar o essencial do seu trabalho teatral das últimas duas décadas.