Marcelo arrisca ter convocado eleições para ficar tudo na mesma
A sondagem da Católica mantém, no essencial, o equilíbrio de forças actualmente existente na AR. O PS lidera com vantagem confortável sobre o PSD, mas aquém da maioria absoluta. Já a esquerda mantém-se maioritária e as forças que compuseram a “geringonça” somam o mesmo que em 2015.
Poderá ser uma espécie de regresso à casa de partida. Dada a “divisão da base do Governo”, consumada na reprovação do Orçamento do Estado para 2022 (OE2022), o Presidente da República decidiu agendar legislativas antecipadas para 30 de Janeiro próximo. Todavia, Marcelo Rebelo de Sousa arrisca que das urnas saiam resultados em muito idênticos aos verificados em 2015 e que, no essencial, se mantenha a actual correlação de forças no Parlamento.
É pelo menos isso que indica a sondagem do Centro de Estudos e Sondagens de Opinião (CESOP) da Universidade Católica para o PÚBLICO, RTP e Antena 1. O estudo elaborado entre 29 de Outubro e 3 de Novembro — já depois do chumbo do OE, a 27 de Outubro —, atribui 39% das intenções de voto ao PS (que sobe um ponto percentual face à última sondagem do CESOP, em Maio).
Seguem-se o PSD com 30% (cresce dois pontos relativamente a Maio), o Bloco de Esquerda com 7% (recua face aos anteriores 8%), enquanto CDU (coligação eleitoral entre PCP e PEV), Iniciativa Liberal e Chega surgem empatados na quarta posição com 5%.
Mais atrás aparece o PAN com 3% das intenções de voto e o CDS com 2%.
Sem que nenhum partido consiga, isoladamente, assegurar a estabilidade governativa por não dispor de maioria absoluta, observa-se que, em conjunto, as forças de esquerda (PS, BE e CDU) que em 2015 deram origem à chamada “geringonça” continuam a ser maioritárias na sondagem, somando 51%.
Isto significa que volvidos cerca de seis anos, a esquerda parlamentar vale sensivelmente os 50,76% registados nas legislativas de 2015, embora fique agora abaixo dos 54,96% totalizados nas eleições gerais de 2019.
Já o bloco da direita consegue ganhos de causa relativamente a 2015. Se na altura a coligação PSD/CDS (PàF) obteve 38,35%, agora, e já depois do surgimento de novas forças neste quadrante político, designadamente o Chega e a Iniciativa Liberal, alcança 42% das intenções de voto, um resultado já bem acima dos 36,32% registados em 2019.
Tendo em conta os números desta sondagem, o PS seria assim o partido mais votado, porém um executivo socialista precisaria ser viabilizado por outras forças políticas, quer mais à esquerda, quer mais à direita. Por outro lado, se tal como em 2015 o Governo inicialmente empossado fosse derrubado no Parlamento, caberia ao PSD (ou a uma eventual coligação PSD/CDS) formar um executivo, contudo também neste caso dificilmente tal solução não seria derrubada na Assembleia da República, que continuaria a ser constituída por uma maioria de partidos de esquerda.
Deste modo, e não obstante algumas variações por partido, a esquerda vale os mesmos votos que em 2015, enquanto a direita consegue um ligeiro reforço ainda assim insuficiente tanto para superar a esquerda como para garantir autonomia no que à formação de governo diz respeito.
Neste cenário de aparente regresso ao passado recente, Marcelo Rebelo de Sousa seria confrontado com um resultado eleitoral não clarificador face à circunstância actual, o que, à imagem do sucedido com o antecessor Cavaco Silva, e agora com um Parlamento ainda mais fragmentado, o poderia levar a exigir compromissos escritos para dar posse a um executivo. Recorrendo às palavras de António Costa em 2014, quando se mostrou disponível para avançar para a liderança do PS, este resultado pode ser “o empastelamento total”.
OE sem consequências… para já
A sondagem da Católica sugere que os eleitores não passam a factura do chumbo do OE a nenhum partido em particular, mas que também não atribuem qualquer prémio a nenhuma força em especial pela atitude adoptada na discussão orçamental. No entanto, daqui até às eleições ainda vai correr muita tinta e a percepção dos eleitores poderá mudar comparativamente com o momento actual.
E se à esquerda o panorama permanece estável, com os actuais líderes a deverem voltar a encabeçar as candidaturas dos respectivos partidos, à direita decorrem ainda processos de clarificação interna que poderão impactar na percepção do eleitorado.
O PSD realiza eleições directas no próximo dia 4 de Dezembro, perspectivando-se um embate entre o actual líder, Rui Rio, e o eurodeputado Paulo Rangel. E no CDS, as eleições de 30 de Janeiro podem encontrar um líder, Francisco Rodrigues dos Santos, já para lá do mandato para o qual foi eleito em Janeiro de 2020, o que poderá dar um novo ânimo ao anunciado candidato Nuno Melo.
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