Linha circular do Metro de Lisboa já está em obras

Prolongamento de dois quilómetros entre o Rato e o Cais do Sodré deverá estar concluído em 2024 e vai custar 210,2 milhões de euros.

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LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

Pedras no caminho? O Metro de Lisboa guardou algumas. No dia em que arrancaram oficialmente as obras da futura linha circular, o primeiro-ministro, o ministro do Ambiente e o presidente da Câmara de Lisboa levaram para casa um bocado de calcário retirado do subsolo da Estrela, onde vai ser construída uma das duas novas estações de metro. 

Pedras no caminho foi coisa que não faltou até agora. Passaram 11 anos desde que primeiro se falou numa linha circular, passaram mais de quatro desde que o Governo e a administração da empresa começaram o processo oficialmente. Houve forte oposição técnica, política e jurídica, mas nada travou a opção que o PS defendeu praticamente sozinho. A partir desta quarta-feira as máquinas avançam entre o Rato e Santos, daí seguindo para o Cais do Sodré, transformando as linhas amarela e verde num anel. 

“Este é o dia em que o debate termina”, sentenciou Fernando Medina. “Muita paciência, muita resistência, muita resiliência”, disse António Costa sobre as características que um político deve ter quando lança uma obra pública.

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No antigo Hospital Militar da Estrela, onde ficará a entrada da futura estação, o metro entregou à empresa de construção Zagope as chaves desta fase da obra. Ela deverá estar totalmente concluída em finais de 2023, prevendo-se a abertura das novas estações para 2024. “Lisboa estará com melhores transportes e o ambiente estará menos poluído”, desejou Vítor Santos, presidente da transportadora pública.

Pelas contas do metro, esta extensão de dois quilómetros permitirá captar nove milhões de novos passageiros e retirar cerca de 2,6 milhões de carros por ano das estradas da capital. Contrariando a argumentação daqueles que consideravam mais prioritária a expansão da rede a Alcântara, a empresa diz que o Cais do Sodré é o local da cidade onde mais pessoas chegam a partir dos subúrbios, seja da Linha de Cascais ou da Outra Banda. Em vez de fazerem pelo menos dois transbordos, os passageiros com destino ao Marquês de Pombal, Saldanha ou Entrecampos passam a ter uma ligação directa.

“Um bom sistema de metropolitano pesado no centro da cidade vai obviamente desbloquear a capacidade dos transportes”, disse Medina, convicto de que esta obra se vai traduzir numa “grande melhoria de eficácia na mobilidade do centro”.

Linha Vermelha em Alcântara

“Nunca consegui entender a oposição do PSD, do PCP e do BE”, disse o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes. Na plateia estava Luís Newton, presidente da Junta da Estrela e líder da concelhia social-democrata, que se bateu pelo prolongamento do metro a Alcântara. A cadeira reservada para o presidente da Junta de Campo de Ourique, Pedro Costa, não chegou a ser ocupada.

“Apesar de estarmos na maior crise sanitária, económica e social que vivemos nas últimas décadas, o metro não vai parar”, disse António Costa. “Saímos do congelador em que nos encontrávamos para a actividade em que estamos, apesar de todos os constrangimentos que a epidemia de covid-19 nos tem imposto. Não nos basta governar para os dias de hoje ou para o dia de amanhã. É fundamental poder olhar para o futuro com a certeza de que, depois desta crise, virão outras crises, mas que de crise em crise vamos vencendo e, sobretudo, conseguimos concretizar objectivos”, declarou o primeiro-ministro.

Na cerimónia ficaram também a saber-se alguns pormenores sobre a extensão da Linha Vermelha a partir de São Sebastião, que Vítor Santos espera ver em funcionamento lá para 2025 ou 2026. Haverá novas estações nas Amoreiras, Campo de Ourique, Infante Santo e Alcântara, esta junto à estação de comboios de Alcântara-Terra, em viaduto sobre a Av. de Ceuta. “Foi sempre inequívoco que a cidade devia dispor dos dois [prolongamentos], o debate foi sobre qual se faria primeiro”, disse Fernando Medina.

A criação da linha circular está orçada em 210,2 milhões de euros e terá um financiamento europeu de 83 milhões. Já a extensão da linha Vermelha deverá rondar os 304 milhões de euros, contando o Governo que uma parte provenha do Plano de Recuperação e Resiliência (a chamada ‘bazuca’ europeia).

Vítor Santos espera, no entanto, que o processo burocrático que rodeou a linha circular não se repita. Esta quarta-feira, disse o presidente do metro, completaram-se 825 dias desde que a empresa lançou os primeiros procedimentos para a empreitada. “É muito tempo. É necessário e urgente rever os processos e a legislação sobre obras públicas”, alertou. ​

Notícia corrigida a 15 de Abril: no subsolo da Estrela há calcário e não granito, como inicialmente estava escrito

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