Arquivo e hemeroteca de Lisboa deverão passar para o Convento de Chelas
Há muito que os trabalhadores do arquivo e da hemeroteca se queixam das condições dos espaços que guardam séculos de informação e parte da memória da cidade. Foram pensadas para serem soluções provisórias que se foram tornando permanentes.
A Hemeroteca e o Arquivo Municipal de Lisboa deverão ter como nova morada o Convento de Chelas, na freguesia de Marvila. Esta informação consta numa resposta da vereadora da Cultura, Catarina Vaz Pinto, a um requerimento do grupo municipal do Partido Ecologista Os Verdes, datada de 16 de Dezembro, que refere estarem “em curso negociações com o Governo central com vista à futura localização dos serviços da Hemeroteca, bem como do Arquivo Municipal, nos edifícios do Convento de Chelas”.
Há muito que os trabalhadores do arquivo e da hemeroteca se queixam das condições dos espaços que guardam séculos de informação e parte da memória da cidade e da sua população. As queixas ouvem-se há anos, assim como as promessas, mas estes serviços continuam nos mesmos espaços — que seriam, em ambos os casos, soluções provisórias que se foram tornando permanentes.
O Arquivo Municipal de Lisboa está dividido por quatro núcleos: o histórico está no Bairro da Liberdade, o intermédio está no Arco do Cego, o fotográfico está na Rua da Palma e a videoteca está no Largo do Calvário. Em todos, mas sobretudo no Bairro da Liberdade, os trabalhadores denunciam infiltrações, degradação de documentos, problemas de segurança. Daí o seu pedido para que a câmara decida o quanto antes o futuro a dar ao arquivo.
Já o espólio da hemeroteca está há oito anos guardado numa garagem, onde se acumulam milhares de volumes — cerca de 12 mil títulos de jornais e revistas, um espólio que abrange periódicos desde o século XVIII até à actualidade. A garagem funciona como depósito improvisado desde que a hemeroteca saiu do Bairro Alto, em 2013.
As queixas dos funcionários destes espaços e do Sindicato de Trabalhadores do Município de Lisboa (STML) acabaram plasmadas numa petição “Por um edifício digno para o Arquivo Municipal de Lisboa”, que foi entregue na Assembleia Municipal de Lisboa com mais de mil assinaturas. No final de Janeiro de 2020, o documento foi discutido em reunião plenária deste órgão, tendo todos os partidos, e mesmo a autarquia, reconhecido a urgência de tirar os arquivos dos prédios de habitação que actualmente ocupam e concentrá-los num só local.
“Passará provavelmente por um edifício que não pertence à câmara”, disse então a vereadora da Cultura, confirmando que decorrem negociações com o Governo para a cedência de um imóvel estatal e afastando a hipótese de uma construção nova, como chegou a estar previsto. Há década e meia, os arquitectos Alberto Souza Oliveira e Manuel Aires Mateus projectaram um edifício que ia albergar a biblioteca e o Arquivo Municipal Central de Lisboa no mesmo local, um complexo com 43 mil metros quadrados no vale de Santo António, que custaria cerca de 30 milhões de euros. A câmara acabou por abandonar a ideia, alegadamente por motivos financeiros, e grande parte do arquivo municipal acabou por ficar no Bairro da Liberdade. Parece agora estar definida a nova morada.