Cartas ao director

Mundo não é quinta dos EUA

A entrevista do embaixador norte-americano ao Expresso, em que afirma que Portugal tem de escolher entre os aliados e a China, é o ressuscitar da velha mentalidade dos EUA, segundo a qual o mundo é uma quinta deles. Mas não pode nem deve ser. A resposta do ministro Augusto Santos Silva, um dos melhores quadros do PS, foi exemplar, ao afirmar que quem decide sobre Portugal são as nossas autoridades.
Já muito bem a responder aos ingleses, que aplicaram a palhaçada do “Brexit” ao nosso país, ora incluindo-nos, ora excluindo-nos dos corredores aéreos, dando a entender que não sabem o que querem, Santos Silva, certamente pelo lugar que ocupa, não considerou, porém, a entrevista do embaixador dos EUA como uma ingerência nos assuntos internos de Portugal, embora, repito, por uma questão de diplomacia, pois as afirmações do embaixador são de extrema gravidade.
Só não me surpreendem totalmente, porque ouço Trump, quem ele serve, admitir uma transição violenta para o mais que provável mandato de Joe Biden, o que ainda é mais grave, por incrível que pareça, do que o seu embaixador disse sobre o nosso país. Tanto um caso como o outro revelam bem a dinâmica fascizante da actual administração norte-americana, que será, seguramente, penalizada nas urnas nas eleições de Novembro.
O “Brexit”, bem como a eleição de Trump, fazem-me interrogar sobre se o voto, em alguns casos, será a desgraça dos povos, em vez da sua arma, como dizem.
O ministro português dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, esse, tem um notável desempenho governativo, pela forma como defende os interesses de Portugal, sempre que alguém os ameaça. Mas fá-lo com diplomacia e pacificamente. Não à Trump. O nosso governante prefere a força da razão à razão da força, como é timbre dos democratas.

Simões Ilharco, Lisboa

Vacina sim, mas só?

A avaliar pela disseminação noticiosa, as preocupações do mundo relativamente à covid-19 concentram-se na descoberta de uma vacina. Oxalá o sucesso surja rapidamente, mas não esqueçamos que as vacinas contra a SIDA e os diversos coronavírus anteriores ao SARS-CoV-2 ainda não apareceram, apesar de procuradas há longos anos. 

Em paralelo, estarão, certamente, a desenvolver-se esforços para descobrir terapêuticas que debelem a doença, assim como para a concepção de dispositivos que, de forma imediata, consigam detectar a presença do vírus em qualquer observado. Destes esforços, contudo, não são visíveis grandes e “parangónicas” notícias, o que é pena, pois afiguram-se-me, no momento presente, ainda mais importantes do que a própria vacina. Caso a tecnologia actual consiga produzir tais “instrumentos”, a sociedade em geral, pela agilização que trariam ao seu funcionamento, beneficiaria mais do que da almejada vacina. Mesmo o medo, globalmente instalado, poderia atenuar-se com estas “ferramentas”, anulando-se a maioria dos efeitos indirectos da pandemia ou da luta contra ela.

José A. Rodrigues, Vila Nova de Gaia

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