Cardinal: o detective duro como um “lago congelado” está de volta à FOX Crime

Terceira temporada da série chega a Portugal esta sexta-feira. O protagonista Billy Campbell define o personagem principal como um investigador “impenetrável na superfície” com “um monte de coisas complexas a nadar por debaixo”.

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O frio impiedoso da cidade fictícia de Algonquin Bay adequa-se à postura firme e aparentemente implacável do detective DR

Por esta altura, é quase um cliché dizer-se que o pano de fundo de uma obra é uma personagem tão importante como os corpos que nele contracenam. Sim, o (supostamente) assombrado hotel que o escritor Stephen King tornou inesquecível no livro The Shining, mais tarde filme incontornável de Stanley Kubrick, é quase o indesejado sidekick de Jack Torrance, guiando-o na sua descida rumo à paranóia. Sim, já viram que os ares do Noroeste Pacífico são o cenário perfeito para o surrealismo “Lynchiano” de Twin Peaks?

Por mais que seja uma táctica repetida ad nauseam, parece impossível fugir desta tentação e não aplicar a mesma fórmula a Cardinal, série canadiana cuja quarta e última temporada foi transmitida em Maio no seu país de origem, mas que em Portugal, pela mão canal FOX Crime, ainda só vai para a terceira  que tem estreia marcada para esta sexta-feira, 19 de Junho. O frio impiedoso da cidade fictícia de Algonquin Bay, inspirada tanto pelas neves de Ontário como pelas paisagens cinematográficas da Escandinávia, adequa-se à postura firme e aparentemente implacável do detective John Cardinal, um investigador no-nonsense com um semblante carregado e uma fragilidade escondida. “Nós costumamos falar do Cardinal como um lago congelado”, explica ao PÚBLICO o protagonista Billy Campbell. “Ele pode ser impenetrável na superfície, mas tem um monte de coisas complexas a nadar por debaixo.”

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A relação entre Cardinal e a companheira de trabalho Lise Delorme sempre foi um dos aspectos mais aplaudidos da série DR

Na terceira temporada, baseada nos romances By The Time You Read This e Crime Machine, do autor Giles Blunt, a morte — suicídio, estranha conspiração, eis o mistério — da mulher do detective carrega um choque que mexe com a sua habitual rigidez. A sua companheira de trabalho, Lise Delorme, personagem interpretada por Karine Vanasse, tem a difícil tarefa de trabalhar no caso como se fosse “só mais um”, enquanto Cardinal — que se culpou no passado por não conseguir atender às dificuldades levantadas pelos problemas mentais da sua mulher da melhor maneira —, sobretudo em casa e com a sua própria investigação paralela, lida com alucinações e recebe “cartas anónimas” que o culpam pelo sucedido.

Vulnerável, não como de costume, o detective tem de confiar nas capacidades de Lise e esperar que esta aviste uma luz ao fundo de um claustrofóbico túnel. A relação entre os dois, garante Billy Campbell, sempre correspondeu “àquilo a que os fãs da série mais respondem”. Constitui muito mais “um caso de Yin & Yang do que de Batman & Robin”, sublinha, na medida em que se complementam num regime de interdependência, sem hierarquias. “O Cardinal é sobre o laço que eles têm e a parte dos crimes é o material secundário.”

Com a expectável nostalgia pós-fim de rodagens, o actor lembra que, no início de 2017, antes das gravações da primeira temporada, começou por recusar o papel do conturbado investigador. O problema, partilha com o PÚBLICO, não estava nos livros de Giles Blunt ou no guião; muito pelo contrário, na verdade, até porque o “mini-director de casting” dentro da sua cabeça deixou claro que era “o homem perfeito” para o personagem. Campbell, que vive na Noruega com a sua mulher, não a queria deixar sozinha enquanto esta concluía os seus estudos universitários. “Rejeitei a proposta sem sequer lhe contar que me tinham contactado. Felizmente, passadas umas semanas, voltaram a ligar. Pensei: ‘Pelo menos, vou dizer que vieram falar comigo. No pressure.’ Ela pediu para ler o argumento. Ainda bem que o fez”, ri-se.

Aos trambolhões, o actor juntou-se à produção, na segunda parte de uma década frutífera para a reinvenção e a revitalização da figura do detective. Personalidades cheias de idiossincrasias vincadas, como as que foram encarnadas por Nathan Fillion em Castle ou Simon Baker n’O Mentalista, respiraram novo fôlego sobre o formato policial, e Benedict Cumberbatch ajudou a fazer de Sherlock uma das grandes obras-primas do pequeno ecrã em tempos recentes. Não que Campbell estivesse particularmente familiarizado com a ementa. “Não é que tenha alguma coisa contra séries policiais, mas, de certa forma, são comfort food: sabes exactamente o que encomendaste e o que vais receber”, esclarece. “Neste caso, apesar de não estar muito por dentro do género, só sei que li o guião e vi uma oportunidade para representar alguém com uma personalidade densa e multifacetada.”

Cardinal, espécie de film noir que troca o fumo dos cigarros e as cortinas entreabertas pela neve de Algonquin Bay, regressa à FOX Crime esta sexta-feira, pelas 22h50. A terceira temporada é a intranquilidade à flor da pele antes da última dança, para o detective ver até que ponto é mais duro que o gelo.

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