Coronavírus: “Na altura da segunda onda, algumas pessoas já terão imunidade”

A médica de saúde pública Rita Sá Machado respondeu a dúvidas dos leitores sobre o novo coronavírus no Fórum Público.

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O mais relevante é a forma e o tempo que se passa a lavar as mãos DRO DANIEL ROCHA

A médica Rita Sá Machado, responsável de epidemiologia e estatística da Direcção-Geral de Saúde, participou, este sábado, numa sessão de esclarecimento sobre a covid-19 no Fórum Público.

O Fórum Público é um novo espaço em que leitores, jornalistas e convidados podem debater em grupos de discussão temáticos, e tirar dúvidas sobre diversos temas junto de especialistas.

Os hospitais portugueses estão a recorrer a medicamentos que já mostraram ter efeitos positivos em alguns doentes?
Não existe um tratamento específico para doentes com covid-19. Existem, sim, alguns tratamentos experimentais que têm obtido bons resultados e outros com resultados inconclusivos. Portugal, tal como o resto do mundo, está a utilizar fármacos que parecem ter algum efeito nestes doentes e que são autorizados pela entidade reguladora nacional (INFARMED) e europeia (EMA).

Ainda estão a ser utilizados critérios epidemiológicos (e.g. tempo de exposição, área geográfica) para determinar quem deve ser testado? Se sim, quais?
Os critérios epidemiológicos em vigor na Região Autónoma dos Açores são os preconizados pela Região, devido às suas especificidades insulares. Quanto ao número de testes, tal como sabe, Portugal, está a fazer todos os esforços para aumentar a capacidade laboratorial em todos os pontos do país.

Como é que o número de testes realizados influencia a percepção da dinâmica do covid-19? Veremos um aumento de infectados ao realizar mais testes?
O número de testes realizado é um tópico bastante importante, mas que tem de ter em conta diferentes factores: a capacidade instalada de teste (disponibilidade de material e reagentes; recursos humanos, entre outros); a fase da epidemia em que nos encontramos; a percepção de risco, entre outros. A relevância do aumento do número de testes em Portugal coaduna-se com a nossa necessidade de perceber o número de pessoas infectadas com o vírus SARS-CoV-2. No entanto, o aumento do número de testes não dará, necessariamente, um aumento do número de infectados. Numa fase mais tardia da epidemia, a necessidade de realização de testes já não será tão premente.

Veremos uma nova vaga de covid-19 em 2021 que obrigue a um novo isolamento?
Neste momento, e mediante o nosso conhecimento actual da epidemia, é expectável que possa surgir uma segunda onda. Contudo, não quer dizer que as medidas de saúde pública implementadas nessa altura serão iguais às que estamos a implementar agora. Actualmente a nossa população não tem qualquer imunidade ao vírus SARS-CoV-2, mas na altura da segunda onda, algumas pessoas da nossa população já terão essa imunidade.

É preciso comprar algum detergente especial ou sabonete para eliminar o vírus?
A limpeza e desinfecção são de extrema importância na resposta efectiva ao vírus SARS-CoV-2. São uma das muitas medidas que dependem de nós, indivíduo. Assim, os “nossos detergentes de casa” são os recomendados (o desengordurante da louça, a lixivia, entre outros). Estes produtos devem ser manuseados com os devidos cuidados, cumprindo as indicações dos fabricantes. Quanto ao sabão e sabonete, o mais relevante é a forma de fazer a higienização das mãos, assim como o tempo que demoramos a realizar esta actividade. Existem vídeos da DGS e de outras entidades internacionais que poderá ver, se quiser, para mais informações.

É preferível ir ao supermercado ou usar sistemas de entrega ao domicílio?
As duas opções são aceitáveis, se cumprirmos as boas práticas do distanciamento social. Contudo, os sistemas de entrega ao domicílio têm menor exposição social, pelo que podem ser preferidos.

Já se sabe se é possível adquirir imunidade ao novo coronavírus?
A evidência actual mostra-nos que, efectivamente, poderá haver imunidade adquirida à doença. Contudo, ainda é importante perceber, entre outras questões, o tempo de duração desta imunidade, e se esta é transversal a todos os grupos etários. Nos últimos meses, tem havido um esforço enorme na partilha de informação científica por todo o mundo.

As grávidas são consideradas grupo de risco?
As grávidas não são grupo de risco prioritário, já que a transmissão vertical (de mãe para filho) parece não existir. Em 2016, quando o mundo enfrentava a epidemia da infecção por vírus Zika era exactamente o oposto. As grávidas eram a nossa maior preocupação. A DGS está a preparar uma orientação específica para grávidas, que será publicada muito brevemente.

Quando é que quem está em quarentena voluntária pode visitar populações de risco como idosos?
Alguém que está em quarentena, só poderá contactar com outras pessoas no final da quarentena. Se estamos a falar desta altura, em que as pessoas fazem quarentena voluntária, então esperar duas semanas para ver um familiar, poderá ser o mais indicado.

Os portadores de doença respiratória ou VIH devem usar máscara?
A evidência diz-nos que os doentes com doenças específicas (a que os médicos normalmente dizem “doentes com comorbilidades”) devem usar máscara em contextos específicos como a ida a serviços de saúde, locais com grandes aglomerados populacionais. A utilização de máscara facial por pessoas doentes durante surtos ou pandemias é útil para impedir a propagação do vírus a contactos próximos ou outras pessoas da comunidade. De chamar apenas a atenção que, mais do que utilizar uma máscara, temos de estar capacitados para o uso correcto da mesma!

Como é que o vírus reage a temperaturas elevadas?
Ainda não existe evidência conclusiva nesta área.

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