Vai andar tudo de amarelo: autocarros na Grande Lisboa serão todos iguais e oferta vai ser reforçada em 40%

Está lançado o concurso público internacional para a aquisição do transporte rodoviário da Grande Lisboa para os próximos sete anos. O número de veículos aumentará 40% e península de Setúbal será a zona mais reforçada.

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Miguel Manso

Está dado mais um passo para a “revolução” nos transportes públicos rodoviários da Área Metropolitana de Lisboa: foi lançado esta terça-feira “o maior concurso público promovido a nível nacional” para a aquisição do transporte público rodoviário que deverá servir os 2,7 milhões de pessoas que vivem nos 18 municípios desta região nos próximos sete anos. Envolve um reforço superior a 40% da oferta de autocarros, que passarão a ser todos iguais, amarelos, e vão operar todos com a marca Carris Metropolitana, se tudo correr como o previsto, em meados do próximo ano. 

Este concurso, que envolve um valor que ascende a 1,2 mil milhões de euros, vai substituir as concessões que estão actualmente em vigor, pelo que, além da cor, se prevêem mudanças na rede de autocarros na Grande Lisboa, reforço e modernização da frota para a tornar também menos poluente. Poderão concorrer os operadores privados, incluindo aqueles que já operam neste momento, que terão depois de uniformizar os seus veículos seguindo a imagem proposta pela Carris Metropolitana. As empresas municipais, que já asseguram os transportes dentro dos seus municípios — como é o caso de Lisboa, Cascais e Barreiro —, não poderão concorrer. 

Ainda não se percebe bem o alcance que o reforço da oferta prevista terá, mas, segundo os mapas apresentados, as novas linhas estão mais concentradas na margem sul. A península de Setúbal será “a mais beneficiada” com o alargamento da rede, porque é também a que tem uma oferta mais deficitária, explicou aos jornalistas Carlos Humberto de Carvalho, primeiro-secretário da AML. Palmela é o concelho onde a oferta de autocarros será mais reforçada, mas também há “concelhos na margem Norte que terão um grande reforço, como Mafra”, notou o responsável. 

O novo mapa de rede, que levou mais de um ano a ser desenhado, foi construído com o contributo dos municípios e tendo em conta os movimentos pendulares que existem entre os concelhos. Vão manter-se 127 das carreiras existentes, 321 serão reforçadas e serão criadas 130 novas linhas de transporte rodoviário. Estão, por isso, previstos reforços nas deslocações entre concelhos e mesmo dentro de cada município, mas também para as comunidades intermunicipais vizinhas da AML. 

“Vamos ter novas linhas, novas ligações que não existiam até agora. Vamos ter nas ligações existentes mais oferta, isto é, mais pontualidade, menos intervalo entre autocarros, mais horários [nocturnos, ao fim-de-semana] em que esses autocarros não existiam”, notou o presidente da Área Metropolitana de Lisboa, Fernando Medina, durante a cerimónia que contou também com a presença do ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes.

Este mapa integrará também as ligações a meios de transporte, como o comboio, metro ou barco. Também o sistema de bilhética (actualmente a cargo da empresa Otlis) será revisto e será criado um sistema de informação único para toda a área metropolitana. 

Autocarros mais recentes

A Grande Lisboa foi dividida em quatro lotes – dois na margem Norte e dois na margem Sul do Tejo – aos quais as empresas de transporte poderão concorrer (as empresas vencedoras não podem deter mais de 50% da oferta, o que significa que só pode vencer mais do que um lote se um deles for o lote 4, que tem menor dimensão). 

A adjudicação deverá decorrer até ao Verão, sendo que as empresas vencedoras deverão ser aquelas que apresentarem as propostas com melhor relação qualidade-preço (85% preço e 15% para a idade média da frota). Os novos autocarros deverão estar prontos a circular em meados do próximo ano. As empresas terão um período transitório de dez meses para adaptarem toda a frota às exigências do concurso. 

Segundo explicou o director do departamento de gestão e planeamento dos sistemas de transporte e mobilidade da AML, Sérgio Pinheiro, não poderão circular autocarros com mais de 16 anos no arranque da operação, sendo a idade média exigida de oito anos. Já no quinto ano do contrato, os veículos com mais de 12 anos terão de ser substituídos, sendo que todo o material circulante poderá ter, em média, seis anos.

Os novos operadores terão ainda de ter grande parte da frota acessível a passageiros com mobilidade reduzida e que se movam em cadeiras de rodas. 

A criação da marca Carris Metropolitana, assim como a intenção de lançar um novo concurso internacional para o transporte público rodoviário, foi anunciada em Outubro de 2018, pouco tempo depois do anúncio da implementação dos passes únicos nas áreas metropolitanas, que entraram em vigor em Abril de 2019. 

Depois de implementado o Navegante Metropolitano e de lançado este concurso internacional, o próximo passo da AML passará também por gerir outros transportes públicos na sua área, entre os quais os barcos da Soflusa e da Transtejo e mesmo o Metropolitano de Lisboa. O aval do Governo, esse, já o tem. “É com expectativa que nós vemos a opção que vai ser desenhada pela Área Metropolitana de Lisboa para muito depressa criarmos condições para que a Transtejo e a Soflusa sejam geridas por esta empresa metropolitana de Lisboa ou pelas autarquias que, dentro dela, a quiserem gerir”, sublinhou Matos Fernandes.

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