Cartas ao director

Estereótipos na União Europeia

Os estereótipos dentro da União Europeia são um facto extremamente conhecido e com consequências graves, ao nível social. No entanto, ao contrário do que seria expectável, os preconceitos não se ficam pelas populações e estendem-se aos mais altos representantes das instituições europeias. Em Bruxelas, os estereótipos podem ser uma arma poderosa, na hora de negociar e inclusivamente são uma forma de subir na carreira. Vários representantes seniores afirmam que é muito mais provável que as suas ideias são ignoradas exclusivamente pela sua nacionalidade. Alemães e holandeses são associados à organização, pontualidade e rigor, o que lhes vale muitos pontos nas negociações comunitárias e na escolha para cargos relevantes. Em contrapartida, italianos e gregos são vistos como pouco organizados e despesistas, o que lhes confere um menor poder de impor as suas orientações. Como é do conhecimento geral, os preconceitos são normalmente errados e produzem efeitos nefastos. Sendo Portugal, um país do sul da Europa, parece que o nosso ponto de partida e a nossa capacidade de decisão ficam seriamente comprometidos junto dos nossos parceiros europeus. 

João António do Poço Ramos, Póvoa de Varzim

Comboios portugueses

Em 28 de Agosto de 2019, publicou o PÚBLICO na secção “Cartas ao Director” um texto meu queixando-me da falta de interesse manifestada pelo nosso Governo relativa ao serviço de transportes ferroviários portugueses. Hoje, surge, quase cinco meses depois, a notícia da “reabertura emotiva de Guifões”, embelezada pelo sonho do primeiro-ministro de que “daqui a uns anos, poderemos dizer que fazemos parte do clube de produtores de comboios”!

Eu gostava muito que assim fosse, mas se relembrarmos as notícias que constaram até há muito pouco tempo os órgãos de informação, a situação de descalabro manifestada pelos equipamentos ferroviários não era nada animadora no que respeita ao futuro dos serviços ferroviários portugueses. A situação parece ser de tal ordem que a sua melhoria exigirá um enorme esforço para a sua resolução.

Nos últimos quarenta anos do século passado, o país dispunha de várias empresas metalomecânicas, uma das quais, que se dedicou ao fornecimento de comportas e equipamentos hidráulicos para barragens, em determinada altura, alargou a sua produção ao material ferroviário – donde resultaram as carruagens de aço inox que conhecemos. Outra empresa dedicou-se à produção de equipamentos para movimentação de grandes cargas (guindastes, pórticos, etc.) que exportou, com sucesso, para vários países do mundo. Qualquer destas empresas dispunha de equipas de engenharia com profundos conhecimentos técnicos relativamente aos produtos executados.

A reabertura de Guifões espalha alguma alegria. Mas fazer parte do clube de produtores de comboios requer um domínio profundo da tecnologia referente aos diversos componentes que os constituem. E é isso que, em minha opinião, é indispensável assegurar.

João Pereira Gaio, Lisboa

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