Oito jovens migrantes desembarcam na praia de Monte Gordo: “Tinham frio e fome”

Os migrantes têm entre 16 e 20 anos e estão agora à guarda do SEF.

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Monte Gordo PEDRO CUNHA/ARQUIVO

Oito migrantes desembarcaram na manhã desta quarta-feira na praia de Monte Gordo, no Algarve, confirmou a Polícia Marítima ao PÚBLICO. O comandante Fernando Pereira da Fonseca adianta que os migrantes têm entre 16 e 20 anos, dizem ser marroquinos e foram inicialmente levados para o comando local da Polícia Marítima de Vila Real de Santo António, onde foram “alimentados e tratados porque tinham frio e fome”. Mais tarde, abandonaram a capitania do porto de Vila Real de Santo António e estão agora à guarda do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).

A Polícia Marítima refere em comunicado que encontrou os oito migrantes às 10h10 na praia de Monte Gordo enquanto fazia uma acção de fiscalização no local. Foram mobilizadas mais equipas da Polícia Marítima, “por via marítima e terrestre”. Os jovens dizem que passaram cinco dias no mar e “revelavam sintomas de princípio de hipotermia”. Foram detidos por suspeitas de imigração ilegal. O Ministério da Administração Interna (MAI) está a acompanhar a situação e remete actualizações para mais tarde. 

O SEF foi chamado para o local e os migrantes deverão ser agora inquiridos. A GNR de Vila Real de Santo António também se deslocou ao local e, quando chegaram, os oito migrantes já estavam acompanhados pela Polícia Marítima. 

Algemados e sob escolta policial 

Por volta das 15h, a Polícia Marítima estacionou uma carrinha de transporte de passageiros junto à porta da garagem da capitania do porto algarvio e, poucos minutos depois, os migrantes entraram um a um no veículo, algemados com bridas de plástico, antes de seguirem sob escolta policial para destino não revelado pelas autoridades, constatou a agência Lusa no local.

A carrinha saiu escoltada por mais dois veículos, um na parte traseira, da Polícia Marítima, e outro na dianteira, pertencente ao SEF, que não esclareceu os jornalistas presentes no local sobre o destino dos oito migrantes.

O capitão do porto de Vila Real de Santo António, Rui Vasconcelos de Andrade disse aos jornalistas que os jovens “aparentavam estar em estado normal, tranquilo, e sem necessitar de grandes cuidados, e foram transportados para o Comando local da Polícia Marítima de Vila Real de Santo António para identificação”. Foi “providenciada alimentação e vestuário, com apoio da Câmara” da cidade algarvia.

O capitão disse ainda que, pelo que foi possível perceber, os jovens “alegadamente não se queriam dirigir a Portugal e queriam deslocar-se para a costa sul de Espanha”, podendo ter a embarcação sido desviada para oeste.

O SEF está a tentar confirmar a nacionalidade dos jovens e já tentou contactar familiares, tendo recebido cópias de alguns dos documentos de identificação que dão a entender que são provenientes de Marrocos. A situação processual dos jovens é de que estão “retidos para identificação” e vão ficar à guarda do SEF até este processo estar concluído.

As instalações do SEF mais próximas de Vila Real de Santo António estão no posto de fronteira entre Portugal e Espanha, de Castro Marim, junto à ponte internacional do Guadiana, e em Faro.

A Polícia Marítima e o SEF farão agora perícias para confirmar as informações avançadas pelos jovens, que chegaram a Portugal através de uma pequena embarcação baleeira, com cerca de sete metros de comprimento. O comandante da Polícia Marítima (responsável pelo gabinete de comunicação desta polícia) adianta ainda que este não é o primeiro caso em Portugal e que já houve casos similares. 

Em 2007, um barco com 23 migrantes clandestinos foi interceptado em Olhão; os ocupantes diziam ser de Marrocos. O destino era Espanha, mas a embarcação perdeu o rumo devido ao mau tempo, acabando por ficar quatro dias à deriva antes de dar à costa. Alguns dos migrantes tiveram de ser assistidos no local devido a problemas de hipotermia e desidratação – estavam sem comer e sem beber há quatro dias.

Durante 2018 e 2019, Portugal acolheu 129 pessoas resgatadas por navios humanitários. “Não obstante esta disponibilidade solidária sempre manifestada, o Governo português continua a defender uma solução europeia integrada, estável e permanente para responder ao desafio migratório”, explicava em Agosto o Governo, em comunicado.

Em Junho, o PÚBLICO noticiava que Portugal recebeu 1866 refugiados desde 2015 ao abrigo dos programas de recolocação, de reinstalação e de acolhimento voluntário de refugiados. Em 2016, o primeiro-ministro António Costa dizia que Portugal estava disponível para ir além da “quota” e receber mais 5800 refugiados.

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