Benfica anuncia processo contra Ana Gomes

Clube diz que ex-eurodeputada conotou a venda de João Félix “com uma operação de lavagem de dinheiro/branqueamento de capitais”. Contactada pelo PÚBLICO, Ana Gomes preferiu não comentar.

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Ana Gomes Miguel Manso

O Benfica anunciou nesta sexta-feira que vai processar judicialmente a ex-eurodeputada socialista Ana Gomes por uma declaração sobre a venda do jogador João Félix ao Atlético de Madrid que teve o “exclusivo propósito de denegrir o nome do Benfica e dos membros dos seus órgãos sociais”.

Contactada pelo PÚBLICO, a ex-eurodeputada preferiu não comentar, relembrando a documentação do Football Leaks que enviou para membros do Governo português, autoridades judiciais e instâncias europeias, pedindo uma investigação a transferências do futebol. Já não é a primeira vez que o Benfica ameaça acções judiciais contra Ana Gomes. Em Março, o clube da Luz anunciou um processo judicial contra a eurodeputada devido a uma entrevista que esta tinha dado ao jornal Recordna qual afirmou existir “um passado de delinquência” ligado a Luís Filipe Vieira, presidente dos “encarnados”. Ao PÚBLICO, Ana Gomes afirma que, até hoje, ainda não foi notificada desse processo.

Há uma semana, Ana Gomes questionou a venda do jogador ao Atlético de Madrid por cerca de 126 milhões de euros. Bruno Faria Lopes, jornalista da Sábado, escreveu no Twitter não ter ainda encontrado uma “explicação racional e fundamentada” para que a venda envolva valores tão elevados: “Um jogador de futebol com apenas 19 anos, que jogou meia época num campeonato de terceira categoria, e que aí se revelou, é vendido por 120 milhões de euros, naquela que é a quarta maior transferência de sempre. Ainda não li uma explicação racional, e fundamentada, para isto”, escreveu o jornalista.

“Não será negócio de lavandaria?”, questionou Ana Gomes, em resposta a Faria Lopes.

“No passado dia 27 de Junho de 2019, através de um comentário publicado na rede social Twitter, a Dr.ª Ana Gomes, ex-eurodeputada, objectivamente conotou a venda do atleta do Sport Lisboa e Benfica, João Félix, com uma operação de lavagem de dinheiro/ branqueamento de capitais. A sua declaração foi objecto de significativa repercussão na imprensa nacional e estrangeira, gerando enorme indignação no Sport Lisboa e Benfica, nos membros dos seus órgãos sociais, sócios e adeptos”, escrevem nesta sexta-feira os responsáveis do Benfica num comunicado.

Face a isto, os dirigentes do clube acrescentam que “a declaração em causa não configura um caso de mero exercício da liberdade de expressão e que, pelo contrário, tem o exclusivo propósito de denegrir o nome do Benfica e dos membros dos seus órgãos sociais.”

“Tem por isso o dever, perante os seus sócios e adeptos, de solicitar, desta vez, a apreciação desta questão pelos órgãos constitucionalmente competentes para o efeito, os Tribunais, o que fará pela instauração de um processo através dos seus advogados”, concluem.

Já esta semana, Ana Gomes, ainda em funções como eurodeputada, enviou uma carta para vários membros do Governo português, autoridades judiciais e várias instâncias europeias um conjunto de documentação divulgados pelo Football Leaks que “exemplifica esquemas de triangulação e de bridge transfer [esquema eventualmente fraudulento] engendrados para aqueles propósitos e utilizados por clubes portugueses”.

“Para investigação de eventuais crimes de fraude e evasão fiscal e branqueamento de capitais envolvidos nas transferências de jogadores entre clubes de futebol, correntemente em curso e implicando somas faraónicas, junto envio a v. Exas um conjunto de documentação obtido e publicado via Football Leaks”, escreve a ex-eurodeputada na carta (em PDF).

Além das várias instâncias europeias, incluindo o director do Europol e do Eurojust, a documentação foi enviada para a procuradora-geral da República, Lucília Gago, o ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo, Mário Centeno, a ministra da Justiça, Francisca van Dunem, o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, a presidente do conselho de administração da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, Gabriela Figueiredo Dias, e para o director nacional da Polícia Judiciária, Luís Neves. 

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