Google aprende a marcar viagens para o utilizador (mas dá opções de privacidade a quem quer)

O presidente executivo do Google sabe que precisa da confiança dos utilizadores para os sistemas de inteligência artificial da empresa funcionarem. As novidades apresentadas hoje incluem mapas em realidade aumentada e sistemas que marcam viagens pelos utilizadores.

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O Google I/O trouxe várias novidades na área da privacidade LUSA/JOHN G. MABANGLO
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O Google mostrou que é cada vez mais fácil depender da empresa. No I/O 2019 – o mais importante evento anual da gigante para programadores – a tecnológica norte-americana demonstrou que está a trabalhar em sistemas de inteligência artificial capazes de alugar carros pelo utilizador, usar a câmara para escolher o que comer num restaurante, enviar mensagens aos amigos sem tocar no ecrã, e transcrever conversas instantaneamente. E para garantir que os novos sistemas inteligentes são justos, o Google criou uma ferramenta para ajudar os programadores a perceber os dados que os algoritmos usam para chegar às suas conclusões. Por exemplo, dar muita importância ao género de alguém para procurar profissionais na área da medicina.

“Queremos garantir que os nossos modelos não reforçam viés que já existe no mundo”, justificou o presidente executivo do Google, Sundar Pichai, ao subir em palco esta quarta-feira em Califórnia, nos EUA. O empresário sabe que “é preciso confiança” para os sistemas funcionarem.

Numa altura em que as empresas tecnológicas são alvo de crescente escrutínio sobre como usam os dados dos utilizadores, o Google anunciou várias ferramentas que dão ao utilizador mais opções sobre aquilo que quer partilhar. “As pessoas têm de ter escolhas significativas sobre os seus dados”, admitiu o presidente executivo do Google. “Criar um Google mais útil começa sempre com a pesquisa e as milhares de milhões de perguntas que os utilizadores fazem todos os dias.”

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O Google está a testar uma ferramenta de direcções em realidade aumentada durante a conferência

Mais privacidade

Uma nova funcionalidade no motor de busca vai permitir que os utilizadores possam programar durante quanto tempo o Google deve guardar os seus dados de pesquisa (por exemplo, durante uma semana ou durante oito meses). A empresa também vai expandir o modo incógnito do navegador Chrome – que permite navegar a Internet sem registar o histórico, sem guardar palavras-passe e sem guardar cookies (gíria usada online para uma pequena porção de informação)​ – para as outras aplicações da família Google. Isto inclui o YouTube e o Google Maps.

Vai ainda passar a ser possível apagar a informação que o assistente digital do Google retém sobre os utilizadores através de um painel de controlo. A novidade chega numa altura em que surgem preocupações sobre a quantidade de informação que estes tipos de sistemas guardam – em 2018, por exemplo, uma coluna inteligente da Amazon gravou e partilhou, por engano, uma conversa privada entre um casal.

Mas apesar do foco do Google na privacidade, a empresa mostrou que se o utilizador decidir usar e partilhar dados com o Google, as ferramentas da empresa podem simplificar a vida a quem usa os serviços.

Alugar carros e câmaras que mostram o caminho

O Google Duplex, um sistema de inteligência artificial anunciado no ano passado que serve para falar com outras pessoas ao telefone, vai passar a poder preencher formulários e fazer marcações online. Em palco, a empresa demonstrou o Duplex a reservar o aluguer de um carro para uma viagem. O sistema funciona com a ajuda da assistente digital do Google que é capaz de usar informação pessoal do utilizador e dados de viagens marcadas para fazer as melhores escolhas. No final, o utilizador só tem de confirmar os dados.

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O Google demonstrou um sistema de inteligência artificial capaz de fazer reservas online pelo utilizador

Os novos telemóveis do Google – o Pixel 3a e o Pixel 3a XL (a partir dos 399 dólares, cerca de 357 euros) – virão também com uma versão do Google Maps em realidade aumentada. Em vez de navegar o mapa através d pequeno ponto azul, pode-se utilizar a câmara do telemóvel para ver setas (com as direcções) sobrepostas ao que está a ver no mundo real.

O Google mostrou ainda várias novidades para o Google Lens, a aplicação de reconhecimento de imagens da empresa. Bastará apontar a câmara do telemóvel ao menu de um restaurante, por exemplo, para ver quais os itens mais populares.

Outra novidade conhecida esta tarde foi a Live Caption. Trata-se de uma aplicação para transcrever áudio em tempo real, pensada para simplificar conversas com pessoas que têm dificuldades auditivas ou que não falam a mesma língua. Basta abrir a aplicação para o dispositivo começar a transcrever, no ecrã, o áudio que detecta.

Esta funcionalidade vai estar disponível na nova versão do sistema operativo do Google (chamado Android Q) e estará disponível em 70 idiomas, incluindo o português.

Novidades além do Google

O Google não é a única (grande) empresa a apresentar novidades este mês. Este ano, a I/O compete pela atenção do público com a Build 2019, a conferência para programadores da Microsoft. Na Build, uma das novidades anunciadas foi o Idea, um corrector autográfico que usa inteligência artificial para reescrever frases confusas, tornar os documentos mais concisos, e garantir que a linguagem usada é inclusiva em termos de género. 

A semana passada foi a vez do evento Facebook. A empresa falou de uma nova ferramenta para encontrar parceiros românticos na rede social, e detalhou a sua própria estratégia da empresa para proteger a privacidade dos seus utilizadores (inclui uma maior facilidade em entrar e comunicar em grupos privados).

A conferência do Google para programadores decorre até 9 de Maio, quinta-feira. 

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