Foi de bicicleta para o trabalho? Pode vir a ganhar créditos para trocar por produtos biológicos

O WeShare by AYR é um projecto piloto que arrancou esta terça-feira em Matosinhos, integrado na primeira Zona Livre Tecnológica nacional, que tem como princípio compensar os utilizadores de soluções de transporte limpas com créditos transaccionáveis.

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CMM/Francisco Teixeira
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Em 2012, o Ministério do Ambiente, através do Roteiro Nacional de Baixo Carbono, estipulou como meta para 2050 reduzir as emissões de gases com efeito de estufa em 60%. Este será o contributo português para a ambição da União Europeia em querer até ao mesmo ano atingir a meta da redução de 85% a 90% das emissões, no sentido de limitar aos 2ºC o aumento da temperatura global até ao final do século. E se a resposta para se atingirem essas metas estiver na atribuição de um valor transaccionável ao carbono evitado cada vez que se usa um meio de transporte sustentável? É isso mesmo que se prepara em Matosinhos.

O objectivo de atribuir um valor ao CO2 foi desenvolvido em Portugal pelo CEIIA - Centro de Excelência para a Inovação da Indústria Automóvel, que na manhã desta terça-feira lançou em Matosinhos, na primeira Zona Livre Tecnológica (ZLT) nacional, o projecto piloto WeShare by AYR (WSbA), que pretende escalar para o mundo.

O programa começou a dar os primeiros passos aproximadamente há dois anos. A primeira fase serviu essencialmente para validar a forma como se classificam as emissões poupadas, a segunda fase passou por dar um valor às emissões associadas a múltiplos de toneladas de carbono e a terceira fase está ligada à componente transaccional sob a forma de AYR credits - unidade de moeda de troca a ser usada em transacções entre cidadãos e empresas para fomentar uma economia verde.

Agora, em ambiente real, esta primeira fase do WSbA, funcionará dentro dos limites da ZLT – da Senhora da Hora até à marginal de Matosinhos -, mas reservada aos funcionários do CEIIA, que ao seu dispor terão cerca de uma centena de bicicletas e trotinetas eléctricas para as suas deslocações pendulares. Através de uma aplicação móvel, será possível quantificar as emissões poupadas, convertendo-as em AYR credits. Esses créditos serão transaccionados em serviços de mobilidade que contribuam também para a redução de emissões.

Será assim até final de Maio, altura em que o serviço se alargará aos matosinhenses, que terão acesso a cerca de 250 destes veículos em postos que serão montados dentro da ZLT por um fornecedor que será escolhido no final do concurso público já lançado. O primeiro posto está montado nas instalações do CEIIA e foi inaugurado pelo presidente executivo da empresa, José Rui Felizardo, pela presidente da câmara de Matosinhos, Luísa Salgueiro, e pelo secretário de Estado Adjunto e da Mobilidade, José Mendes, que deram a este ponto o nome de João Vasconcelos, em homenagem ao ex-secretário de Estado da Indústria, falecido no final de Março.

Diz o presidente do CEIIA que este projecto se destaca dos outros semelhantes, com base na partilha de transporte, “não na forma como as pessoas se deslocam”, mas pela forma como são compensadas, a partir da “quantificação das emissões poupadas e da possibilidade das mesmas serem valorizadas”.

Matosinhos será o ponto de partida de um projecto que afirma ter sido concebido para escalar a nível global. A 13 de Maio será apresentado em Nova Iorque. O objectivo é que vá sendo alargado a outras cidades nacionais e internacionais.

A autarquia local seguirá o mesmo exemplo e, ainda este ano, os 2 mil funcionários que trabalham na câmara terão também acesso ao WSbA. Diz Luísa Salgueiro que esta iniciativa é uma extensão natural do programa Living Lab – o protótipo de um bairro inteligente de teste para tecnologias de descarbonização. Afirma que, quando o programa se alargar à cidade, os créditos poderão não apenas ser trocados por outras soluções de transporte de partilha que surgirão no âmbito do projecto, mas também por produtos de origem biológica, nomeadamente, os que se vendem no mercado de Matosinhos. Adianta ainda que, “assim que a legislação permitir”, serão testados veículos autónomos.

O secretário de Estado diz que ainda não é possível integrar esta forma de pagamento na rede de transporte público, mas afirma ser uma alternativa para ser abraçada: “À medida que as soluções forem testadas vamos tentar criar formas de introduzir estes sistemas de compensação no transporte público”.

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