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Portugueses na Beira exigem linha de crédito e protecção especial

Carta assinada por 51 portugueses acusa o consulado de pouco ter feito para os ajudar. Secretário de Estado das Comunidades pede "calma e sensatez" e admite discutir linha de crédito.

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LUSA/TIAGO PETINGA
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Reuters/SIPHIWE SIBEKO
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Dezenas de portugueses que moram na cidade moçambicana da Beira, uma das mais afectadas pela passagem do ciclone Idai, acusam o consulado português de pouco ter feito para os ajudar, e exigem uma linha de crédito e segurança para enfrentarem os efeitos do desastre.

A queixa foi feita numa carta assinada por 51 portugueses e entregue ao secretário de Estado das Comunidades, José Luís Carneiro, na visita a uma das regiões mais afectadas pelo ciclone e pelas inundações que fizeram, pelo menos, 440 mortos – 242 em Moçambique, 139 no Zimbabwe e 59 no Malawi.

“Este é um documento não emotivo, mas sim uma exigência que deve ser tomada em conta pelo Governo português”, disse o empresário Joaquim Vaz num encontro o governante, segundo a agência Lusa.

No encontro, os portugueses queixaram-se de que os consulados não têm telefones de satélite para situações de emergência e fizeram duas exigências: a aprovação de uma linha de crédito para emergências e reconstrução, e a presença constante de uma força especial para os proteger do caos que se segue quase sempre a uma situação como a que se vive na Beira e outras cidades moçambicanas.

Em resposta, o secretário de Estado das Comunidades disse que Portugal não tem autonomia “para designar forças especiais para proteger só os portugueses”.

José Luís Carneiro mostrou abertura para discutir a aprovação de uma linha de crédito e pediu “calma e sensatez” enquanto as decisões estão a ser tomadas.

Mais ajuda da UE e EUA

Também esta quinta-feira, a União Europeia (UE) activou o seu mecanismo de protecção civil para ajudar os governos de Moçambique, Zimbabwe e Malawi a fazerem frente às consequências das inundações e da passagem do ciclone Idai pela região, na quinta-feira da semana passada. Mas a chegada dessa ajuda ao terreno ainda não tem data marcada, porque depende de uma “avaliação das necessidades”.

A informação foi avançada pela alta-representante da UE para a Política Externa, a italiana Federica Mogherini, à saída de um encontro com o primeiro-ministro português em Bruxelas. Mogherini e António Costa encontraram-se à margem do Conselho Europeu para falarem sobre a resposta europeia ao desastre no Sudeste africano, que afectou principalmente a província moçambicana de Sofala e as cidades da Beira e Búzi.

“Moçambique tem de saber que a UE, e eu pessoalmente, estaremos totalmente mobilizados para os acompanhar passo a passo e para ajudar o país a recuperar desta tragédia terrível. Estamos lá para os apoiar com toda a nossa energia e com todos os nossos recursos, também de uma forma coordenada com os Estados-membros. E quero agradecer a Portugal pelo que já tem feito”, disse Federica Mogherini.

Ao seu lado, António Costa recordou que o Governo português enviou um avião C-130 para Moçambique na noite de quarta-feira, com uma força de reacção rápida constituída por 25 fuzileiros, dez elementos do Exército, três da Força Aérea e dois da GNR. E anunciou o envio de outro avião C-130 ainda esta quinta-feira.

A activação formal do mecanismo europeu de protecção civil permite que os 28 Estados-membros enviem para Moçambique, Zimbabwe e Malawi um pacote de ajuda muito mais significativo do que os 3,5 milhões de euros anunciados na terça-feira – dois milhões dos quais foram para Moçambique.

“Para mim, foi muito importante enviar um sinal imediato, mesmo que dois milhões seja muito pouco atendendo às necessidades, mas era importante para nós mobilizar este dinheiro assim que soubemos da tragédia”, disse Mogherini.

A responsável pela Política Externa da UE não soube dizer quando é que a ajuda do mecanismo de protecção civil chegará às zonas afectadas pelo ciclone Idai. Federica Mogherini disse apenas que o Governo de Moçambique já pediu essa ajuda – um passo essencial para iniciar o processo – e que agora é preciso esperar por uma avaliação das necessidades.

“Estamos prontos a mobilizar mais dinheiro, também do orçamento da UE, assim que chegar a avaliação das necessidades. Também é importante que as autoridades moçambicanas adiantem pedidos específicos, sobre o que é preciso e onde. Sei que é muito difícil actuar nestas circunstâncias”, disse.

Os EUA também anunciaram que estão disponíveis para se juntarem às operações de socorro em Moçambique, assim que esse pedido for feito pelo Governo do país. “A equipa de resposta a desastres está mobilizada. Temos um avião militar em Maputo”, avançou a agência Reuters com base nas notas de uma reunião que decorreu na quarta-feira.

Mais de 50 milhões de euros

Segundo uma avaliação feita pela agência Lusa na quarta-feira, o total da ajuda internacional ronda os 50 milhões de euros, destacando-se os 20 milhões de euros do Governo do Reino Unido e uma verba semelhante desbloqueada pelas Nações Unidas.

Em Portugal, para além da ajuda enviada pelo Governo e da assistência no terreno de organizações como os Médicos Sem Fronteiras, há mais entidades a anunciar o envio de dinheiro ou recolha de donativos.

A Fundação Calouste Gulbenkian vai doar 100 mil euros, “especificamente vocacionados para a aquisição de medicamentos e outros consumíveis na área dos cuidados de saúde"; a empresa Mota-Engil vai custear “obras de recuperação de estradas e pontes” no valor de um milhão de euros; e os dois maiores clubes de Lisboa vão recolher donativos – o Benfica entre esta quinta-feira e o dia 31 de Março, no Estádio da Luz; e o Sporting no dia 3 de Abril, no Estádio José Alvalade, no dia do segundo jogo da meia-final da Taça de Portugal contra o Benfica.

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