Obras no quebra-mar de Leixões vão avançar sem garantia de que o surf sobreviverá

No dia em que foi lançado o concurso para aumento do molhe, a ministra do Mar esteve em Viana do Castelo para anunciar o avanço de novo acesso rodoviário à área portuária minhota.

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nelson garrido

Pouco mais de duas semanas depois de Ana Paula Vitorino ter anunciado no Terminal de Cruzeiros de Leixões, com o investidor turco Yilport, um investimento de 43,4 milhões de euros para o Projecto de Reconversão do Terminal de Contentores Sul do Porto de Leixões, a ministra do Mar voltou esta quarta-feira ao mesmo local com novidades — o concurso para as obras de prolongamento do quebra-mar exterior em 300 metros e de aprofundamento do canal de entrada, anteporto e bacia de rotação do Porto de Leixões está lançado.

Na apresentação, passa um vídeo com imagens da maqueta do projecto e com outras do ambiente de toda aquela área que separa a praia de Leça da de Matosinhos. A pintar o cenário estão os trabalhos diários levados a cabo no Porto e algumas actividades de lazer que de há largos anos para cá carimbaram a praia de Matosinhos como um local de excelência para a prática do surf.

Pois esta é uma imagem que poderá ser apagada da paisagem futura da praia, na sequência desta obra orçada em 147 milhões de euros, com prazo de execução de 5 anos. Em Abril do ano passado, um grupo de surfistas protestou contra o avanço desta obra, alertando que o prolongamento do molhe acabaria com a “onda de Matosinhos”. A obra vai avançar e os surfistas continuam a não estar satisfeitos.

À margem da apresentação, aos jornalistas, Ana Paula Vitorino, não conseguiu dar uma resposta esclarecedora relativamente a esta matéria. Admitiu que a obra terá impacto nas actividades que vivem da praia e do mar, nomeadamente para a pesca, mas também para os desportos náuticos. Se o primeiro ponto diz já ter sido resolvido com a Docapesca, o segundo está longe de o ser.

A ministra não consegue dar uma resposta definitiva de forma a garantir que o surf continuará a ser praticado na praia de Matosinhos, mas afirma que existirão medidas compensatórias para todos os que vivem da “economia do mar”. Para isso, afirma existir uma “almofada” de 2 milhões de euros para ser aplicada nas compensações. Recorde-se que nesta praia existem várias escolas de surf e de aluguer de equipamento.

Parte dessas compensações poderão passar por encontrar uma alternativa para a prática da modalidade. Por alternativa, entenda-se, “outro sítio”. Os negócios que tiverem que se mudar, “serão ressarcidos de todas as despesas”.

A obra avançará ao mesmo tempo que, durante cinco anos, serão estudados os impactos in loco. Porém, até lá, “ninguém sabe quais são”.

Porto de Viana com novo acesso

Na manhã do mesmo dia em que o lançamento do concurso para esta obra de Leixões foi apresentado, a ministra visitou o porto de Viana de Castelo com o primeiro-ministro, António Costa, para anunciar duas obras nesta área portuária também gerida pela APDL.

Até 2020, o porto terá um acesso directo a partir da A28. A rodovia de 8,8 quilómetros de extensão a ligar a A28 ao porto em São Romão de Neiva, com duas faixas de rodagem de 3,5 metros de largura, custará 7,3 milhões de euros.

Na mesma cerimónia foi anunciado o concurso para o aprofundamento do anteporto e do canal de acesso aos Estaleiros Navais e Cais do Bugio — orçadas em 29,6 milhões de euros, 11 milhões de origem privada. As intervenções, que deverão estar concluídas em 2021, passarão pelo aprofundamento do canal e o anteporto para menos seis metros e pela construção de um novo cais de 140 metros de comprimento e 40 metros de largura.

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