“É realmente dramático olhar para um rio e ver apenas lixo”: Mário Cruz nomeado para o World Press Photo

Imagem de uma criança no rio Pasig em Manila valeu ao fotojornalista português a entrada para os finalistas do World Press Photo de 2019. Mário Cruz, vencedor na edição de 2016 na categoria Temas Contemporâneos, espera que nomeação traga "visibilidade" à problemática ambiental.

Foto
Mário Cruz

O fotojornalista português Mário Cruz é um dos nomeados na categoria Ambiente do World Press Photo 2019, com uma imagem do rio Pasig em Manila, nas Filipinas, anunciou esta quarta-feira, 20 de Fevereiro, a organização do prémio internacional. Foi “com agrado” que o fotojornalista recebeu a nomeação, que espera que traga “visibilidade” não só à fotografia, mas principalmente a “alguns temas que, obrigatoriamente, têm de receber mais atenção”, sendo a poluição um deles, aponta, em entrevista telefónica ao P3.

Living Among What's Left Behind ("Viver entre o que foi deixado para trás", na tradução do inglês) é o título da imagem captada pelo fotojornalista da agência Lusa, que desenvolveu este projecto a título pessoal — será apresentado em Lisboa em Abril. Trata-se de um trabalho sobre comunidades de Manila que vivem sem saneamento, junto ao rio, rodeadas de lixo — “um exemplo extremo, mas real”. “É realmente dramático olhar para um rio e não ver água, apenas lixo”, comenta.

A imagem nomeada mostra uma criança que recolhe materiais recicláveis “para obter algum tipo de rendimento que lhe permita ajudar as famílias”, deitada num colchão rodeado por lixo que flutua no rio Pasig, que já foi declarado biologicamente morto na década de 1990. “Não é um cenário projectado para um futuro negro. É a actualidade, o que se está a passar neste preciso momento.”

Os nomeados foram anunciados no site do galardão dedicado ao fotojornalismo que é atribuído desde 1955, premiando as imagens mais marcantes recolhidas no ano anterior em várias categorias. Este ano, o júri da 62.ª edição avaliou 78.801 imagens captadas por 4.738 fotógrafos que concorreram ao prémio. Os nomeados das várias categorias são todos premiados e vão integrar a exposição itinerante do galardão, mas só em Abril o júri irá divulgar a fotografia do ano e as várias classificações nas respectivas categorias. 

Obter um lugar no pódio diz “muito pouco” ao fotojornalista: “Sei que é bom ter uma distinção deste género — não para o fotógrafo, mas para os temas que o fotógrafo documenta — mas conseguir um primeiro, segundo ou terceiro lugar é irrelevante, tendo em conta que tenho garantia de que este será um tema discutido”, refere. Uma discussão que Mário Cruz espera que resulte “em algo concreto”.

Em 2016, o fotojornalista Mário Cruz conquistou o primeiro lugar na categoria Temas Contemporâneos, com um trabalho sobre a escravatura de crianças — dos meninos talibés — no Senegal, que veio a dar origem a um livro. O anúncio desta quarta-feira inclui os nomeados para o World Press Photo do Ano, e para os novos prémios que foram criados: o World Photo do Ano, o World Press Photo Interactive e o World Press Photo Vídeo online.