Quase dois terços dos alunos do ensino profissional concluíram o secundário sem atrasos
As escolas profissionais, na maioria privadas, continuam ter no conjunto melhores desempenhos, mas as secundárias públicas com esta via de ensino também já estão a dar cartas.
Professores com experiência no ensino profissional e com uma “disponibilidade constante” para os alunos, uma escola com espaços e materiais de qualidade e estudantes dedicados estão entre as principais razões que levaram a Secundária Dr. João Lopes de Morais, no distrito de Viseu, a ser a que mais se distinguiu no ensino profissional em 2016/2017, último ano com dados apurados.
É o que afirma Rui Costa, director do Agrupamento de Escolas de Mortágua, de que a secundária é a sede, onde existem dois cursos profissionais de nível secundário garantidos pela escola: Técnico de Manutenção Industrial - Variante Mecatrónica Automóvel e Técnico de Análise Laboratorial.
Todos os 18 alunos que entraram nestes cursos em 2014/2015 concluíram o secundário em 2016/2017. A secundária de Mortágua figura assim no pelotão das seis escolas que conseguiram uma taxa de conclusão do ensino profissional em tempo normal (três anos) de 100%.
Os alunos dos cursos profissionais não precisam de fazer os exames nacionais para concluir o ensino secundário. O mesmo já não acontece com os estudantes dos Cursos Científico-Humanísticos. Em 2016/2017, só 42% destes alunos conseguiram chegar ao fim do secundário sem chumbos.
Já no ensino profissional esta média sobe para 60%. No ano anterior tinham sido 56%. Por comparação a 2015/2016 há também a assinalar este facto: a proporção de secundárias públicas entre as 100 escolas com taxas de conclusão mais elevadas no ensino profissional subiu de 35% para 49%.
Para calcular o sucesso de uma escola profissional, o Ministério da Educação (ME) vê como esta se compara com o valor alcançado por escolas que têm um perfil semelhante de alunos, em termos de idade e de apoios da Acção Social Escolar. Considera-se que quanto maior for a diferença positiva em relação a este último valor, melhor é o desempenho da escola.
A escola de Mortágua foi a que mais superou a média de conclusões registada em 2016/2017 para alunos semelhantes (40%) e, por isso, encabeça o "pódio do sucesso" das escolas com ofertas de cursos profissionais.
Via profissional em 676 escolas
No total a oferta de cursos profissionais é garantida por 676 escolas: 414 secundárias públicas e 262 escolas exclusivamente profissionais, das quais a maioria é privada. Como o ME apenas contabilizou, para o cálculo das taxas de conclusão, as que tinham pelo menos 20 alunos inscritos nos cursos profissionais em 2016/2017, o número total das escolas que entram na análise do sucesso feita pelo ministério desce para 568.
Voltando a Mortágua, Rui Costa conta que os alunos que optaram pelo ensino profissional têm em comum “o facto de serem maioritariamente oriundos de aldeias e de terem algumas dificuldades económicas (cerca de 40% têm apoios da Acção Social Escolar)”.
Do grupo de 18 alunos que entraram em 2014/15, 61% estão hoje a trabalhar e 17% ingressaram no ensino superior. Mostraram ser, refere o director, “exemplo de dedicação, colaboração e envolvimento em todas as dimensões da vida escolar” e contaram com professores que souberam “dar resposta às suas dúvidas e dificuldades” por via de uma “diversificação de estratégias”, que privilegia “a componente prática e experimental”.
Por outro lado, a escola conseguiu ter “laboratórios e oficinas bem equipados”, o que é essencial nestes cursos. No conjunto, foi mais uma receita de sucesso para este estabelecimento de ensino que, no ensino secundário regular, também se destacou por estar entre os dez com melhores médias no exame de Física e Química A, do 11.º ano, sendo o único público neste grupo.
Rainha Dona Leonor em baixo
A avaliação com base nas taxas de conclusão em tempo normal, que foi feita agora pela segunda vez, tem em conta nesta edição os alunos que entraram em 2014/2015 para os cursos profissionais vindos directamente do 3.º ciclo do ensino básico. Dos 108.088 alunos que em 2016/2017 estavam inscritos no ensino profissional, 27.704 cumpriam estes requisitos. Foi com base neste universo que se calcularam as taxas de conclusão.
Situada numa zona privilegiada de Lisboa, a Escola Secundária Rainha Dona Leonor, em Lisboa, falhou nos dois parâmetros em análise. Só 11% dos 19 alunos que em 2014/2015 entraram ali para o profissional conseguiram concluir o curso no tempo normal, quando a média de escolas com alunos semelhantes foi de 58%. Ocupa assim penúltimo lugar entre as 568 escolas avaliadas. No final da tabela volta figurar a Escola Secundária de Alcochete.
Na Secundária Rainha Dona Leonor só existe um curso profissional: Técnico de Gestão e Programação de Sistemas Informáticos. A directora Hermínia Silva refere que o curso é procurado por alunos “com um perfil socioeconómico diversificado” e que não é esta a variável que pesa na fraca taxa de sucesso, mas sim “uma assiduidade irregular e dificuldades em algumas das disciplinas da formação científica, nomeadamente Matemática”.
Adianta que o desempenho dos alunos do profissional “tem sido alvo de uma reflexão crítica na escola com vista à implementação de estratégias mais adequadas, que alterem de forma positiva os resultados académicos dos alunos”. E que este ano iniciou-se um novo curso, também na área da informática, que “apresenta um currículo mais actualizado e, portanto, mais aliciante para os alunos”.
Já a directora da Escola Secundária de Alcochete, Cristina Alves, contesta esta forma de apreciar o trabalho das escolas, frisando que “em educação, a avaliação por comparação é um trabalho desadequado”. Refere que existem “discrepâncias” entre os resultados apresentados pelo ME e os recolhidos pela escola, que estão agora a ser confirmados, e frisa que a oferta de ensino profissional ali existente tem permitido “aos jovens de Alcochete duas alternativas credíveis: a integração no mundo do trabalho ou o prosseguimento de estudos”.