Mulher de 60 anos morta no Seixal. Suspeito está fugido com filha de dois anos

Suspeito será o genro que está fugido e tem consigo a filha de dois anos. Este ano nove mulheres já foram assassinadas.

Foto
Fábio Augusto

Uma mulher de 60 anos foi encontrada morta nesta manhã de segunda-feira, no interior da sua residência, em Cruz de Pau, no Seixal. Fonte do Comando Distrital de Setúbal da PSP disse à Lusa que o genro da vítima, que foi visto a abandonar o prédio, é o principal suspeito do crime. O homem está fugido e tem consigo a filha de dois anos. Desde o início do ano nove mulheres foram assassinadas. No ano passado foram 28.

Contactado pelo PÚBLICO, o director adjunto nacional da Polícia Judiciária, Carlos Farinha, confirmou o homicídio da mulher de 60 anos, mas remeteu mais pormenores para o final das investigações. Diz a mesma fonte que no local estão a Polícia Judiciária, Polícia de Segurança Pública e Guarda Nacional Republicana.

Fonte do INEM adiantou ao PÚBLICO que o alerta que recebeu dava indicação de uma mulher vítima de várias agressões com uma faca. Para o local foram encaminhados os bombeiros da Amora e a equipa de psicólogos do INEM. As autoridades no local, após a confirmação do óbito, accionaram o delegado de saúde pública.

Citada pela Lusa, fonte da PSP diz que a polícia foi alertada cerca das 8h30 por moradores do prédio para um caso de violência doméstica, que terminou com o esfaqueamento da vítima. Testemunhas relataram à polícia que o suspeito abandonou o local numa viatura, em que também transportava a filha menor, com cerca de dois anos.

O PÚBLICO apurou, no entanto, que a menina estava legitimamente com o pai antes de tudo acontecer, tendo ficado no carro durante o crime. Não é claro o que o suspeito foi fazer a casa dos sogros. Poderá ter ido tentar falar com a mulher, de quem estava separado há algum tempo, e que, apesar de ter casa própria, tinha ficado nas últimas noites a dormir em casa dos pais. 

Para esta segunda-feira estava marcada, no Tribunal de Família e Menores do Seixal, uma sessão destinada a regular as responsabilidades parentais sobre a criança. O casal não se entendia sobre o tempo que a criança devia passar com cada um dos pais. 

Contactada pelo PÚBLICO, fonte da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Protecção das Crianças e Jovens garante que na congénere do Seixal "não há qualquer processo a decorrer relativo a esta família."

Nove mulheres assassinadas este ano

Desde o início deste ano, incluindo já o caso desta segunda-feira que ocorreu no Seixal, que nove mulheres foram assassinadas. Elisabete Brasil, responsável pelo Observatório das Mulheres Assassinadas, adiantou ao PÚBLICO que em Janeiro foram oito.

Em Fevereiro este é o primeiro caso. No passado dia 1, a Polícia Judiciária deteve um homem de 71 anos pela prática de um crime de homicídio qualificado na forma tentada. Em reacção à decisão da esposa terminar a relação, o indivíduo, que não tinha antecedentes criminais, abordou a vítima na casa em que esta passou a viver após a ruptura conjugal, em Santo Tirso, e atingiu-a com uma facada no pescoço. A intervenção de um vizinho impediu a morte.

No ano passado a contabilidade ascendeu a 28 mulheres mortas.

“É horrível”, afirmou a responsável, referindo que o femicídio não está a diminuir. “A maior parte dos crimes contra mulheres não acontece da mesma forma que a restante violência. Não cessa. Enquanto o homicídio, como crime mais grave, entre os crimes violentos, tem registado uma tendência de diminuição, o femicídio tem-se mantido estável. A morte de mulheres não está a baixar”, alerta.

Este foi um início de ano com um número elevado de homicídios de mulheres, mas Elizabete Brasil explicou que em anos anteriores houve meses que registaram valores superiores, de dez e de 12 mortes. A ocorrência mensal de homicídios, acrescentou a responsável, já foi alvo de estudos. Concluiu-se que nos meses de Verão o registo de casos é superior. "São meses de férias, em que as pessoas passam mais tempo juntas e há uma agudização das situações. Mas temos verificado que a violência sobre mulheres ocorre independentemente dos meses."

Para a responsável do Observatório — organismo criado pela União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR) —, “não há dúvida do que estamos a falar é de violência de género”.

“Não temos sido capazes de fazer uma prevenção capaz” para reduzir o número de mulheres mortas, salientou Elisabete Brasil. “Neste contexto temos de ir às causas. Sabemos que este tipo de crime tem como causa a discriminação de género. Temos de aliar a sensibilização, a informação com acções que permitam mudar uma cultura patriarcal que legitima a violência contra mulheres”, defendeu.

Este trabalho que tem de ser feito nas escolas, nas associações, na saúde, nos tribunais, na sociedade civil. Elisabete Brasil recordou relatórios recentes para lembrar que as “entidades públicas e privadas não estão a fazer a prevenção que devem fazer”.

“É preciso passar a informação e trabalhar de forma articulada. Não é possível que uma mulher apresente uma denúncia e 90 dias depois ninguém tenha feito nada. Não é dizer às vítimas que denunciem. Os organismos e o Estado têm de agir em concordância, sob risco de as vítimas perderem a confiança no sistema de apoio”, alertou. Com Mariana Oliveira