Morreu William Goldman, o homem que nos fez seguir o dinheiro

O argumentista de filmes como Dois Homens e um Destino, Os Homens do Presidente ou A Princesa Prometida morreu esta sexta-feira em Manhattan. Tinha 87 anos.

Foto

"Siga o dinheiro". Estas palavras, atribuídas ao informador Garganta Funda, não aparecem nos artigos nem nas notas que Carl Bernstein e Bob Woodward escreveram sobre o Watergate. Mas ficaram para a História em Os Homens do Presidente, filme que Alan J. Pakula realizou em 1976, com Dustin Hoffman e Robert Redford nos papéis dos dois jornalistas do Washington Post que investigaram, na sequência da entrada de elementos do Partido Republicano nas instalações do Partido Democrata, os abusos de poder da Administração Nixon. Foram escritas pelo argumentista William Goldman, que recebeu um Óscar por esse argumento. Goldman morreu esta sexta-feira, na sua casa em Manhattan, Nova Iorque, aos 87 anos, vítima de complicações causadas pelo cancro do colón e pneumonia. O próprio Washington Post deu a notícia, citando como fonte a filha do argumentista, Jenny Goldman.

Não foram as únicas palavras que Goldman, que nasceu em Highland Park, no Illinois, em 1931, escreveu, obviamente. Ele foi altamente prolífico: vários filmes importantes foram feitos a partir de guiões assinados por si, elevando-o a um estatuto que raros argumentistas atingiram em Hollywood.

De Dois Homens e um Destino, a história de Butch Cassidy e o Sundance Kid realizada por George Roy Hill em 1969, com Paul Newman e Robert Redford, que lhe valeu um Óscar de Melhor Argumento Original, a A Princesa Prometida, realizado por Rob Reiner em 1987 e adaptado de um romance do próprio Goldman, fantasia pós-moderna com princesas, piratas, aldrabões e André the Giant contada por Peter Falk ao seu neto doente, a marca que o argumentista deixou foi imensa e a sua fama tanta que há um rumor antigo em Hollywood de que foi ele e não Matt Damon e Ben Affleck quem assinou o oscarizado guião de O Bom Rebelde, de Gus Van Sant - o que Goldman sempre negou.

Foi dele, por exemplo, o guião, mais uma vez adaptado de um livro seu, de O Homem da Maratona, filme de John Schlesinger de 1976, fonte de uma das mais famosas histórias de Hollywood. Durante a rodagem, Dustin Hoffman, actor do Método, terá ficado acordado noites a fio para filmar cenas de tortura. O britânico Laurence Olivier, sem paciência para tais acções, ter-lhe-á perguntado: "Por que é que não tenta só representar?"

Redford era um actor recorrente na sua obra, tendo protagonizado também filmes como o assalto a um museu de O Grande Golpe, de Peter Yates, lançado em 1972. Goldman também voltaria a trabalhar memoravelmente com Reiner, adaptando O Capítulo Final, de Stephen King, para cinema, - um filme com James Caan e Kathy Bates, em 1990. Entre outras adaptações de livros que não eram seus, também assinou a de Mulheres Perfeitas, a partir do livro homónimo de terror satírico de Ira Levin, para Bryan Forbes.

Entre as numerosas publicações extra-cinematográficas de William Godman contam-se romances, livros de memórias ou entrevistas sobre Hollywood, o guionismo e a indústria cinematográfica, como Adventures in the Screen Trade, de 1983 (donde saiu a famosa citação "ninguém sabe nada"), ou Which Lie Did I Tell?, do ano 2000, entre muitos outros, bem como peças de teatro e histórias para crianças.

Sugerir correcção
Comentar