Bienal de Vinhais volta a celebrar a obra de Jorge Lima Barreto
O destaque desta terceira edição, que decorre de sexta-feira a domingo, vai para o concerto de revisitação de Belzebu, o icónico álbum dos Telectu.
A Bienal de Vinhais vai juntar de sexta-feira a domingo artistas nacionais e estrangeiros para perpetuar a obra e o legado de Jorge Lima Barreto (1949-2011), músico e musicólogo natural daquele concelho transmontano.
O Centro Cultural Solar dos Condes de Vinhais será o palco da III Bienal Jorge Lima Barreto, uma iniciativa do município que inclui concertos, oficinas, conferências, exposições e instalações. As actividades são gratuitas à excepção dos concertos previstos para cada uma das noites da bienal (o passe para os três concertos custa 12 euros, o bilhete unitário custa cinco), como explicou à Lusa o vereador da Cultura da Câmara de Vinhais, Artur Marques.
Esta terceira edição da bienal pretende ir ao encontro da "aventura musical" de Jorge Lima Barreto, "assumindo o compromisso de educar para a criatividade, para a música viva aliada à comunicação estética, para a arte como forma de estar e para a liberdade de pensamento", como destacou o autarca. "Porque é esta trajectória que Jorge Lima Barreto seguiu e defendeu com toda a coerência e perseverança", acrescentou.
Ao longo deste fim-de-semana, 12 artistas nacionais e estrangeiros pisarão o palco do Teatro Municipal do Centro Cultural de Vinhais, com destaque para o concerto dos Telectu com António Duarte e Vítor Rua, uma revisitação (que teve a sua primeira apresentação em Junho no Teatro Maria Matos, em Lisboa) do icónico álbum Belzebu (1983), "do qual Jorge Lima Barreto foi mentor", como divulgou a autarquia.
Entre os nomes anunciados estão também o baterista Chris Cutler e o guitarrista alemão Jochen Arbeit, bem como o português Tó Trips, guitarrista que integra actualmente os Dead Combo, Nuno Reis e Gimba.
Participarão ainda Bárbara do Canto Lagido, Helena Espvall, Marco Franco, Bernardo Devlin, Ilda Teresa Castro, Kersten Gladien, Gonçalo Falcão, Feliciano de Mira, Rui Duarte e Luís Mendes de Almeida.
"Arte é Vida é Arte" é o lema da bienal que nesta terceira edição contará com a participação, num dos espectáculos, de Luís Lima Barreto, irmão do homenageado, segundo adiantou o vereador Artur Marques.
A iniciativa foi criada para homenagear e lembrar um dos maiores musicólogos portugueses, natural de Vinhais.
Jorge Lima Barreto morreu em 2011, com 61 anos. Fundou os Anar Band com Rui Reininho, a Associação Conceptual de Música e o Anar Jazz Trio com Carlos Zíngaro e António Pinho Vargas, os Telectu com Vítor Rua, e os Zul Zelub com Jonas Runa. No âmbito das correntes musicais desenvolvidas em torno da música minimal repetitiva, experimental e electrónica, destacou-se também como conferencista e jornalista e pela vasta obra discográfica e bibliográfica publicada.
Licenciado em História da Arte, Jorge Lima Barreto deixou mais de 20 obras publicadas, entre as quais Revolução no Jazz (1979), Jazz-Off (1973), Grande Música Negra (1975), Jazzband (1976), Música Minimal Repetitiva (1983), Nova Música Viva (1983), Musa Lusa (1997) e Musonautas (2001). Algumas delas constituem uma referência bibliográfica imprescindível a músicos e musicólogos.
Em 2013, o município de Vinhais atribuiu-lhe, a título póstumo, a Medalha de Mérito Municipal. No ano seguinte, promoveu a primeira bienal para "perpetuar, aprofundar e divulgar o trabalho de Jorge Lima Barreto, como músico, musicólogo, performer, escritor e, acima de tudo como referência incontornável da música improvisada, minimal repetitiva e experimentalista, abrindo pistas para o estudo e compreensão da arte musical".
De acordo com o autarca, a bienal chama a Vinhais "especialistas, conhecedores da obra e curiosos" e mesmo as gentes locais também têm aderido nas edições anteriores.
Com o evento, o município transmontano quer contribuir para a projecção cultural desta região do interior, onde, como disse Artur Marques, "tudo é mais difícil de acontecer, mas onde as vontades são maiores do que as distâncias".