Incêndios de Monchique ameaçam a águia-perdigueira

Pelo menos quatro casais desta ave classificada “em perigo” em Portugal poderão ter sido directamente afectados.

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A serra de Monchique é um dos núcleos populacionais mais importantes para a águia-perdigueira em Portugal Leonardo Fernandez Lázaro

Os incêndios de Monchique – dados como controlados pela Protecção Civil esta sexta-feira de manhã – puseram em perigo a águia-perdigueira, alertou a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), que já a tinha considerado a ave do ano de 2018. A região dos incêndios que já devastaram milhares de hectares é um dos “mais importantes núcleos da espécie do país” e, pelo menos, quatro casais desta espécie de águias poderão ter sido directamente afectados.

“Pelos dados que temos disponíveis, há, pelo menos, quatro casais que nidificam na zona que ardeu com vários ninhos que poderão ter desaparecido com o fogo. E há outros casais em territórios próximos que também podem ter sido afectados ou ainda estar em risco”, referiu em comunicado Joaquim Teodósio, coordenador do Departamento de Conservação Terrestre da SPEA, destacando que no Sul do país as águias-perdigueiras preferem nidificar em árvores de grande porte. “Por isso, há o risco de o fogo destruir não só os ninhos, mas também as outras árvores em que estes casais poderiam fazer ninhos novos.”

Além do impacto sobre os ninhos, estes incêndios também poderão provocar escassez de alimentos para a águia-perdigueira, pois terão “certamente causado” a morte de perdizes, pombos, coelhos e outras presas. “Neste momento, ainda não é possível saber qual vai ser o impacto concreto”, salientou Joaquim Teodósio. “Apesar de os fogos serem frequentes neste tipo de habitats, neste caso são áreas incrivelmente extensas onde o fogo está a passar, mas pode ser que nalguns casos não tenha afectado todos os ninhos e outras áreas importantes para estes casais. Só mais tarde, no rescaldo do fogo e com um acompanhamento a longo prazo das aves, é que vamos poder aferir as consequências.” 

Joaquim Teodósio acrescentou ainda que a serra de Monchique é um dos núcleos populacionais mais importantes para esta espécie em Portugal. “As serras de Monchique e do Caldeirão são onde ocorrem os maiores e mais densos núcleos de águias-perdigueiras do país, que são também relevantes a nível europeu ibérico e europeu”, indicou.

A águia-perdigueira (Aquila fasciata) é a mais pequena das três águias de Portugal e uma “exímia caçadora”, que, além dos pombos, perdizes (o que lhe deu o nome comum) ou coelhos, pode capturar presas como a garça-real. Enquanto os indivíduos juvenis têm uma plumagem distinta dominada por tons ruivos, os adultos têm corpo claro, asas escuras e uma mancha branca no dorso.

A sua população está classificada “em perigo” pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. No site da SPEA lê-se que, em 2011, estimava-se que havia entre 116 e 123 casais reprodutores e que cerca de 70% nidificariam em árvores – ao contrário de muitas outras populações europeias, que nidificam em rocha.

“Esta exímia caçadora está actualmente em expansão no Sul do país, mas continua a enfrentar diversas ameaças, na maioria provocadas pelo homem”, referia a SPEA num texto da apresentação da ave do ano de 2018, que já teve de enfrentar os incêndios de Monchique.

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