Azeredo Lopes empurra polémica de Tancos para chefe do Exército
Ministro é ouvido nesta terça-feira no Parlamento. A 21 de Novembro, em audição à porta fechada, Rovisco Duarte tinha garantido aos deputados que apenas continuavam em falta algumas munições de 9mm.
O ministro da Defesa, José Azeredo Lopes, deverá remeter para o Ministério Público e para o chefe de Estado-Maior do Exército mais explicações sobre o facto de, alegadamente, permanecer desaparecida uma parte das munições roubadas em Tancos em Junho do ano passado. Azeredo Lopes vai ser questionado nesta terça-feira na Comissão Parlamentar de Defesa sobre o facto de uma exposição do Ministério Público, noticiada no sábado pelo Expresso, indicar que 30 cargas de explosivos, três granadas ofensivas, duas granadas de gás lacrimogéneo e um disparador de descompressão estão desaparecidos. Ou seja, o material roubado não terá sido todo devolvido a 18 de Outubro, na Chamusca, como se pensava.
A informação de que há material em falta é do Ministério Público e, aí, Azeredo tenciona repetir aquilo que já disse no comunicado de domingo: “Os esclarecimentos sobre o andamento da investigação, que todos aguardamos, só podem ser prestados pelo Ministério Público.”
Quanto à lista do material furtado, essa é da responsabilidade do Exército, considera o Ministério da Defesa. Essa lista consta do texto “Tancos 2017, factos e documentos”, publicado no site do Governo, e consta também de documentação enviada à comissão de Defesa.
Nunca o chefe de Estado-Maior do Exército (EME) transmitiu aos deputados a informação de que estava em falta uma parte significativa das munições roubadas que pode servir para explosões controladas. Na última vez que foi ouvido no Parlamento, a 21 de Novembro do ano passado, e já depois de as caixas com munições terem aparecido na Chamusca, Rovisco Duarte voltou, apurou o PÚBLICO, a dizer o que já dissera antes: que faltavam apenas munições de 9mm que eram fáceis de vender no mercado negro por serem usadas em muitas armas. E ninguém lhe pediu a lista de bens devolvidos para a confrontar com a lista do material roubado. Contactado pelo PÚBLICO, o Exército “não comenta” quaisquer notícias sobre a investigação de Tancos.
Ocultar para investigar?
No meio militar, acredita-se, no entanto, que o Ministério Público não terá sido apanhado de surpresa pelo facto de ainda haver munições por recuperar e que essa informação sobre o material que permanece desaparecido poderá ter sido ocultada da opinião pública apenas por conveniência da investigação.
No primeiro comunicado sobre o furto, o Exército escreveu que, “apesar de se entender que os números e quantidades exactas não devem ser publicamente difundidos para não prejudicar as investigações em curso, esclarece-se que os trabalhos de contagem de materiais foram elaborados pelo Exército na presença da Polícia Judiciária Militar (PJM), sendo, portanto, do conhecimento das autoridades competentes e da tutela”. Esta teoria esbarra, porém, na preocupação expressa de forma enfática pelo Presidente da República, que é também comandante supremo das Forças Armadas e que, nessa qualidade, estaria a par de alguma manobra de ocultação, se fosse o caso.