Biologia sintética pode fazer com que aos 80 tenhamos corpo de 50

Biólogo e físico espanhol diz que que dentro de dez anos os robôs terão capacidade para aprender com as pessoas e partilhar memórias, podendo desenvolver relações "muito fortes" com os seres humanos

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Andrea Comas/Reuters

"Nos próximos dez anos, os robôs vão estar em casa, vão aprender com o humano, vão falar com ele, vão ser inteligentes e nós vamos criar uma relação muito forte com robôs", disse à agência Lusa Ricard Solé, autor da obra "Vidas Sintéticas" e líder do Laboratório de Sistemas Complexos, em Barcelona, Espanha.

Para o físico focado em biologia sintética, o robô, ao poder ser uma "extensão do ser humano que aprende, tem percepção e memória", pode levar à definição de uma nova entidade "entre robô e humano". Fascinado com essa possibilidade, Ricard Solé admite que não sabe "como é que isso vai afectar as pessoas", mas está seguro que isso "vai acontecer no curto prazo". Mas a biologia sintética, diz, também pode fazer com que alguém mais velho tenha um corpo de alguém mais novo. 

Segundo o investigador, um "robô com capacidade de aprender e com autonomia suficiente para andar" vai partilhar "memórias, percepções e personalidades". "Um cão ou um gato não falam, mas os donos criam uma relação muito forte com os seus animais domésticos. Imagine-se alguém que fala com a pessoa, que evolui no pensamento e que se pode lembrar de coisas", apontou o investigador, que apresenta esta quinta-feira uma palestra no Encontro Português de Inteligência Artificial (EPIA), que decorre até esta sexta-feira no Departamento de Matemática da Universidade de Coimbra.

Recordando o filme "Robot and Frank", que aborda o caso de uma pessoa com Alzheimer e que cria uma relação com um robô que tem memória, o cientista catalão considerou que "isso pode realmente acontecer". Hoje, já há "robôs que desenvolvem uma gramática, que não é programada, já há robôs que mentem, mas inconscientemente, ou um robô que se reconhece ao espelho", constatou.

No entanto, o caminho trilhado pela ciência não parece levar à criação de máquinas imprevisíveis. Para isso, a máquina "tem de fazer escolhas" e, na sua perspectiva, as máquinas "não têm consciência e ainda não têm o conceito de tempo". Segundo Ricard Solé, está-se "num momento histórico" em relação à vida artificial, considerando que a partir da biologia sintética e da inteligência artificial podem-se "não apenas estudar sistemas, mas fazer sistemas e reinventar as maiores transições e, por exemplo, construir uma célula artificial e tentar perceber como a evolução foi feita e ver se há outras formas de evoluir, outras transições".

Fintar o envelhecimento?

Por exemplo, no seu laboratório, ao se abordarem transições sintéticas e sistemas complexos, estuda-se a "modificação de bactérias que se podem comportar e comunicar como uma colónia de formigas". Outra possibilidade é a criação de organóides, uma espécie de híbrido entre órgãos sólidos e líquidos (como o sangue) que sejam introduzidos no corpo e depois desintegrados por activação de um feixe de luz, que é "um enorme espaço vazio ainda não explorado" e, apesar de ainda ser "ficção científica, é possível".

"É um enorme potencial para a biomedicina", sublinhou, considerando que os desenvolvimentos em torno da biologia sintética podem fazer com que "um homem chegue aos 80 anos com um corpo de 50. Nós podemos fintar o envelhecimento", frisou Ricard Solé.

O EPIA começou na terça-feira, tendo já participado Hélder Coelho, um dos pais da inteligência artificial em Portugal, e François Pachet, director do Laboratório de Informática da SONY, em Paris.

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