O quebra-mar de Leixões vai aumentar e o surf pode sair prejudicado

São 300 metros a acrescentar a um dos pontões do Porto de Leixões mas há receios que este aumento prejudique a circulação da água, ponde em risco a “onda de Matosinhos”. Os surfistas já protestam.

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paulo pimenta

Entre 2016 e 2017, os municípios de Matosinhos e Porto registaram um aumento de 63% nas pesquisas relacionadas com surf. Os dois concelhos, em conjunto, ultrapassam Peniche, o destino mais pesquisado quando o objecto da busca são as escolas de surf e o turismo associado ao desporto, e mais de um terço do total da Nazaré, o destino mais procurado para a prática da modalidade. Estes dados divulgados esta semana pela empresa Bloom Consulting, à margem da apresentação do programa da terceira edição do evento dedicado aos desportos náuticos Porto & Matosinhos Wave Series, revelam que a costa destas duas cidades vizinhas tem-se afirmado “cada vez mais” como destino de preferência para a prática do surf. Mas o prolongamento do molhe de Leixões está a preocupar pelos eventuais impactos nas ondas da região.

A praia de Matosinhos foi e continua a ser a casa de muitos campeões das ondas e o berço de muitos outros praticantes. O areal extenso que começa onde a cidade do Porto acaba e termina no quebra-mar que faz fronteira com o Terminal de Leixões é ocupado durante todo o ano por praticantes ou aspirantes às várias modalidades náuticas que se ensinam nas várias escolas das imediações.

É do lado Norte, em Leça da Palmeira, à entrada para o Porto de Leixões, que existe outro quebra-mar que brevemente passará por um processo de reestruturação no âmbito das obras de aumento da capacidade e eficiência do porto, orçadas em cerca de 500 milhões de euros — valor adiantado no inicio deste ano pela ministra do Mar, Ana Paula Vitorino.

300 metros de discórdia

De acordo com os primeiros esboços do projecto, o pontão será aumentado em comprimento. São 300 metros de discórdia. Os surfistas, apoiados num relatório do LNEC — Laboratório Nacional de Engenharia Civil divulgado no final do ano passado, dizem que “a onda de Matosinhos” poderá sair prejudicada. A autarquia local diz que está a trabalhar com a APDL — Administração dos Portos do Douro, Leixões para que se chegue a uma solução que beneficie as duas partes.

Esse relatório adianta que na sequência da construção do pontão, as águas ficarão mais estagnadas, o que poderá ter um impacto ao nível da qualidade e da ondulação das mesmas.

Há uma semana, numa manifestação de protesto contra o aumento do quebra-mar, algumas centenas de surfistas juntaram-se no areal da praia para, de forma simbólica, formarem um cordão humano em representação da extensão que o pontão projectado terá.

Solidário com essa causa está Manuel Centeno, um dos campeões “formados” nas ondas de Matosinhos, que se diz preocupado com a situação. Foi campeão nacional, europeu e mundial nos primeiros anos da primeira década de 2000 e foi ali que começou a praticar, quando tinha cerca de 14 anos. É um dos embaixadores da modalidade e do Porto & Matosinhos Wave Series. “Matosinhos é um sítio de referência ao nível da formação de novos praticantes”, afirma. Toda esta questão pode prejudicar o futuro da modalidade nesta área geográfica, receia.

Não é, no entanto, esta a única preocupação do desportista. A modalidade representará uma pequena porção de um “problema maior”. “Há a questão ambiental”, que entende ser a mais importante.

Entretanto, desde o início da semana, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), abriu à participação do público a discussão sobre os impactos ambientais do projecto. Até 29 de Maio, toda a documentação pode ser consultada no site da APA.

Autarquia quer solução equilibrada

Face aos dados agora divulgados sobre a importância que os desportos de mar têm para o sector do turismo no concelho e no país — Portugal é o país da Europa mais procurado por temas ligados ao surf —, a presidente da câmara de Matosinhos, Luísa Salgueiro, diz estar preocupada com a situação. A preocupação alarga-se à questão ambiental. Ainda não teve acesso aos estudos que a APDL terá realizado para a implementação do projecto mas à luz do que tem sido adiantado afirma estar já empenhada na procura de uma solução. De resto, adianta que a autarquia, ainda que existam outros, encomendará igualmente estudos para que seja feita uma comparação em termos de resultados.

Porém, a autarca sublinha a importância dos trabalhos que serão levados a cabo em Leixões,em prol da eficiência e do aumento da capacidade. É por isso que diz estar a trabalhar em conjunto com a APDL e em diálogo com Ana Vitorino para que se chegue a um equilíbrio. “A ideia é chegarmos a um consenso para que ninguém saia prejudicado”, conclui.

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