#PressOn: uma hashtag para salvar o jornalismo

Várias celebridades norte-americanas têm incentivado a subscrição paga de meios de informação de qualidade. O movimento já teve efeitos: o The New York Times atingiu os três milhões de assinantes.

Foto
O New York Times é um dos jornais mais beneficiados pelo movimento Reuters/BRENDAN MCDERMID

As redes sociais têm sido o palco para centenas de utilizadores partilharem o comprovativo das suas subscrições pagas a jornais e revistas norte-americanos. Para provar que o bom jornalismo existe e merece ser financiado, a hashtag #PressOn encontra-se nas principais redes sociais do planeta – sobretudo no Twitter mas também no Facebook e no Instagram. O movimento, que surgiu na quarta-feira, ganhou popularidade ao ser apoiado por personalidades como Ben Stiller, Josh Radner, Zoe Kazan, Mariska Hargitay, Peter Gallagher ou o jogador de basquetebol Shaun Livinston, tendo ainda a aprovação de muitos jornalistas.

Ben Stiller partilhou uma imagem no Twitter em que mostrava que se tinha tornado assinante da ProPublica, o primeiro site noticioso a ganhar um prémio Pulitzer, corria o ano de 2010. Na publicação do actor e realizador norte-americano lia-se: “Todos temos de aceitar as mesmas verdades. Factos são factos. Tornem-se assinantes de um verdadeiro canal jornalístico”, usando a hashtag #PressOn e convidando os seus seguidores a partilharem o recibo de subscrição a um meio noticioso.

Na quinta-feira, 2 de Fevereiro – um dia depois de ter surgido a hashtag –, o The New York Times anunciou que tinha atingido um total de três milhões de assinantes, tanto da edição impressa como digital. “A excelência do nosso jornalismo e o nosso foco no consumidor fez com que a nossa circulação ganhasse uma força incrível”, afirmou o director do jornal, Mark Thompson, em comunicado. No tweet partilhado, existe um agradecimento dedicado às hashtags #PressOn e #FactsMatter, que diz terem potenciado o crescimento das assinaturas.

O primeiro tweet foi o de Jordan Brenner – um jornalista desportivo no site Bleacher Report – que dizia que “o próprio conceito de verdade estava em risco, daí que o jornalismo seja mais importante do que nunca”.

A actriz e escritora Zoe Kazan sublinhou que “precisamos de uma imprensa livre mais do que nunca” e o actor Peter Gallagher escreveu que “há que lutar contra as informações falsas com jornalismo verdadeiro”. O actor da série How I Met your Mother Josh Radnor também diz ser assinante do The New York Times e do The Washington Post por gostar de jornalismo baseado em factos.

Já em Novembro de 2016, John Oliver, o host do Last Week Tonight, alertava as audiências de que se quisessem bom jornalismo tinham de pagar por ele. “Têm de apoiar o jornalismo verdadeiro ao tornarem-se assinantes de meios como o Times, o [Washington] Post, o vosso jornal regional ou doar a grupos como a ProPublica, uma organização sem fins lucrativos que faz trabalhos de investigação excelentes”. Este apelo do apresentador de televisão fez com que o número de doações à ProPublica aumentasse consideravelmente nos dias seguintes.  

Trump e os media

Ultimamente, tem havido um conflito entre os meios de comunicação norte-americanos e o novo Presidente dos EUA, Donald Trump. O novo líder tem criticado os media, acusando alguns meios informativos de serem desonestos e de produzirem “notícias falsas”; também o principal conselheiro de Trump, Stephen Bannon, disse que os media eram a oposição do actual governo e que deviam manter a "boca fechada".

A jornalista Allison Glock contou ao Washington Post que a hashtag #PressOn começou através de uma mensagem em cadeia entre pessoas que estavam “preocupadas com a situação política e cultural actual”, inquietas com a descredibilização dos media, não considerando que este movimento seja “uma questão partidária”. A jornalista disse que era importante que os meios de comunicação social fossem estáveis, livres e “ao serviço dos factos e não da agenda [política]”.

Por outro lado, o chefe de gabinete de Trump, Reince Preibus, acredita que “desde o primeiro dia que os media estão a falar em tirar legitimidade à eleição”. A secretária de imprensa da Casa Branca, Kellyanne Conway, foi a um programa da NBC defender que a equipa da Casa Branca trabalha com “factos alternativos”, ao que o apresentador do programa respondeu que “factos alternativos não são factos. São falsidades”.

Na primeira conferência de imprensa oficial, o novo porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, criticou os media pela cobertura que considerou ser parcial e inviesada da tomada de posse de Donald Trump, garantido que tinha estado presente na cerimónia “a maior audiência de sempre” (o que é mentira).

Sugerir correcção
Ler 1 comentários